Um olhar sobre a situação do Boavista: «Os clubes entregam-se de mãos atadas aos investidores»

9 meses atrás 74

Único clube além do Belenenses a quebrar a ditadura de títulos nacionais dos três grandes, longe vão os tempos em que o clube das «camisolas esquisitas» fazia furor nos palcos internacionais e era encarado como a principal oposição aos colossos do futebol nacional. A atravessar um sucessivo processo de estabilização desde que retornou à I Liga, o Boavista vive dias de sobressalto interno ao nível das condições logísticas e financeiras.

Como espécie de auscultadores da saúde axadrezada, o zerozero contactou Afonso Figueiredo e Professor Neca, dois atores do passado recente do clube.

Globetrotter na sua carreira de treinador, o técnico natural de Barcelos passou pela Pantera em 2018/19 e 2019/20, tempo suficiente para opinar com clareza sobre os problemas do clube, que tiveram no «elefante branco», expressão usada para catalogar o Estádio do Bessa, como tópico inicial.

Professor Neca durante um treino no Estádio do Bessa @Catarina Morais / Kapta +

«O Boavista tem um estádio que está muito para além da realidade do clube e isso reflete-se na gestão do clube, tem custos e torna-se penalizador», introduziu, antes de relembrar a versão antiga do recinto: «Era mais confortável e ajustado à realidade e isso ajudou a catapultá-lo para os lugares cimeiros.»

Sem problemas em reconhecer as dificuldades no período no qual representou o clube, o então adjunto de Lito Vidigal ressalvou «a arte e engenho» evidenciada no período pré-Gerard López: «Tinha ainda condições muito satisfatórias para a I Liga. Aquilo que se sente e é público no Boavista, é mais profundo do que a situação de há três, quatro anos, quando por lá passei.»

«Após ser campeão, pensou-se que o clube iria andar sempre a lutar pelos mesmos objetivos. Foi o grande erro»

«Um investidor investe para ter retorno, temos de se ter consciência disso. Os clubes endividam-se, chegam a um beco sem saída e entregam-se de mãos atadas aos investidores, pensando que ele vem resolver todos os problemas. Ele traz jogadores, mas com uma massa salarial muito além das possibilidades do clube», avaliou, em relação ao principal acionista.

«Tinha de se construir uma academia e alargar os espaços, à imagem do que foi feito em Braga»

«O adepto sabe reconhecer que o Boavista tem limitações muito grandes. Além da queda que teve para as divisões inferiores, tem um passivo que o puxa para trás», referiu. Um problema de projeção desportiva e financeira que remonta ao início do milénio: «No pós-Valentim [Loureiro], após ser campeão, pensou-se que o clube iria andar sempre a lutar pelos mesmos objetivos. Foi o grande erro visionário do Boavista

A concluir, Professor Neca considerou o desinvestimento nas infraestruturas para formação como outra das lacunas, embora reconheça o potencial da «escola» de talentos que saíram do Bessa ao longo dos anos: «Na minha opinião e de pessoas ligadas ao clube com quem falo, o Boavista foi perdendo o que estava na sua génese: a formação. Tinha [no momento de maior fulgor] de se construir uma academia e alargar os espaços, à imagem do que foi feito em Braga.»

O papel de Petit no Boavista: «Faz-me lembrar Rúben Amorim e o Sérgio Conceição»

Passando o «microfone» a Afonso Figueiredo, lateral que vestiu as cores da Pantera entre 2013 e 2016, o período em que defendeu o clube e o atual tem vários pontos em comum: «As épocas no Boavista acabaram por ser todas um pouco de superação. O clube vinha de uma situação bastante pior do que a atual e passámos da III liga para a primeira.

Vestiu a camisola axadrezada em 72 jogos e anotou um golo @Global Imagens / Ivan del Val

«As condições a nível de pagamentos eram as mesmas que se falam hoje em dia. As contas acabavam por atrasar e isso criava alguma instabilidade aos atletas e às pessoas do clube», algo que não beliscou o carinho que ainda hoje sente, pelo emblema axadrezado.

«Sofro também com o Boavista. Toda a família da minha mulher é boavisteira, assim como a minha mulher. É um clube que tenho um enorme carinho. Acabo por sofrer com os momentos menos bons do clube. Sinto-me triste em saber algumas coisas, nomeadamente, a parte dos salários em atraso das pessoas que trabalharam lá. Não tenho nenhuma razão de queixa», acrescentou.

Petit
2023/2024

16 Jogos
5 Vitórias
5 Empates
6 Derrotas

25 Golos
30 Golos sofridos

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Lançado por Petit na I Liga, Afonso Figueiredo mantém a convicção que, apesar da saída do comando da equipa, os axadrezados irão beneficiar com o trabalho do técnico a potenciar os mais jovens. Pedro Malheiro, João Gonçalves ou Tiago Morais são os exemplos mais recentes, depois de ele próprio ter permitido um encaixe financeiro, na altura em que rumou ao Rennes.

«Faz-me lembrar, em certa medida, o Rúben Amorim e o Sérgio Conceição, porque foram jogadores, sentem a vontade que os miúdos têm de se mostrar e jogam muito bem com isso. Ter um treinador que sabe potenciar jogadores, só ajuda nas contas do clube. O Petit sempre foi uma mais-valia para o Boavista», concluiu.

Portugal

Afonso Figueiredo

NomeAfonso Mendes Ribeiro de Figueiredo

Nascimento/Idade1993-01-06(30 anos)

Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoDefesa (Defesa Esquerdo)

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