Rússia: recursos humanos oscilam entre a indústria e a linha da frente

8 meses atrás 77

O regime de Vladimir Putin começa a perceber que não terá recursos humanos para manter a economia em crescimento. A não ser que queira despovoar os campos de batalha, o que não parece ser uma opção.

A invasão da Ucrânia está a colocar a economia russa um impasse: admitindo-se que ainda não é possível estar-se em dois lugares ao mesmo tempo, o governo de Vladimir Putin começa a confrontar-se com a escassez de trabalhadores. Ou, em alternativa, com a escassez de militares. Apesar da dimensão do país, começa a faltar gente para trabalhar – e, ao contrário do que sucedeu na II Guerra Mundial (ou Guerra Patriótica, como é conhecida na Rússia), não há mulheres disponíveis para substituírem os homens que partem a caminho da frente de batalha.

Os analistas consideram que Moscovo não pode continuar a dedicar grande parte dos seus recursos económicos e humanos a uma guerra dispendiosa se quiser manter o crescimento económico que o país ainda apresenta. A guerra está a intensificar-se e o número de soldados russos mortos é alarmante (o regime desmente os números), o que provoca escassez na frente do trabalho ou em alternativa na frente da guerra.

O resultado é, até o momento, salários muito altos, que ameaçam tornar a inflação crónica num país cuja economia é relativamente fraca e onde a área industrial começa a dar nota de que está a entrar em dificuldade.

Segundo uma reportagem do espanhol “El Economista”, as empresas já estão na fase em que batalham arduamente para encontrar mão de obra suficiente, dado o número de homens que foram para a linha de frente. Segundo a mesma fonte, da metalurgia à restauração, os salários estão a disparar, ameaçando a capacidade do Kremlin de reabastecer o contingente militar. A escassez de funcionários elevou os salários a um ritmo de dois dígitos e tornou a entrada nas Forças Armadas, antes uma opção relativamente lucrativa, muito menos atraente: o Kremlin aumentou os salários mensais em 10,5%, o que não é muito competitivo face ao resto da economia, e é um trabalho onde se morre muito!

No final de 2023, foi revelado que a Rússia tinha falta de cerca de 4,8 milhões de trabalhadores e que o problema continuará a agravar-se em 2024 – e a notícia não emanava de fontes externas, mas sim do Instituto de Economia da Academia Russa de Ciências.

Por outro lado, recorda o “El Economista”, a presidente do Banco Central, Elvira Nabiullina, alertou recentemente para que o esgotamento da força de trabalho da Rússia está a causar escassez aguda de mão-de-obra e a ameaçar o crescimento económico.

Paralelamente, a demografia não está a ajudar: a Rússia vem perdendo população há vários anos e parte da sua força de trabalho imigrou para outros países em busca de uma vida melhor. Agora, se esse capital humano for usado para produzir armas e apoiar o exército ou para ir para a fronte, a economia da Rússia pode enfrentar sérios problemas a médio e longo prazo. A médio-longo prazo, as coisas também não correrão bem: um tempo de guerra não é a melhor altura para pensar-se na geração seguinte.

“Um pico de emigração precedeu a invasão da Ucrânia, mas o esforço de mobilização de guerra em 2022 acelerou a tendência de pessoas jovens e instruídas saírem em busca de oportunidades no exterior. À medida que a Rússia mobilizava o seu esforço de guerra, a emigração atinge recordes históricos; Cerca de 668 mil pessoas deixaram a Rússia em 2022, um aumento de 71% em relação à média dos cinco anos anteriores. A longo prazo, esta perda permanente de capital humano enfraquecerá ainda mais o potencial de crescimento da Rússia. O governo russo está totalmente ciente disso e oferece hipotecas subsidiadas para trabalhadores qualificados ficarem”, diz um post no blog do Departamento do Tesouro dos EUA escrito por Rachel Lyngaas, economista.

A decisão de Putin de convocar 300 mil reservistas provocou um êxodo de centenas de milhares de russos ansiosos para evitar a guerra – revelam fontes ocidentais. Muitos eram jovens profissionais, cuja saída exacerbou ainda mais as tensões no mercado de trabalho. Em 2023, cerca de 490 mil pessoas serviam no exército sob contrato, de acordo com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.

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