Universidade de Fresno é `ilha` democrata em zona `MAGA` e vive polarização com medo

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"Os estudantes de ambos os lados são muito ruidosos", disse à Lusa o professor luso-americano Everett A. Vieira III, que leciona na Universidade. As diferenças visíveis geram discussões aguerridas no campus, disse o professor, que dá aulas de política comparativa e violência política, embora os seus estudantes sejam mais contidos. 

Foi isso que aconteceu numa aula em que a Lusa colocou algumas questões sobre a perceção das campanhas e do ambiente político. 

"A atmosfera no nosso país é terrível neste momento", disse à Lusa David Flores, que decidiu votar em Kamala Harris porque acredita que ela trará "maior decoro e estabilidade", mas não se sente entusiasmado pela democrata. "Sou um eleitor independente, mas vou votar democrata por causa da natureza de culto no partido republicano". 

A Universidade em Fresno tem muitos estudantes lusodescendentes, uma vez que é no vale central da Califórnia que está a maior concentração de comunidades de origem portuguesa do estado. Muitos vêm de famílias conservadoras, que trabalham na agricultura e agropecuária e votam maioritariamente em Donald Trump. 

É essa a experiência de Everett A. Vieira III, neto de emigrantes portugueses. "A comunidade portuguesa a que estou ligado é toda composta por agricultores. Está bastante claro que vão votar em Trump", afirmou o professor.

"Ele é a oposição à vice-presidente, uma mulher. Penso que há aqui algum sexismo envolvido e ela é também uma pessoa não branca", apontou. "Há pessoas que me dizem na cara que Trump diz o que todos pensamos", continuou. "Creio que há racismo, sexismo, descontentamento com a inflação e a ideia de que o crescimento era maior nos anos de Trump". 

Para a universitária Julianna, o que a convenceu a votar em Harris foi a diferença de políticas de imigração entre os candidatos. 

"Trump dá a imigração como o maior problema nos Estados Unidos, algo que não acho que seja verdade. Há outros problemas maiores, como habitação e pessoas em situação de sem-abrigo", afirmou a estudante de 23 anos. 

É também esta uma das prioridades de Catalina, outra estudante de ciência política que apontou imigração, direitos das mulheres e relações internacionais como os pontos mais importantes na eleição. 

"Considero que precisamos de defender as nossas fronteiras, mas isso não significa divisão e ódio", afirmou. "O nosso sistema de imigração é uma confusão e a ideia de Trump de resolver com um muro é como pôr um penso rápido numa ferida de bala", frisou. 

Os estudantes que se mostraram a favor de Trump e não quiseram dar o nome instaram os outros a fazerem a sua própria pesquisa, por exemplo indo diretamente aos programas de campanha. Quando uma aluna mencionou o Projeto 2025, um programa de 900 páginas com as prioridades da próxima administração conservadora, um dos apoiantes de Trump contra-argumentou que o candidato disse não ter nada a ver com esse documento. 

Quase todos os alunos que conversaram com a Lusa em Fresno mostraram otimismo cauteloso, mesmo que o candidato em que vão votar não ganhe. Sckyler, de 19 anos, afirmou que as suas prioridades são a economia, os direitos da comunidade LGBTQ+ e a continuação da ajuda à Ucrânia. 

"Penso que a democracia vai sair por cima, ganhe quem ganhar", opinou. "Quem ganhar, fá-lo-á através das nossas instituições democráticas". 

O professor Everett Vieira mostrou-se muito mais cético em relação ao que vai acontecer após 05 de novembro. "Tenho receio de que o 06 de janeiro não seja um evento isolado", admitiu. "Alguns familiares já me perguntaram se estamos a caminho de uma guerra civil". 

Vieira não acredita nessa possibilidade no curto prazo, mas talvez dentro de alguns anos. "O que receio são conflitos de baixa intensidade", descreveu.

O lusodescendente passou muito tempo a fazer pesquisa política e a observar protestos em países como Peru, Colômbia e Argentina e sempre sentiu segurança por ter um passaporte norte-americano. Agora tem dúvidas sobre o futuro, em especial se Donald Trump perder. "Se algo acontecer aqui, vou para onde?", questionou. "Estou preocupado".

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