Regras de convivência

9 meses atrás 87

Falei-vos uma vez de formas de cumprimentos e de questões morais a elas ligadas. Um destes dias, alertado por uma visita que fiz, resolvi escrever agora sobre algumas regras de convivência que estão a desaparecer e que para a maioria são absolutamente secundárias. Numa análise mais aprofundada, creio que não o são.

Uma pessoa mais velha do que eu e que conheço desde que nasci estava rodeada de três netos pequenos quando a visitei o outro dia. As crianças, já todas no colégio, mas ainda de férias, tinham ido passar a tarde com a avó. Esta, quando eu entrei, indicou-me as crianças e disse-lhes quem eu era. Nem desviaram os olhos dos seus telefones com os quais se entretinham. Continuaram impassíveis.

Tinham, como verifiquei ao longo da minha visita, um ar simpático, mas não tinham, era um facto, a mínima noção da convivência, coisa que se espera de pessoas com a idade deles ou, pelo menos, que não se surpreendam quando os adultos os mandam cumprimentar as pessoas, coisa que a avó não fez explicitamente, é preciso dizê-lo em abono da verdade, mas, com franqueza, ficarem assim indiferentes sentados com os seus entretenimentos…?! Choca-me, mas já não estranho.

Chegamos ao nó da questão. A avó é uma pessoa do género de dizer “meninos: poisem os telefones e venham falar ao…”. Não o fez. Será que era para não contrariar alguma “pedagogia” dos pais? Bem, não sei nem nunca saberei, porém, já vi pais tolerantes deste género de atitudes por preguiça/cansaço ou por convicção.

A análise psicossociológica deste comportamento só pode ser encontrada dentro de princípios com a aparência de princípios livres, mas que, como veremos, não o são porque as regras sociais são necessárias para que uma sociedade viva harmoniosa e justa.

Deixar as crianças com uma sensação de liberdade fingida e deixá-las crescer na ilusão de que podem fazer tudo é um erro porque, na realidade, sabemos bem que não é assim, com a agravante que da adolescência para a frente essas que agora são crianças vão pensar no futuro que: “quase nunca me obrigaram a fazer nada, a vida é fácil; ah, este governo quer eu aja assim? Então está bem!” E isto sem raciocinar. Eis o robot versus homem! Eis o resultado de uma educação aparentemente livre!

Outro ângulo da questão que convém alegar, sob pena de não esclarecer dúvidas pendentes: a questão das classes. Há quem diga que regras de convivência como esta de que falamos são preciosismos das classes mais altas para se distinguirem das outras.

Em primeiro lugar, devo dizer que “levante-se” ou “levanta-te para falar a…” já vi e ouvi a todas as classes sociais, portanto, não são exclusividade de nenhuma; em segundo, desde o modernismo de sala que se instalou nas décadas de 70/80, se eu tivesse feito um estudo dessa época até à actualidade, teria concluído que os adeptos do “deixar estar as crianças entre os adultos mas sem os apresentar”, logo, sem os mandar levantar quando estes chegam, são pessoas da chamada pequena burguesia, enquanto que nas classes mais altas e nas mais baixas as crianças levantam-se para cumprimentar os adultos.

Podem-me dizer que estas serão as classes mais conservadoras. É possível, mas a questão do conservadorismo é um tema cruzado. Há o conservadorismo político, racial, económico, social, moral, hipócrita, de etiqueta. Não encaixam a pequena burguesia em nenhum destes?

Tal como a Arte, as regras de convivência tornam a vida mais suportável porque mais bela. Note-se que tudo isto vale por cima do mais.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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