REPORTAGEM | Após ordem de despejo, CAC teme o pior: «Não temos alternativa para esta época»

1 mes atrás 66

Em Portugal, a temporada 24/25 começou, oficialmente, no passado sábado, com a emotiva Supertaça Cândido de Oliveira. Desde então - e até ao final do corrente mês -, vários clubes ultimam detalhes, limam arestas para a época que, como habitual, se avizinha longa e complicada. Cenário comum a incontáveis clubes, da I Liga aos distritais. Contudo, há um que foge à regra: entre várias dificuldades, o Clube Atlético e Cultural da Pontinha recebeu ordem de despejo da casa emprestada e tem a temporada em risco. 

O cenário recente não é animador. Desde promessas por cumprir ao terreno que foi casa emprestada e que agora se tornou pesadelo, sem esquecer a vontade que mantém o clube, ainda que frágil, vivo. Este é o preocupante ponto de situação do CAC.

Para percebê-lo melhor e expô-lo com rigor, o zerozero falou com o presidente do clube, António Roque. A voz não deixou espaço para segundas interpretações: o caso é preocupante, aflitivo para os responsáveis, que, no meio da penumbra, estão desesperados por uma resposta que indicie um desfecho positivo.

Um caso explicado por dois executivos

«Tudo começou quando deitaram [a Câmara Municipal de Lisboa] o nosso complexo desportivo abaixo para fazer a feira popular. Por isso, as promessas já vêm desde 2016, por volta disso», começou por dizer.

«Estamos há seis anos em Odivelas, no Sindicato dos Jogadores. Sempre com a promessa de ter um complexo desportivo construido no ano seguinte. Tem existido um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Sindicato dos Jogadore, para pagar uma renda. Apesar de a CML nunca ter cumprido com o prometido [construir um complexo novo], o executivo anterior nunca deixou ir até ao ponto de não renovarem o acordo [com o Sindicato dos Jogadores]: ou seja, antes de acabar o protocolo, preocupavam-se em renovar, para que tudo continuasse», clarificou António Roque.

António Roque no 50º aniversário do clube @Clube Atlético e Cultural

«Com este executivo atual, no primeiro ano, as coisas complicaram-se. A desculpa que nos deram foi que não sabiam que o protocolo tinha de ser renovado anualmente, pensavam ser algo automático. No ano passado, já sabiam que tinha de ser renovado todos os anos e foi até à última, tivemos de adiar uma série de vezes o começo da época. Este ano, até este momento, não existe rigorosamente nada: nem protocolo, nem campo, nem sabemos se vamos iniciar a época desportiva. Não temos nada», continuou.

«Aliás, temos uma coisa: ordem de despejo, desde o dia 26 de julho. O protocolo acabou no dia 30 de junho e o Sindicato deu até dia 26 para sair. Estamos completamente parados, não sabemos o que nos vai acontecer. Quando isto saiu para a comunicação social, a Câmara reagiu minimamente: na semana passada, na reunião de Câmara, o Presidente Carlos Moedas disse que, até sexta-feira passada, o clube ia ter informação do que se ia passar. É quarta-feira e até agora nada», concluiu, desta forma, a explicação do caso.

Como não poderia deixar de ser, a conversa continuou e, entre desabafos, António Roque lamuriou: «Estou quase sozinho nesta luta. A verdade é essa. Acho que as pessoas têm medo de se juntarem a casos destes, por retaliações futuras. É a única relação que eu vejo. Está tudo calado.»

O clube e o temível futuro 

De modo a aligeirar o ambiente, falámos de um dos pilares do CAC: o Torneio Internacional da Pontinha, prova carismática do futebol de formação em Portugal, que reúne vários jovens talentos. Apesar das dificuldades, o torneio tem acontecido e qualidade mantém-se: «Temos tido dificuldades, claro. As coisas estão mais caras e os apoios são cada vez menos, mas, como a organização tem sido um habitué, tem sido feito... Nos últimos dois anos, tivemos o Pedro Proença como patrono e as edições foram um grande êxito».

Ainda assim, o CAC não é só futebol, como fez questão de mencionar António Roque: «Estamos a apostar no desporto adaptado: futebol para cegos e goalball. Acabámos de subir à primeira divisão de xadrez, que é um feito inédito no clube - ao contrário de clubes grandes, com grandes apostas nessa modalidade, que tiveram quase a descer. Isso tudo e pronto... Estamos numa situação destas. Nada fizemos para que destruíssem o nosso campo; quiseram destruir o nosso campo para meter lá a feira popular que nunca existiu - nem vai existir - e continuamos assim. Neste momento, não tenho alternativa para esta época.»

Em homenagem ao goalball, a mascote do clube usa uma venda @Clube Atlético e Cultural

Com o problema explanado, António Roque começou a levantar o véu sobre a próxima temporada: «O caso está mal parado. Não sei, não faço a mínima ideia. Não tenho perspetivas rigorosamente nenhumas. Podia dizer "há a hipótese de...", "se's", mas não. A única coisa que sei é que tenho ordem de despejo do Sindicato e não tenho resposta nenhuma da CML».

«Temos um problema gravíssimo, também, com a fisioterapia. Tínhamos as coisas mais ou menos programadas, mas quem ia fazer a fisioterapia acabou de renunciar, porque não pode estar à espera que o clube decida se vai continuar ou não. Com propostas do outro lado, o desfecho foi o que foi...», notou.

Parte fundamental e imprescindível em cada clube prende-se com os atletas, outro dossiê que preocupa, naturalmente, António Roque: «Tínhamos perto de 400 atletas, mas agora não sei. Possivelmente, com esta confusão, alguns deles devem ter andado à procura de outros clubes e já devem lá estar».

Com um sentimento de injustiça e impotência, o presidente do CAC concluiu: «Somos um clube estável a nível financeiro. Tenho conhecimento de clubes com graves problemas, dívidas até dizer "chega", que continuam a ser apoiados e a funcionar... Nós aqui, com uma situação estável, e com promessas por cumprir... Custa muito».

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