O músico morreu hoje de madrugada, na sua casa, em Lisboa, aos 75 anos, vítima de doença prolongada, disse à agência Lusa o seu agente artístico.
Numa nota enviada à comunicação social, o BE considera que Fausto foi "um dos maiores nomes da música portuguesa" e recorda o seu trajeto musical, realçando que lançou o primeiro disco ainda durante a ditadura.
"Fausto Bordalo Dias faleceu esta segunda-feira, aos 75 anos. Deixa um importante contributo cívico e político e dezenas de canções que continuarão a acompanhar e inspirar lutas pela igualdade, pela justiça e pela emancipação. O BE lamenta o falecimento de Fausto Bordalo Dias e endereça à família e amigos as mais sentidas condolências", lê-se na nota.
O BE - partido que juntou UDP, PSR e Política XXI - salienta que Fausto participou "com a sua intervenção e a sua música" no período revolucionário após o 25 de Abril de 1974, "ajudando a fundar o Grupo de Ação Cultural -- Vozes na Luta (GAC), criado em sua casa".
"Além da intervenção musical, Fausto Bordalo Dias empenhou-se em diversas lutas", acrescenta o BE.
De acordo com o partido, o músico "assumiu a defesa da escola pública, opôs-se ao nuclear, criticou a humilhação pelas praxes académicas, lutou pela memória da resistência ao fascismo, defendeu a despenalização da morte assistida".
"Desde 1999, apoiou as candidaturas do BE em diversas eleições, incluindo nas legislativas de março deste ano", refere ainda o partido.
Entre a obra musical de Fausto, o BE destaca os álbuns "Pró que Der e Vier", de 1974, e "Por Este Rio Acima", de 1982, primeiro de uma trilogia sobre a história da expansão portuguesa completada com "Crónicas da Terra Ardente", em 1994, e "Em busca das Montanhas Azuis", em 2011, e lembra o seu último concerto, na Aula Magna, em 2022.
Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu em 26 de novembro de 1948, em pleno oceano Atlântico, a bordo de um navio chamado Pátria, que viajava para Angola, onde viveu a infância e a adolescência e começou a interessar-se por música, assimilando os ritmos africanos, que conjugaria com ritmos e modos da tradição popular portuguesa.
O seu primeiro grupo, porém, integrava-se no movimento 'pop' dos anos 60 e tinha por nome Os Rebeldes.
Fixou-se em Lisboa em 1968, quando entrou no antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual ISCSP - Universidade de Lisboa, para se licenciar em Ciências Sócio-Políticas.
A adesão ao movimento associativo aproxima-o de compositores como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais tarde, de José Mário Branco e Luís Cília, que já viviam no exílio.
É nessa época que grava "Chora, amigo chora", que em 1969 lhe deu o Prémio Revelação do antigo programa de rádio Página Um, transmitido pela Rádio Renascença.
"Pró que Der e Vier" (1974) e "Beco sem Saída" (1975) contam-se os seus dois trabalhos iniciais em período revolucionário.
A esses seguiram-se "Madrugada dos Trapeiros" (1977), que inclui a canção "Rosalinda", "Histórias de Viageiros" (1979), que abre já caminha a "Por Este Rio Acima" (1982), o seu grande sucesso, inspirado na obra "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto.
Com "Para Além das Cordilheiras" (1989) venceu o Prémio José Afonso.
"O Despertar dos Alquimistas", "A Preto e Branco", "Crónicas da Terra Ardente" são outros dos seus álbuns.
Em 2003 compôs "A Ópera Mágica do Cantor Maldito" (2003), uma perspetiva sobre a história portuguesa pós-25 de Abril.
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