Rafael Lisboa: «O meu sonho é um dia jogar na Liga ACB»

2 meses atrás 14

Visto como um dos líderes da nova geração de talentos nacionais, Rafael Lisboa deixou o conforto da sua casa e do «seu» Benfica e fez-se à estrada, partindo para a sua 4ª temporada internacional, entre Bélgica e Espanha, com o sonho de chegar à Liga ACB - principal escalão do basquetebol espanhol.

Aos 24 anos, mudou de clube em Espanha e será treinado por Moncho López, antigo selecionador nacional português e treinador do FC Porto, no Ourense, da Primeira FEB - segunda divisão do basquetebol espanhol. Esteve à conversa com o zerozero e, além de recordar a conquista do EuroBasket Sub-20, por Portugal, falou sobre a sua carreira, o seu futuro, sonhos e o amigo Neemias Queta.

@FPB

Zerozero (ZZ): Mudaste agora de clube em Espanha. A que se deveu esta escolha?

Rafael Lisboa (RL): Apresentaram-me o projeto e é um projeto com ambição e sustentado. É uma equipa que tem histórico e isso é importante. Sei que o Moncho, e várias eles ele o disse publicamente, gostava de mim como jogador e sentir a vontade do clube e do treinador de me querer dá mais vontade. Todos os jogadores gostam de estar em cenários onde se sentem valorizados e queridos. Foi um grande ponto para decidir mudar-me. É um clube certo para mim. Está tudo montado para ser um ano bom ano para mim, de afirmação na liga. Todas as condições, projeto, treinador, ajudou. Todos me dizem coisas boas de lá.

ZZ: Vais ser treinado pelo Moncho López. Ajudou na decisão? Teve algum papel na mesma?

RL: Tive uma conversa com ele. É um treinador que me conhece há vários anos, que me defrontou várias vezes. Sei que gosta de mim. É importante. Não há nenhum treinador na liga que me conheça melhor do que ele e saiba como tirar o melhor de mim como ele. Foi, sem dúvida, importante para eu aceitar a oferta.

ZZ: Cada vez mais temos jogadores portugueses em Espanha, tanto na ACB, como o Travante e o Prey, como na LEB Ouro e LEB Prata - u, Amarante, Vlad, Diogo Brito. É prova que estamos a crescer ao nível do jogador luso ou sentes que vocês também estão mais à procura de mercados fora de Portugal?

É presença assídua na seleção @FPB

RL: É uma mistura dos dois. Quando saí de Portugal, o Diogo Brito tinha ido para a LEB Prata, tínhamos o Neemias, o Prey ainda não tinha aparecido, embora já se soubesse quem ele era, o Travante estava no Sporting. Não havia ninguém a jogar fora de Portugal. O jogador português começou a estar disposto a sair e a desafiar-se e depois, com a ajuda da nossa seleção obter melhores resultados e conseguir ser consistente com equipas boas, além da boa prestação dos nossos jogadores nos seus campeonatos, dá mais reconhecimento. Mas acho que no início teve que haver o desafio. Na altura não se conhecia muito. O mais difícil é sair. Quando se sai, as coisas começam a correr e as oportunidades vão surgindo. A mentalidade e a vontade dos jogadores saírem, hoje em dia, é maior, porque veem que somos consistentes a fazer uma carreira lá fora. É uma junção dos dois, entre a qualidade e o desafio de sair à descoberta.

ZZ: Depois de vários anos cá, já estiveste na Bélgica e Espanha. Quais as maiores diferenças que encontraste ao nível do basket praticado?

RL: Já estive em três cenários diferentes. O meu cenário em Portugal, no Benfica, em termos de condições é outro nível. É um clube enorme. Acredito que os outros grandes ofereçam condições semelhantes. Está ao nível dos melhores sítios na Europa. Senti diferenças nos outros países. Cada um com a sua particularidade. A liga da Bélgica, comparando com a LEB Oro e o clube onde estava, é mais profissional, 100 por cento profissional e fechada. Todos os jogadores são profissionais, todas as equipas oferecem casa e carro aos jogadores. Experienciei algo que nunca tinha vivenciado lá, que é cada equipa ter um centro de treinos. Não treinam no pavilhão onde jogam. Não existe essa prática em Portugal, nem onde estava em Espanha. Em termos de basket, em Espanha é mais tático, é um país de basket. É uma liga homogénea, onde todos são muito competitivos. Não é um dado adquirido ganhar o jogo do fim de semana, seja contra quem for, se não te preparares. Senti o mesmo no Bélgica. Acho que, hoje em dia, a liga em Portugal está mais competitiva do que quando saí, há quatro anos. Na Bélgica é mais um para um, rápido e físico. Na LEB Ouro preocupam-se muito com o scouting, com conhecer o jogador, não é fácil fazer muitos e grandes números – as equipas conhecem-se muito bem. Durante a semana de treinos, consumimos ao máximo o adversário, como anulá-lo e como atacar, é muito ao detalhe. Na Bélgica, o jogador é mais atlético, físico, rápido, mais de contra-ataque e próximo do francês. Hoje em dia, a liga portuguesa é mais homogénea, mais competitiva, os jogadores são melhores, mas é complicado comparar, porque não a estou a viver agora.

ZZ: Foram muitos anos ligado ao Benfica, entre formação e equipa sénior. Foi difícil sair?

RL: Claro que foi. Na altura, foi a decisão mais complicada. Eu sabia que era o que queria em termos de carreira, mas não foi fácil. Não foi só em termos de basket. O Benfica para mim é muito mais do que isso, porque foi ali que eu escrevi. Cheguei ao Benfica com quatro anos, a jogar nos miúdos e saí com 20 anos. Foram muitos anos. Foi todo o crescimento basquetebolístico e como pessoa. Todas as etapas da adolescência eu vivi ali. As pessoas que me viram crescer, o conforto da casa, o treino. Foi o sítio que acreditou em mim e me deu a oportunidade de ser profissional. Foi uma casa para mim e sair de casa nunca é fácil.

ZZ: Vês-te a regressar a Portugal num futuro próximo?

Rafael Lisboa cresceu no Benfica @FPB

RL: A minha prioridade agora é dar o meu melhor para continuar o máximo de anos a fazer a minha carreira e a alcançar os objetivos que tenho no estrangeiro. Claro que tenho o objetivo de voltar e fazer a minha vida em Portugal. Não é que nunca mais queira voltar. Quero um dia ter a minha vida “normal” em Portugal e isso passará por voltar. Agora, quando não sei e não estou focado em voltar, mas sim em chegar o mais longe possível e em lutar pelos meus sonhos e objetivos

ZZ: Tens 24 anos. Que objetivos tens para a tua carreira nos próximos anos?

RL: O meu sonho, desde que saí, e que tem guiado todo este caminho que tenho feito, é um dia jogar na ACB. Se um dia vou conseguir ou não, não sei. Não é fácil, mas o Diogo Brito esteve perto. Com calma, paciência, trabalho e fazer as decisões certas, e alguma sorte, pode ser que consiga. Mais do que isso, quero poder chegar ao fim e saber que dei o meu melhor. Se não chegar à melhor equipa, apenas atrás da NBA, não é por isso que vou ter uma má carreira.

ZZ: Vês-te a seguir as pisadas do teu pai e daqui a (muitos) anos ser treinador?

RL: Se me perguntares agora se me vejo como treinador, digo que não. Não sei se daqui a 10 anos será igual. Espero jogar até tarde. Se deixar de jogar até aos 38 anos, faltam 14 anos. É muito tempo. Hoje em dia não é algo que goste. Não acho que tenho perfil para ser treinador. Muita coisa para me preocupar [risos]. Gosto de basket, do contacto com os miúdos e de ensinar, mas mais numa perspetiva individual.

Neemias vs LeBron? «Quero que ele ganhe sempre»

Rafael atento ao amigo Neemias @NBA

ZZ: Como tens visto o sucesso do Neemias na NBA? Falaram recentemente, depois dele ser campeão?

RL: É um orgulho. Desde que ele foi campeão, ainda não tive a oportunidade de falar efetivamente com ele. Ele esteve cá, mas eu estava na seleção e ele voltou para jogar a Summer League com os Boston Celtics. Não tive essa oportunidade. Para mim, ver um português e um amigo meu, conquistar a maior liga do mundo de basket, ganhar um anel, ser o primeiro português lá e a ganhar o campeonato, assinar um contrato de vários anos e solidificar-se como jogador da liga, é um orgulho. Fico extremamente contente. Todos os dias torço para que corra bem e nos possa ajudar na seleção. A única altura que pode é no verão e esperemos que se junte a nós no próximo, no EuroBasket.

ZZ: Costumas ver os jogos dele ou a hora não ajuda? És adepto dos Celtics?

RL: Antes dele lá estar, e continuo, sempre fui adepto do LeBron James. Onde quer que ele esteja, é quem apoio. Para mim, a final ideal era Lakers x Celtics…

ZZ: Quem é que apoiavas aí?

RL: Apoiava os Celtics, porque quero que ele ganhe sempre. Não tenho por hábito ver os jogos, mas quando sei que fez um bom jogo e jogou alguns minutos, vou logo ver. Lembro-me de ver o jogo todo dele no dia de Natal (115-126), que foi a horas “normais”.

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