REPORTAGEM | De 2004, do Algarve e de muito talento: «Querem fazer história no futebol»

6 meses atrás 48

Em níveis de afirmação distintos, mas dois dos jovens em maior destaque na presente edição da Liga Portugal Betclic. Companheiros de origens, geração e setor, João Neves e Mateus Fernandes são dois exemplos do brilhante futuro que se perspetiva ao futebol português.

Se o camisola 87 do Benfica tem confirmado os sinais de excelências revelados na última época - a presença no próximo Europeu parece garantida -, Mateus Fernandes tem aproveitado da melhor forma o empréstimo ao Estoril Praia e encara com otimismo um regresso em força ao Sporting. 

Joaquim Milheiro trabalhou com ambos nas seleções jovens lusas, onde acompanhou a geração de 2004 dos Sub-15 aos Sub-19. Com notório carinho por estes «craques», recorda ao zerozero as personalidades, talentos e experiências vividas juntos dos meninos algarvios.

Em semana de clássico, momento perfeito para conhecer mais sobre estes jogadores.

Joaquim Milheiro está inserido na estrutura da federação do Catar @FPF

«O João sempre foi interessado em tudo»

Com carinho em falar de dois jogadores «que gosta muito», Joaquim Milheiro rapidamente destacou o aspeto humano e mental dos dois jovens, além da capacidade notória revelada em cada partida por ambos.

«Sou um treinador felizardo por apanhar jogadores como o Mateus Fernandes e o João Neves. Além do visível talento, sempre altamente envolvidos com o processo e com vontade de fazerem uma bonita história no futebol. Tenho muito orgulho e uma grande honra em ter estado com eles nas seleções nacionais. Excelentes também no lado humano em todos os contactos e experiências que tivemos.»

«Estão a potenciar as principais capacidades que sempre tiveram. Ambiciosos e comprometidos. Noto crescimento, claro. Interpretam melhor o lado estratégico do jogo, natural com a maturidade competitiva que têm ganho. Eles têm criado as oportunidades», começou-nos por revelar.

Desafiado a falar primeiro do menino de ouro da Luz, o técnico confirma ter tido em mãos um «fenómeno». Ao talento juntaram-se desde cedo a inteligência, a raça e a ética de trabalho fundamentais para singrar no futebol.

«O João sempre foi interessado em tudo. Vontade de perceber e questionar o porquê das coisas. Focadíssimo. Lembro-me de estar a reforçar ideias anteriormente explicadas antes de um treino e ele, um pouco tímido, soltar um "já sabemos, mister". Podia ser brincadeira ou até pouca vontade de perceber os exercícios, mas ele sabia mesmo e não queria era perder tempo.»

«São pequenos pormenores, no entanto, revelam o comprometimento dele e a concentração aos detalhes. A paixão em perceber o mais rápido possível as coisas», revelou, com palavras de seguida para a fibra, mental e física, de João.

«Revejo-me nas palavras do João com 14 anos. Percebeu algumas debilidades e encontrou soluções para o problema. A inteligência tem sido um grande segredo do seu sucesso. Qualidade técnica e uma capacidade de antecipação que permite ultrapassar desafios a cada jogo de uma forma pouco normal. Mesmo não tendo uma grande estatura, o João sempre foi intenso e não tinha problema em, no bom sentido, morder a língua (risos).»

«Fisicamente está robusto e é um rapaz fibrado. Nota-se na capacidade que manteve nos duelos na transição para o futebol sénior. E outro ponto importante: uma capacidade fantástica no jogo aéreo. Impressionante para a altura dele. Chamei-lhe muitas vezes de Air Neves (risos)», afirmou.

«O Mateus é classe, inteligência em movimento»

Ao contrario do colega, Mateus Fernandes demorou mais a integrar os trabalhos das seleções jovens portuguesas. Prova, para Joaquim Milheiro, dos diferentes momentos de maturação de cada atleta e o espaço em aberto a cada convocatória.

«O Mateus fez durante muito tempo parte da matriz de elite de atletas que podiam integrar as seleções. Ganhou maturidade e consistência no seu clube no escalão de Sub-16 e era para ser chamado, mas chegou a Pandemia. Acaba por integrar em estágio a seleção de Sub-17.»

«No Torneio de Limoges, nos Sub-18, completou as primeiras internacionalizações e esteve em elevada qualidade. Rapidamente os dois saltaram de escalão e estiveram com a geração de 2003. São caminhos diferentes e provam que o espaço de seleção está sempre aberto. Os desempenhos e o talento contam», garantiu.

Elogios não faltaram às capacidades do jovem leão emprestado ao Estoril Praia, num raio-x que destaca aptidões como a condução de bola e a meia distância.

«O Mateus joga no silêncio (risos). É um "Pezinhos de lã" que conduz a bola num espaço muito difícil, a zona central. Classe, inteligência em movimento. Mais reservado, mas grande concentração nas tarefas. Muita capacidade de remate e de gerir os tempos de jogo. Executa também muito bem bolas paradas. São os seus traços dominantes», disse Joaquim Milheiro, abordando depois os diferentes caminhos de afirmação dos atletas.

«É engraçado serem dois jogadores de elevado potencial, contudo, a seguirem caminhos completamente distintos e válidos. A afirmação do João é superior neste momento, óbvio. Titular no Benfica e internacional A, carimbos de elevada qualidade.»

«[João Neves] Teve grande progressão interna no clube em que fez formação. Permitiu-lhe estabilidade. É um lutador nato e preparou-se para agarrar as oportunidades que conquistou. O alto nível é bastante seletivo e isto não é um acaso.»

«O Mateus evoluiu muito bem no Sporting e esteve em grande na equipa B. Não conseguiu tempo de jogo na equipa principal, numa idade em que ter minutos é de muita importância e marca a diferença. Esta mudança para um contexto diferente foi um passo em frente. O Estoril Praia parece-me um clube estruturado e o Mateus defende com tudo a camisola.»

«Acredito que, com naturalidade, vai regressar ao Sporting. O sucesso não tem só um caminho e a gestão de carreira é muito importante», analisou.

Com o período de formação afetado pela pandemia da Covid-19, João Neves e Mateus Fernandes ultrapassaram as adversidades desses tempos e estão num alto nível, aspeto que deixa o selecionador particularmente orgulhoso.

«[Covid-19] Roubou a estes jogadores experiências marcantes, seja de jogos, estágios ou competições. Felizmente foi um momento ultrapassado e eles estão a conseguir alimentar os seus sonhos. O futebol é a paixão deles. Tiveram uma enorme capacidade de resiliência para ultrapassar essas dificuldades. O João e o Mateus são rostos de umas gerações de vencedores», concluiu.

João Neves marcou nos últimos clássicos entre leões e águias @Kapta+

Portugal

João Neves

NomeJoão Pedro Gonçalves Neves

Nascimento/Idade2004-09-27(19 anos)

Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoMédio (Médio Centro)

 Vitória SC x Benfica

 Benfica x Gil Vicente

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