"Arbitragem está pior em todos os aspetos. CA não fez nada em sete anos"

7 meses atrás 57

Esta quinta-feira trouxe grandes novidades no que toca à arbitragem, em Portugal. O Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol recebeu luz verde por parte da FIFA para implementar uma nova tecnologia que permita aos árbitros explicar, através de um sistema de áudio, as decisões tomadas após recurso ao monitor do VAR, alto e em bom som. 

Uma medida semelhante àquilo que já acontece noutros desportos, como no rugby, utilizado no último mundial da modalidade, ou na NBA, a liga americana de basquetebol. 

No futebol, o Mundial feminino de 2023, organizado por Nova Zelândia e Austrália, serviu de 'balão de ensaio' para este sistema. Pedro Henriques, antigo árbitro da Associação de Futebol de Lisboa, diz que esta é uma boa medida, que permite ao futebol português estar na vanguarda, mas aponta algumas preocupações, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto.

"No princípio, esta medida não correu bem, porque os árbitros equivocaram-se. No Mundial feminino, iam ao VAR, chegavam ao monitor e diziam 'vou marcar penálti'. Isso toda a gente consegue ver. Depois passou-se à fase seguinte, que era explicar o porquê. Isto já foi um primeiro passo", começa por analisar Pedro Henriques.  

"É uma boa medida. Portugal foi um dos primeiros países no mundo em que se experimentou o VAR. Agora, é mais um passo em frente, porque é o futuro. Às vezes, há lances, sobretudo no estádio, em que não se percebe o porquê da decisão. E aí, com o novo sistema, o árbitro explica porque jogou a bola com a mão, porque agarrou um jogador, imaginemos", exemplifica o árbitro retirado desde 2010.

"Tem de haver uniformidade na maneira de comunicar, senão..."

A medida dirige-se a lances em que o árbitro se dirija à zona de revisão do VAR e de "revisão factual", por exemplo foras-de-jogo ou infrações cometidas dentro ou fora da área, segundo comunicado emitido pela FPF. Como em todas as medidas, há prós e contras. Pedro Henriques não deixa esquecer que as grandes assimetrias económicas, entre os 'três grandes' e os clubes de II Liga, podem afetar a implementação da medida. 

"Temos estádios em que as pessoas estão à chuva, as condições não são as melhores. Todo o sistema sonoro será fácil de instalar? Em estádios como o de Alvalade, é capaz de ser, mas outros são mais complexos", começa. Depois, Henriques enfatiza a questão da formação dos árbitros.

"Como é que os árbitros vão ser preparados? Quando começamos com os intercomunicadores, em 2007, lembro-me da quantidade de asneiras e de erros que cometemos por não ter havido qualquer tipo de formação. Nós queremos ser os primeiros em tudo, vamos de cabeça, mas esquecemos de pormenores. Um árbitro diz, na Luz, que é penálti por mão, imaginemos, outro diz, no Dragão, que é por mão e volumetria... Tem de haver uniformidade na maneira de comunicar, se não, vamos ter mais um problema acrescido", diz o atual comentador de arbitragem. 

Conselho de Arbitragem não fez absolutamente nada. A arbitragem está pior em todos os aspetosEm seguida, Henriques aponta outro problema que não é responsabilidade, propriamente, dos árbitros, mas da comunicação social, onde já são analisados os áudios da comunicação entre o VAR e a arbitragem no relvado em lances capitais, num programa da Sport TV. Agora, esta comunicação pode trazer mais 'achas para a fogueira'. 

"Dou o exemplo da expulsão do Pepe [contra o Sporting, em dezembro]. Olha que o Matheus Reis provocou o Pepe e merece amarelo, embora o árbitro não tenha feito. O João Ferreira [vice-presidente do CA], quando vai à televisão, faz um en passant sobre aquilo, não explica de forma clara e evidente, porque não tem essa capacidade. Devia ter dito que alertar para o amarelo faz parte do protocolo. Quando abri determinado canal, vi pessoas que não percebem nada de arbitragem, em representação dos clubes, a dizerem que Tiago Martins se tinha excedido, por ser o VAR. Isto é para humanizar, não tenho dúvidas, mas se a comunicação não for clara, dará azo a críticas", avisa.

E, em jeito de nota final, Pedro Henriques deixa mais uma crítica, dirigida diretamente ao Conselho de Arbitragem. "Parece a junta de freguesia de onde moro. No último de quatro anos de mandato, começa a alcatroar as estradas. Estão há sete anos à frente do Conselho de Arbitragem e não fizeram absolutamente nada. A arbitragem está pior em todos os aspetos. De vez em quando, lançam um programa de VAR's, um programa para captação de árbitros todas as medidas numa luta de sobrevivência. O Presidente da FPF está quase a terminar mandato e, normalmente, vai-se buscar uma cara nova no Conselho de Arbitragem. Estão numa luta de sobrevivência. A última imagem é que conta", termina. 

Em suma, uma medida positiva, na visão de Pedro Henriques, mas com algumas ressalvas que necessitam de estar em conta. Ainda não há data oficial para a implementação em Portugal, mas está prevista para breve uma fase de testes. Destinar-se-á às ligas profissionais, Liga BPI, Taça da Liga, Taça de Portugal, Supertaça e fase final da Liga 3. 

Leia Também: Árbitros vão explicar-se ao vivo. FPF revela como tudo irá funcionar

Leia Também: Sporting aplaude explicações de árbitros nos estádios: "Evolução natural"

Todas as Notícias. Ao Minuto.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online.
Descarregue a nossa App gratuita.

Apple Store Download Google Play Download

Ler artigo completo