"Não é nenhum 'post scriptum', mas espero, já agora, que o meu sucessor, se não conseguir arranjar um vereador da Cultura, que seja uma pessoa capaz de encarnar esse papel, porque isso dá-nos a garantia de que a revolução vai continuar, ou seja, que vamos ter uma cidade em que dizemos abertamente, claramente, para quem goste e para quem não goste, [que] o pilar fundamental das nossas políticas tem que ser a Cultura, porque é isso que nos diferencia", disse hoje Rui Moreira.
O autarca independente do Porto, que não se poderá recandidatar nas eleições autárquicas de 2025, falava hoje na apresentação do programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril intitulado "Revolução, já!", que decorreu hoje no Palácio dos Viscondes de Balsemão, na Praça Carlos Alberto, e que contou com a presença dos curadores Jorge Sobrado e José Augusto Bragança de Miranda.
Para Rui Moreira, a cidade observou "um epifenómeno cultural ali entre 1999 e 2001/2002", com a Capital Europeia da Cultura em 2001, "e depois o Porto entrou em ressaca".
"O que eu não queria é que o Porto entrasse em ressaca. O meu sonho é que não haja ressacas. Que possamos divertir-nos, que possamos entreter-nos, que possamos discutir, divergir, mas não entremos em ressaca", disse Rui Moreira sobre a vivência na cidade.
Sobre a relação da cidade com as revoluções, Rui Moreira assinalou que a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril pretende ligar-se "à cultura na cidade do Porto, não esquecendo aquilo que é o património que a cidade do Porto tem em termos das revoluções, são várias, algumas esquecidas".
"A [Revolução Liberal no Porto] de 1820 não foi esquecida porque nós resolvemos celebrá-la, mas o parlamento esqueceu 1820. Foi a revolução que lançou o constitucionalismo em Portugal", lembrando ainda o autarca "o 31 de Janeiro, muitas vezes esquecido" e que "foi o prelúdio para o 05 de Outubro", e também "a revolta do Porto de 1927", contra a Ditadura Miltar, com a semana sangrenta na Praça da Batalha, onde "morreram milhares ou centenas de pessoas, ninguém sabe muito bem".
Rui Moreira recordou ainda a receção do Porto a Humberto Delgado em 1958, na Praça Carlos Alberto, no âmbito das eleições presidenciais, motivo pelo qual a apresentação do programa "Revolução, Já!" foi feito no Palácio Viscondes de Balsemão, sito em frente à estátua do 'General Sem Medo'.
"O Porto é uma cidade muito ligada a este espírito revolucionário, mas um modelo de revolução contextualizado, uma revolução contextualizada, que não é revolta", diferenciou o autarca portuense.
Já questionado sobre se o ambiente pós-eleitoral não poderia interferir nas comemorações do 25 de Abril, Rui Moreira rejeitou que haja algum risco de "refutar Abril".
"Acho que é das revoluções mais consensuais, também porque seguiu um período de obscurantismo que durou 40 e muitos anos, só comparável com o Enver Hoxha [antigo líder albanês] e com poucos mais", considerando "natural que cada um de nós tenha o seu 25 de Abril".
Para Rui Moreira, mesmo "que o Estado resolva não o comemorar, ou apenas o comemore naquelas sessões cinzentas da Assembleia da República, cada um de nós vai comemorá-lo de certeza", tal como acontecerá nas ruas do Porto, antecipou.
"Mesmo aqueles que dizem no Facebook que bom era dantes, quando sabem que não era", frisou.
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