Surto de parvovírus já obrigou a quatro transfusões em bebés por nascer

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Há um surto de parvovírus B19 em Portugal, que já obrigou a Maternidade Alfredo da Costa a fazer quatro transfusões intrauterinas por causa de anemias nos bebés, duas delas graves. O vírus, provoca uma condição conhecida por "doença da bofetada", é inofensivo para adultos e crianças, mas é um risco durante a gravidez - podendo provocar abortos, malformações e anemias graves nos fetos.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças alertou, já este mês, para um número crescente de infeções em pelo menos 10 países.

Na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, não há margem para dúvidas: para além de várias complicações decorrentes do parvovírus, só este ano já foram feitas duas transfusões intrauterinas por causa de anemias graves nos bebés, indica Luísa Martins, responsável pela consulta de diagnóstico pré-natal.

"Um dos efeitos é a anemia fetal, e até meados de junho já foram feitas quatro transfusões intrauterinas, das quais duas confirmadamente por infeção grave do feto com parvovírus B19", afirmou a especialista, que explica que "este número de transfusões intrauterinas traduz-nos que há muito mais casos que já chegaram a uma fase grave e que tiveram necessidade de transfusão intrauterinas".

"Para além disso, temos tido casos de mortes fetais, abortos, umas malformações, que são as hidropsias, que depois vamos ver que estão associadas à infeção materna por parvovírus B19", acrescenta Luísa Martins.

De acordo com a obstetra do único Centro de Responsabilidade Integrada de medicina e cirurgia fetal do país, nota-se um aumento das infeções desde o início do ano. Os casos são detetados por "história de contato ou doença elas próprias, eritema, dores articulares, febre ou uma ecografia que revela que o feto já está afetado". Quando os médicos investigam a causa, chegam "à conclusão que é parvovírus".

Contágio difícil de prevenir

O parvovírus B19, frequentemente associado ao eritema infecioso - também conhecido como a “doença da bofetada”, é difícil de prevenir, porque o contágio acontece antes de haver sintomas.

Em cerca de 30% dos casos a infeção passa da mãe para o bebé, com consequências diferentes em função do tempo de gravidez.

"Se essa passagem for no início da gravidez ou na primeira metade há um risco de morte fetal, ou seja, é mais provável que aconteça um aborto espontâneo ou uma alteração a que nós chamamos hidropsia e que dê morte fetal", conta Luísa Martins.

Caso a passagem para o feto ocorra no segundo trimestre, "este vírus pode condicionar o que nós chamamos uma crise aplástica", definida por uma paragem repentina da "formação de glóbulos vermelhos", o que resulta numa "anemia grave nos fetos", segundo a médica obstetra.

Cerca de metade das mulheres portuguesas em idade fértil são imunes ao parvovírus. Ainda assim, a responsável pela consulta de diagnóstico pré-natal da Maternidade Alfredo da Costa alerta que a rapidez com que se deteta a infeção é essencial, porque é possível avaliar a forma como afeta o bebé através de ecografia.

"Se houver na família, ou o filho manifestar esta doença, o primeiro passo é orientar logo para o médico que segue a gravidez, que irá pedir uma análise à mãe para ver se ela é não imune ou se é imune. Se ela é imune, acabou, não se fala mais no caso", indica Luísa Martins.

Caso a grávida não seja imune, "deverá ser referenciada a um centro de diagnóstico pré-natal, ou deverá fazer uma ecografia, porque a partir de determinada altura pode ser necessário fazer ecografias com mais frequência para identificar se há algum problema no feto e para depois decidir o que se faz".

A especialista acrescenta que "ou não se faz nada e é uma atitude expectante, ou então propõe-se as transfusões quando há sinais de anemia fetal".

O parvovírus B19 não é uma doença de notificação obrigatória, pelo que a única forma de avaliar a sua circulação é através de rastreio aos dadores de sangue e às doações de plasma.

Contactado pela Renascença, o Instituto Português do Sangue e da Transplantação diz que em 2023 não foi detetado nenhum caso, e que ainda não tem dados relativos a este ano.

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