Seleção luta contra o vício

2 meses atrás 84

«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.

Portugal está fora. É hora de fazer as malas e redigir as últimas linhas. Ou penúltimas, que amanhã (domingo) escreverei sobre Cristiano Ronaldo. Por agora, é hora do coletivo, que é - ou deveria ser - a prioridade.

O Euro acabou para Portugal no momento em que mais se sentiu que era candidato em campo. O desconto é tão grande na vitória contra a Turquia como na derrota com a Geórgia. Agora, que realmente importava, viu-se uma equipa capaz.

Há uma sensação a sublinhar: dói mais porque se é maior em campo.

Tantas vezes os pequeninos sorrateiros, bem fechados, à espera de uma brecha para ferir ou de um remate imprevisto (onde estás, Eder?) para uma vitória contrária às teorias, agora já se olha para um jogo da seleção frente a um gigante e sente-se que quem manda é Portugal. Pode demorar até ao sucesso (quanto tempo demorou até Paris?), mas tendencialmente Portugal está mais perto de ganhar se for dono e senhor da bola na esmagadora maioria do tempo. Há apenas que saber o que fazer com ela. 

E, durante quase 20 anos, foi um vício, criado por todos (muitas vezes, um bom vício), o de jogar para Cristiano Ronaldo.

Neste Europeu, Portugal pareceu um fumador a tentar deixar o tabaco: aguentou bem os primeiros dias, mas rapidamente teve uma recaída e voltou em força. Na noite de Frankfurt, contra a Eslovénia, pareceu fumar dois maços. Ora, por tabaco entenda-se procura por (e, sobretudo, de) Cristiano Ronaldo para este decidir com golos, só que num formato em que a dose de nicotina já não se regulava da mesma forma. O avançado não se adaptou à equipa (seria quase como ver CR7 jogar no estilo Barcelona nos tempos de Real Madrid), a equipa não se adaptou às novas características do avançado e, agora, tudo volta à estaca zero.

O Europeu deu alguns indicadores muito bons: a fibra de Nuno Mendes, a frieza de Diogo Costa, a amplitude de Palhinha e, talvez mais que tudo, a poesia de Vitinha. Resta perceber que caminho se quer adotar para o sucesso: com ou sem tabaco. Pode dar das duas formas, se se souber como materializar esta forma crescentemente dominadora da seleção nacional, que até as maiores equipas já respeitam.

Como escreveu o meu conterrâneo Luís Pedro Ferreira no jornal A Bola, «há de haver um dia em que Portugal joga como em 2000 e ganha como em 2016».

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