Rubem Braga, o grande mestre da crónica do Brasil

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6 janeiro 2024 12:26

O Rio de Janeiro, com as suas idiossincrasias, o fervilhar das suas ruas e gentes, foi um dos temas fixados nas prosas de Rubem Braga

earl leaf/michael ochs archives/getty images

Reunião de alguns dos melhores textos de Rubem Braga, “Desculpem Tocar no Assunto” é uma preciosa antologia que revela a genialidade simples e o fulgor verbal de um grande cronista

6 janeiro 2024 12:26

Ao telefone, uma “moça” jornalista pede ajuda a Rubem Braga para um artigo que vai escrever sobre crónicas e cronistas. Delicadamente, Rubem dá-lhe para trás, declara-se “fraco de ideias no momento”, mas acaba por refletir sobre o assunto. E assim começa, muito ao seu jeito, mais uma crónica. Aconteceu algo no seu dia que o atira para dentro da escrita e lá vai ele, meio à solta, a ver onde a correnteza de palavras o leva. Neste caso, e apesar da escassa vontade, acaba por oferecer à interlocutora uma explicação muito vívida do modo como encara o seu ofício: “Às vezes a gente parece que finge que trabalha; o leitor lê a crónica e no fim chega à conclusão de que não temos assunto. Erro dele. Quando não tenho nenhum frete a fazer, sempre carrego alguma coisa, que é o peso de minha alma; e olhem lá que não é pouco.”

Nascido em 1913, em Cachoeiro de Itapemirim, Rubem Braga começou a escrever nos jornais aos 15 anos. Durante mais de seis décadas, até à sua morte em 1990, escreveu milhares de colunas diárias e semanais com que ganhou, não só a admiração dos seus leitores fiéis, mas o respeito dos outros praticantes deste género literário. De Machado de Assis a Carlos Drummond de Andrade, de Lima Barreto a João do Rio, de Nelson Rodrigues a Clarice Lispector, a tradição da crónica é fortíssima no Brasil. Rubem Braga, porém, será porventura o único, entre os nomes maiores da literatura brasileira do século XX, que se dedicou exclusivamente a esta espécie de arte nómada, como ele a definiu num texto de 1951: “Há homens que são escritores e fazem livros que são como verdadeiras casas, e ficam. Mas o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai.”

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