Serão as mulheres culpadas pelo aumento dos suicídios masculinos na Coreia do Sul? Comentários de um político geram polémica

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O vereador da Câmara Municipal de Seoul, Kim Ki-duck, publicou na semana passada um relatório em que sugere que a crescente participação social das mulheres e o seu papel dominante na sociedade estão relacionados ao número crescente de suicídios entre os homens, de acordo com um comunicado de imprensa

"Ao contrário do passado, quando o patriarcado e a ideologia da supremacia masculina eram predominantes, a Coreia começou recentemente a transformar-se numa sociedade centrada nas mulheres, com estas a ultrapassarem os homens em cerca de 5 por cento a partir de 2023", observa Kim Ki-duck, citado pelo comunicado de imprensa.  Kim Ki-duck considera que a emancipação feminina criou uma escassez de mão-de-obra masculina e dificultou a procura de parceiros para o casamento

"À medida que o número de mulheres aumenta, ocorrem vários fatores, incluindo alterações no mercado matrimonial devido à escassez de mão-de-obra masculina e ao aumento do número de homens com dificuldade em encontrar parceiras de casamento, bem como alterações nos papéis de homens e mulheres devido à participação das mulheres na sociedade", analisa

De acordo com o relatório, "com mais de 1.000 tentativas de suicídio nas pontes do rio Han durante dois anos consecutivos, a ponte Mapo está no topo da lista" publicada no website do Conselho Metropolitano de Seoul, a taxa de suicídios é maior entre os homens e está a aumentar no país. A taxa de suicídio da Coreia do Sul é a mais elevada entre os países ricos da OCDE

Os dados apresentados mostram que, em 2018, 430 pessoas tinham tentado suicidar-se nas 21 pontes que atravessam o rio Han, na capital sul-coreana, incluindo 288 homens (67 por cento), enquanto em 2023, o total de tentativas tinha subido para 1035, incluindo 798 homens (77 por cento).

Kim Ki-duck, membro do Partido Democrático,  defende que é necessário melhorar "a sensibilização sobre a igualdade de género e expandir a participação social dos homens" para conseguir minimizar a taxa de suicídio no país. A Coreia do Sul ocupa o 105.º lugar em matéria de igualdade de género, de acordo com o mais recente índice anual do Fórum Económico Mundial

Os comentários do político sul-coreano foram muito criticados no país, tanto por figuras políticas como por especialistas na área da saúde mental e da igualdade de género, que consideraram as suas observações infundadas, misóginas e perigosas para as mulheres.

"É perigoso e insensato fazer afirmações como esta sem provas suficientes", disse ao canal britânico BBC Song In Han, professor de saúde mental na Universidade Yonsei de Seul. "Culpar as mulheres por entrarem no mercado de trabalho só vai prolongar os desequilíbrios na nossa sociedade", disse à mesma fonte Yuri Kim, diretora do Sindicato das Mulheres Coreanas, que considerou que os comentários recentes dos políticos sul-coreanos "resumem bem como a misoginia é generalizada na Coreia do Sul".

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