Vítimas de violência sexual russa na Ucrânia ainda hesitam em denunciar

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Durante um evento organizado em Londres pelo Instituto de Relações Internacionais britânico (Chatham House), Sosonska revelou que a procuradoria tem procedimentos sobre 270 casos de violência sexual em situações de conflito.

Destes casos, que podem incluir a violação, mutilação ou a violência sobre os órgãos genitais ou a nudez forçada, a maioria foi contra mulheres (173) e homens (97), entre os quais 14 menores.

"Temos consciência de que o número [real] destes casos de violência sexual pode ser várias vezes superior ao registo oficial", afirmou, numa intervenção por videoconferência no seminário "O uso de rapto, tortura e violência sexual pela Rússia na guerra - Como a Rússia emprega estes crimes como parte da sua estratégia militar".

Os denunciantes são "sobreviventes que concordaram voluntariamente em cooperar com as autoridades policiais com base na confidencialidade e muitos ainda só estão a considerar essa possibilidade", adiantou.

Sosonska explicou que uma razão para as vítimas não apresentarem queixa é por estarem ainda em territórios ocupados pelas forças russas ou em territórios libertados mas perto da linha da frente, "onde existe um medo constante de que possam regressar e retaliar contra a vítima ou a sua família de alguma forma".

Outra razão, referiu, é a discriminação, pois as vítimas "têm medo de ser criticadas pela comunidade onde vivem, pelos vizinhos e até pelos familiares".

Um relatório produzido no ano passado pelo centro de estudos norte-americano New Lines Institute estimou que entre 20 mil e 50 mil mulheres foram violadas durante o conflito na Bósnia-Herzegovina (1992-1995), resultando em entre duas mil a quatro mil crianças nascidas de violência sexual em tempo de guerra.

A diretora e coautora do relatório disse que podem ser tiradas lições com este conflito, onde a violência sexual foi utilizada como instrumento de guerra e de genocídio.

Esta experiência pode ajudar a que "os sobreviventes na Ucrânia não tenham de esperar mais de 30 anos como na Bósnia, onde a maioria dos sobreviventes ainda está à espera de qualquer forma de justiça".

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró russas no leste do país vizinho, independente desde 1991, após a desagregação da antiga União Soviética.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não conheceu avanços significativos no teatro de operações nos últimos meses, mantendo-se os dois beligerantes irredutíveis nas suas posições territoriais e sem abertura para cedências negociais.

As últimas semanas foram marcadas por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, enquanto as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

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