A partilha de componentes entre marcas é normal, mas a balança tecnológica já não pende apenas para o ocidente. A chinesa BYD está a mudar as regras do jogo.
A partilha de componentes na indústria automóvel é tão antiga como a própria indústria automóvel.
Não há quase nenhum componente nos automóveis modernos que não seja partilhado entre várias marcas: dos mais básicos aos mais complexos como, por exemplo, o motor — veja-se esta lista onde mostramos quem usa o motor de quem.
Por isso, à primeira vista, não seria motivo de notícia haver três marcas a recorrerem a tecnologia desenvolvida pela BYD. Porém, há um fator novo e muito relevante nesta equação.
© BYD Bateria Blade LFP da BYDO sentido da partilha de componentes e tecnologia mudou. Após décadas a fio onde foram as marcas europeias, japonesas, sul-coreanas e americanas a «emprestar» tecnologia às marcas chinesas, agora assistimos a uma inversão, ainda que excepcional, dessa tendência. Talvez a primeira com real significado.
A Toyota, destacadamente a marca n.º 1 no mundo, a Tesla, que lidera a venda de elétricos, e a KGM (ex-SsangYoung) que outrora pedia tecnologia à Mercedes-Benz (Daimler) agora recorre, em alguns dos seus modelos, a tecnologia oriunda diretamente da BYD.
Começando pela Tesla, atualmente a marca liderada por Elon Musk utiliza baterias LFP da BYD, nomeadamente nos Model Y Standard Range, como os que são fabricados na Gigafábrica de Berlim, na Alemanha.
© Tesla Tesla Model Y Standard RangeO motivo? Custo, dimensões e densidade energética. São apenas três dos motivos que fizeram a Tesla ir bater à porta da BYD.
KGM segue os passos
A KGM é uma das estreantes no mercado português. Acaba de chegar ao nosso país pela mão da Astara. Não é uma marca chinesa, é uma marca sul-coreana que nasceu daquilo que sobrou da antiga SsangYong.
Tal como a Tesla, também a KGM pediu à BYD o fornecimento de baterias para os seus modelos 100% elétricos e híbridos plug-in. Por agora, em Portugal, apenas temos o elétrico Torres EVX com as baterias do construtor chinês. Se ainda não conhecem esta marca vale a pena ler este artigo:
Se não os podes vencer…
Junta-te a eles, não é? Talvez tenha sido esta a estratégia da Toyota, que é o maior produtor mundial de automóveis por uma margem muito confortável — e que não parece abrandar.
Para conquistar quota de mercado na China, a Toyota aliou-se à BYD para equipar o seu 100% elétrico bZ3 (berlina de quatro portas). Nomeadamente a nível de motores e baterias.
© Toyota Toyota bZ3Uma parceria que tem dado os seus frutos, de tal forma, que a gama bZ3 foi expandida recentemente com o bZ3C, um crossover com «ares» de Prius. Fala-se que o bZ3 poderá mesmo chegar à Europa.
Mercedes-Benz fez diferente
A Mercedes-Benz não pediu nada emprestado à BYD, até porque não há modelos da marca alemã com tecnologia chinesa. Entre a Mercedes-Benz e a BYD houve algo mais profundo, pois desenvolverem uma marca em conjunto que surgiu em 2011: a Denza.
© Denza Denza N7.Cada uma delas aportou o que de melhor tinha para criar esta marca premium para o mercado chinês. A Mercedes-Benz emprestou a qualidade de construção e BYD emprestou a tecnologia elétrica.
Um casamento que estava a dar os seus frutos, mas a Mercedes-Benz disse “basta”. O construtor alemão deixou de ter, recentemente, qualquer participação na Denza.