“Uma fiscalidade atrativa e uma aproximação crescente com os EUA” vão garantir o “milagre português”

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José Maria Rego olha com otimismo para a próxima década, apesar de criticar algumas das atuais opções governativas, como a carga fiscal.

Em entrevista ao "Dúvidas Públicas", da Renascença, o ex-diretor executivo e fundador da primeira fintech portuguesa fala do futuro e desafios destas startups tecnológicas para serviços financeiros. Agora no Novo Banco, Rego explica ainda o novo desafio e a aproximação das fintech à banca e antecipa o euro digital que está a ser desenvolvido.

No início deste ano, liderava a primeira fintech portuguesa, fundada 10 anos antes com dois amigos, a Raize, que já estava entre as 200 maiores. Em fevereiro, deixou a direção executiva e vendeu a participação. Agora, vai fechar 2024 do outro lado da fronteira, entrou no último mês para o Novo Banco, para fazer o mesmo, mas, em vez de financiar empresas, vai liderar o crédito ao consumo, dirigido às famílias.

Depois de fechar uma década na Raize, José Maria Rego já olha para os próximos 10 anos e antecipa que vamos assistir ao “milagre português”. Defende que terá duas alavancas: “uma fiscalidade atrativa para empresas e fundos, pessoas e entidades, para investirem, gerarem lucros, pagarem salários altos, porem capital a rodar na economia; a outra alavanca é uma aproximação crescente com os Estados Unidos”.

De acordo com o professor de gestão internacional da Católica School of Business and Economics, “os Estados Unidos têm sido nos últimos anos o factor x de crescimento da economia portuguesa. Em termos de turismo, é o terceiro país.” Só em valor, acrescenta, o mercado americano traz para Portugal 2,5 mil milhões de euros.

A poucos dias de se conhecer o próximo residente da Casa Branca, Kamala ou Trump, o gestor explica ainda que no último ano dois milhões de americanos visitaram Portugal e, nos últimos seis anos, os Estados Unidos foi o segundo país que mais investiu em Portugal, só ultrapassado por Espanha.

Segundo José Maria Rego, há três explicações para esta aproximação luso-americana: fomos descobertos, soubemos vender-nos e a Tap acelerou tudo com o aumento das rotas para destinos norte-americanos.

O que é que nos impede de atrair investimento directo estrangeiro? Também aqui temos de convencer os investidores de que somos um bom destino. No entanto, “Portugal é pouco atrativo e é automaticamente excluído”, na comparação fiscal com os restantes países europeus.

Nesta entrevista, José Maria Rego defende também que as empresas lucrativas devem pagar mais e melhores salários. O mundo mudou e “temos de falar mais da relação direta entre empresas lucrativas e salários altos”.

Banca e Fintech cada vez mais próximas

As fintech surgiram em Portugal há 10 anos, com a Raize, ainda nem sequer havia regulação para estas empresas de base tecnológica que queriam prestar serviços financeiros diretamente ao cliente. Destacaram-se rapidamente por serem mais ágeis que a banca, com muito menos burocracia e claramente mais baratas, porque não cobravam comissões.

O problema deste modelo de negócio é que não era realista, estas startup acumularam clientes à mesma velocidade que aumentavam os prejuízos. A expectativa de retorno foi revista há dois anos e é hoje muito mais realista, mas continua acima da banca tradicional.

Em Portugal o mercado já está regulado e, ainda que possa não responder a todas as acusações de concorrência desleal por parte da banca, José Maria Rego acredita que isso acaba por ser “um incentivo para inovar” lançado por entidades e pessoas “que têm hipótese de desafiar”.

Na verdade, os bancos já procuram oferecer aos clientes o mesmo tipo de serviços e respostas que as fintech garantem, ao mesmo tempo que estas startup tecnológicas querem garantir rentabilidade.

Na prática, os bancos estão a integrar ou imitar as fintech, com a aprovação mais rápida de empréstimos, que ao consumo chega a ser dada na hora, para quantias mais pequenas. As fintech já cobram comissões.

Depois do financiamento às empresas, o próximo passo para as fintech é financiar as famílias, com crédito ao consumo. Neste momento 3,5 milhões de pessoas têm um empréstimo deste tipo.

José Maria Rego está no Novo Banco para aplicar o conceito e a estrutura das fintech ao crédito ao consumo: financiamento de automóveis, formação, férias, entre outros destinos.

Euro digital retira 10 a 15% do dinheiro em depósitos à ordem

O euro digital ainda não está confirmado nem tem data para avançar, mas é inevitável, segundo José Maria Rego, para concorrer com o Visa e o Mastercard, sistemas de pagamento norte-americanos.

Nas próximas semanas é esperado o anúncio de mais pormenores sobre o projeto do Banco Central Europeu. No entanto, o gestor já fez as contas e antecipa que o lançamento do euro digital deverá “levar a uma fuga, ainda que temporária, dos depósitos dos bancos” de, pelo menos, 8 a 12 mil milhões. Ou seja, entre 10 a 15% do dinheiro em contas bancárias à ordem.

Ainda não estão definidos os montantes máximos que cada pessoa pode ter na carteira digital, há até a possibilidade de acumular várias carteiras, mas com um limite total. O valor máximo poderá rondar os 3 mil euros, mas “há países que querem mais, outros querem menos”.

Esta fuga de dinheiro vai pressionar os bancos a cobrarem mais pelos serviços que prestam, ou seja, nas comissões. Por outro lado, em formato digital, não são pagos juros pelos depósitos.

A entrevista de José Maria Rego, um dos fundadores da primeira fintech portuguesa, hoje líder do crédito ao consumo do Novo Banco, à Renascença já está disponível aqui. O Programa Dúvidas Públicas pode ainda ser ouvido em podcast ou todos os sábados a partir do meio-dia, na antena da Renascença.

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