Três soluções para pôr a inteligência artificial a trabalhar por si

2 horas atrás 24

Esta é a semana em que conhecemos os nomes distinguidos com o prémio Nobel das diferentes áreas. Já são conhecidos os laureados com o prémio Nobel da Química — David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper, que usaram a inteligência artificial para descobrir e prever as estruturas das proteínas — e da Física — John J. Hopfield e Geoffrey E. Hinton, distinguidos por terem lançado as bases da inteligência artificial.

Reparou no denominador comum?

Não é sequer uma novidade: a inteligência artificial já existe e trabalha a todo o gás nas nossas vidas. Há quem nutra por ela um fascínio especial e queira saber até onde pode ir; outros (como eu) tentaram fugir-lhe até ser inevitável. São os late adopters, se lhes quisermos chamar assim, porque ninguém lhe está imune.

Na verdade, basta pesquisar um pouco para saber que é impossível escapar-lhe. Está em ferramentas que usamos todos os dias — que, se forem bem feitas, nem notamos que a inteligência artificial está lá. Mas também está em muito conteúdo que consumimos nas redes sociais, por exemplo, em imagens e vídeos criados com o objectivo de entreter ou de chocar. Como se a realidade não fosse chocante o suficiente. Ou como se, enquanto espécie, precisássemos de um substituto para a nossa criatividade – e não para as tarefas repetitivas e penosas (a nossa pedra de Sísifo) que somos obrigados a desempenhar.

Com os passos de gigante que têm sido dados nos últimos anos, adensaram-se várias questões. Uma das que vejo repetidas mais vezes é se a inteligência artificial nos vai roubar trabalhos. Mas, mais recentemente, deparei-me com outra questão: é ético que a inteligência artificial faça parte do meu trabalho – aquele que sou paga para fazer – por mim? 

Usar a inteligência artificial pode fazer com que desempenhe algumas tarefas mais rapidamente — mais rápido do que fazia antes e mais rápido do que os meus colegas que não sabem usá-la. É um factor que pode fazer com que me destaque, mas sem grande mérito próprio. 

Rui Veiga, professor especialista na área da segurança e saúde no trabalho no ISLA (Santarém), olha para esta questão de uma forma quase descontraída. Trabalha sobre o impacto da inteligência artificial no trabalho e olha para esta tecnologia como algo com vantagens "tão superiores a eventuais desvantagens" que nem se coloca a questão da não utilização.

O importante, defende, é saber usá-la: como uma coadjuvante e não como uma substituta.

Actualmente, quem sabe usar bem a inteligência artificial no trabalho tem uma vantagem sobre os que não sabem – e esse fosso só irá aumentar no futuro. "É uma questão de tempo", afirma. "As pessoas que não tiram partido do melhor que a inteligência artificial nos dá vão ficar para trás. Se eu tiver o poder de influenciar alguém é ao dizer ‘aprenda a usar bem’."

E não serve só para as tarefas chatas. "Nas áreas em que sou um especialista, a inteligência artificial não me vai ensinar nada. Eu já domino o tema e sou capaz de ir mais longe e explicar melhor. Mas se entrar em áreas que já não domino tão bem, é muito rápida a dar-me informações", exemplifica o professor.

Às vezes, isso é o suficiente para desempenhar melhor o seu trabalho, sem despender grande esforço, poupando-se à frustração de tentar entender um tema que não domina.

Deixa de ser ético quando partilha com ela informação sensível da empresa — e é por isso que há empresas que tentam limitar o seu uso. Afinal, a rede que alimenta a inteligência artificial "também se alimenta de nós" e a partilha de informação por parte dos empregados pode ser "um problema de segurança".

"Se tem um conhecimento que é um factor competitivo face à sua concorrência, a rede vai apropriar-se de uma parte dessa informação. Isso é um risco e percebo que tenham reservas", afirma Rui Veiga.

Foi com grandes resistências que aceitei a inteligência artificial na minha vida. No entanto, há aplicações que se tornaram verdadeiramente úteis no meu trabalho: fazem por mim as tais tarefas que preferia não fazer. Eis alguns exemplos (e obrigada à minha colega Karla Pequenino por me ter introduzido a tantas delas):

MyGoodTape. É uma ferramenta de transcrição: pega em áudios e transforma-os em texto. Foi criada a pedido de um jornal e arrisco-me a dizer que é das ferramentas preferidas de qualquer jornalista: poupa-nos horas de transcrições. A maior parte das vezes só é preciso voltar a ouvir o áudio para corrigir pequenos erros ou gralhas. Com áudios até 20 minutos, pode usar-se de forma gratuita três vezes por mês. Depois disso, é pago. Deepl. É um bom tradutor – consegue, por exemplo, identificar o contexto e até adaptar algumas expressões idiomáticas. Não é infalível e por isso não dispensa a revisão de dois olhos humanos, mas poupa tempo. Tem uma versão gratuita (limitada) e uma versão paga. Elicit. É um assistente de pesquisa que permite identificar e resumir os principais conceitos sobre um determinado tema, devolvendo os estudos mais citados e uma lista de outros tantos que também podem ser pertinentes. Tem limitações: só funciona bem em inglês e é pago depois do período de teste. 

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