Vitor Bento e Pedro Siza Vieira divergem em quase tudo no que provoca o “atraso” de Portugal

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Pedro Siza Vieira, ex-ministro da economia e advogado da PLMJ e Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos foram os protagonistas do debate.

A sessão de apresentação da plataforma “Comparar para Crescer” foi marcada por uma conversa entre Pedro Siza Vieira, ex-Ministro da Economia, e Vítor Bento, Presidente Associação Portuguesa de Bancos, que conhecem bem a realidade sócio- económica do país, e na moderação esteve de Sara Aguiar, co-fundadora do Coletivo Matéria.

Pedro Siza Vieira confessou-se “maníaco das estatísticas” e por isso elogiou a plataforma de dados estatísticos hoje apresentada (plataforma Comparar para Crescer) de “fácil acesso”.

“A competividade é um conceito relativo porque se ganha com a conquista de quota de mercado nos mercados para os quais exportamos bens e serviços” disse o advogado que considera que é muito difícil comparar Portugal porque “é um caso único”.

Pedro Siza Vieira diz que após a adesão à comunidade europeia o PIB português cresceu 85% e “chegámos a um estágio de maturidade mais semelhante ao dos países mais desenvolvidos, mas ao mesmo tempo não está no mesmo estágio de desenvolvimento desses países”. Porque o ponto de partida na entrada da CE era muito baixo, explica o advogado. No entanto Portugal entrou na CE ao mesmo tempo que Espanha. Mas Espanha beneficia de um mercado interno muito significativo, ao passo que Portugal, para crescer tem de estar abertos para o mercado externo.

Também a situação geográfica distingue Portugal, porque só temos fronteira com um país, temos mais relacionamento histórico com países da orla do Atlântico e até países asiáticos, salienta o advogado.

Vítor Bento confessou-se cansado das variáveis económicas, e diz que as causas (do atraso) estarão noutro lado, e apontou a cultura, ou seja, “a forma como olhamos para o negócios “.

“Temos uma cultura muito desfavorável ao negócio e ao desenvolvimento da economia”, afirmou Vítor Bento.

“A nossa cultura não está alinhada com uma estratégia de desenvolvimento”, sublinhou.

“Todos os países evoluem com base no mesmo modela, ou seja, água mole em pedra dura. Há países em que a água é dura e a pedra é mole. Em Portugal, a água é muito leve e pedra muito dura”.

“As resistências são muito fortes”, disse Vítor Bento que subscreve a tese que “a cultura come a estratégia ao pequeno almoço”.

“A cultura é fundamental para o sucesso da economia”, disse, considerando que ela ainda é hostil “à dimensão das empresas, ao lucro e ao capital”, referiu ainda o presidente da APB, defendendo ser necessário “remover as barreiras ao crescimento das grandes empresas“.

A cultura tem uma inércia muito grande defendeu o economista que focou que “temos uma cultura contra a empresas grandes, uma cultura é hostil ao capital e à acumulação de capital”.

“A cultura é fundamental para o sucesso da economia” disse o economista que foi à história dos anos 70, altamente influenciados pela ideologia marxista, para justificar em parte essa cultura anti-capital.

Vitor Bento lembrou a destruição do capital acumulado com as nacionalizações sem indemnização aos proprietários e depois com a reprivatizações  (quem comprou teve de se endividar para comprar) o Estado voltou a gastar esse capital em despesa corrente.

Pedro Siza Vieira, na resposta, confessou-se menos “traumatizado” com o contexto marxista que Vitor Bento porque quando chegou à vida profissional o país tinha acabado de aderir à CE.

“A minha tese é que em Portugal tivémos uma britadeira a destruir a pedra”, disse o ex-ministro do Governo socialista de António Costa, por analogia à metáfora usada pelo seu colega de painel.

“Tivemos vários choques que desestruturaram a economia portuguesa e que fizeram sair do mercado muitas empresas”, disse Pedro Siza Vieira referindo-se à adesão dos países asiáticos à Organização Mundial do Comércio; à crise financeira; à crise dividas soberanas, ao Covid, entre outros.

“O grau de abertura da economia portuguesa está quase nos 100%”, referiu Siza Vieira.

Pedro Siza Vieira falou de um dos temas abordados na apresentação de Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-geral BRP, o número de patentes que país tem registado.

A associação revelou que as empresas têm aumentado o investimento em investigação e desenvolvimento atingindo 1,1% do PIB em 2022. No entanto, apesar desse progresso, Portugal ainda enfrenta desafios na área da inovação. O país possui apenas 31 patentes por milhão de habitantes, o que é um quinto da média da UE (153 patentes).

“A cultura portuguesa é de competir pelo preço mais baixo e portanto quem pensa assim tem de esmagar os custos (salários e fornecedores)”, mas é preciso o foco no prémio e “investir em conhecimento e proteger a propriedade intelectual”.

Pedro Siza Vieira está no entanto optimista. Já Vitor Bento mostrou-se menos optimista, mas reconheceu que Portugal tem exemplos de excelência, nomeadamente as universidades, que comparam bem com os outros países.

“No entanto temos poucas coisas excelentes e muitas coisas menos boas”, sublinhou o economista.

Vítor Bento defende que é preciso aumentar a dimensão média das empresas porque são as empresas grandes que pagam melhores salários, porque conseguem aumentar a produtividade.

O economista que lidera a associação de bancos considera que “reter os jovens não é uma questão fiscal”, é uma questão da perspectiva de carreira que têm para ficar cá. Mais uma vez é preciso aumentar a dimensão das empresas.

“As empresas que têm muitos lucros são as que podem pagar melhores salários”, acrescentou.

Pedro Siza Vieira preferiu destacar a capacidade que as empresas mais pequenas têm de escalar a sua atividade (onde a inovação é mais significativa), defendendo que a progressão de carreira nestas empresas não fica atrás das grandes.

Mas mais uma vez os clientes dessas start-ups estão fora de Portugal.

Um dos indicadores onde o país fica mal na fotografia é na produtividade segundo a Associação BRP. “O valor da produtividade por hora no nosso país não ultrapassou os 71% da média da UE, próximo do nível que registava em 2000”, destaca a BRP. Percentagem que fica longe dos 98% de Itália, 96% da Espanha ou dos 84% da Eslovénia.

Para a BRP, uma das razões que explica esta baixa produtividade é o peso muito reduzido das grandes empresas no tecido empresarial: 0,25%. Em Portugal, são responsáveis por 21,5% do emprego, enquanto na UE a chega a 36,4%.

A Associação Business Round Table revelou ainda que esta terça-feira que “Portugal tem uma das mais baixas taxas de investimento da UE, 19,4% do PIB em 2023, que compara com uma média europeia de 22,3%”. Face ao grupo de países concorrentes, só Espanha, Polónia e Grécia tem um investimento total mais baixo. No investimento público, tem mesmo o pior registo, com apenas 2,5% do PIB em 2023.

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