Vítor Bruno apresentado: tudo o que foi dito pelo novo treinador do FC Porto

3 meses atrás 56

Vítor Bruno é, oficialmente, o novo treinador do FC Porto. O técnico de 41 anos foi apresentado, esta sexta-feira, no camarote presidencial do Estádio do Dragão e proferiu as primeiras palavras enquanto novo líder azul e branco.

Antes de o novo treinador assumir a palavra, o presidente dos dragões, André Villas-Boas, fez um pequeno discurso e não esqueceu o antecessor no comando da equipa técnica, Sérgio Conceição. «Ao Sérgio Conceição, indefetível portista, homem de forte caráter e personalidade, que defendeu as cores do nosso símbolo da mesma forma que, de camisola ao peito, o agarrou com toda a sua força, queremos agradecer tudo o que deu e conquistou pelo FC Porto. Mister Sérgio Conceição, esta é a tua casa. Nela serás sempre bem recebido, terás a minha palavra e a palavra do FC Porto», disse.

Na primeira intervenção, Vítor Bruno agradeceu a coragem de Villas-Boas pela aposta e mostrou-se depois disponível para as questões dos órgãos de comunicação social presentes. O técnico divulgou os primeiros nomes que integram a sua equipa e os mais variados temas, desde a situação de Pepe à relação que fica com Sérgio Conceição e aos desafios que se avizinham. Eis tudo o que foi dito pelo novo treinador azul e branco:

Vítor Bruno em discurso direto

Sentimento de ser o treinador do FC Porto: «Primeiro, numa abordagem muito honesta, é o desconforto de ter que estar de fato. Em relação ao guarda-roupa, você [presidente] vai ter que ter algum investimento. Fora de brincadeiras, dizer que estou muito feliz e honrado pelo convite. Tenho noção perfeita da responsabilidade que está inerente a um cargo desta natureza, mas ao mesmo tempo com uma vontade muito grande de me atirar ao terreno, de começar a trabalhar no Olival, operacionalizar ideias e validar muito do que eu e a minha equipa técnica perspetivamos para o FC Porto, sempre no sentido de criar laços e vínculos com toda a gente.»

«Acredito que o lado sinérgico alavanca muito o sucesso de uma organização. Esse é um bocadinho o meu perfil. Sei que não seremos melhores e mais talentosos em todos os momentos, tenho essa noção clara, mas no caráter, a ambição, o trabalho e a exigência seremos claramente imbatíveis. Sei que é uma missão difícil, tenho essa noção clara, mas é uma missão que quero viver e quero muito ganhar.»

Objetivos para a nova época: «Representar o FC Porto é demasiado óbvio. Nesta casa toda a gente tem que ser viciada em ganhar. Os objetivos são imutáveis no tempo, seja comigo ou com outro treinador. Falamos em todas as competições que vamos abraçar, não nos vamos encolher em nenhum momento. Sabemos que vai ser uma época difícil, vamos passar por diferentes momentos, vamos ter que estar entranhados uns nos outros para passar por determinadas dificuldades. É a vida de um treinador e de um clube.»

«Em relação ao plantel, é algo que tem que ser atalhado. Temos que atacar, porque o tempo é precioso e estamos a desperdiçá-lo com questões que não me parecem as mais importantes. A partir de agora vamos já começar a atacar esse tema, não só de definição de plantel como de planificação de época. Confio muito nas pessoas que estão aqui, no Andoni [Zubizarreta] e no Jorge [Costa]. Têm muita experiência acumulada, que me podem transmitir e aportar muito do que sinto ser necessário. Teremos que ter olhar cirúrgico, porque sabemos de algumas dificuldades que estão, neste momento, em causa no FC Porto. Faremos sempre um olhar muito criterioso e minucioso do que está ao nosso dispor, canalizando a atenção para o que sejam alvos realmente possíveis de concretizar.»

«Parece-me importante tudo o que seja um olhar para dentro. Muito se fala em prata da casa, mas para mim tem que ser o ouro da casa. Há muito valor aqui dentro e eu posso ficar refém do que estou a dizer agora, mas não tenho problema em assumi-lo: acho que temos tendência a subestimar quem está connosco e olhar para quem vem de fora como um aporte de valor. Há muita gente talentosa aqui dentro, que tem que perceber que o momento faz a oportunidade. Sangra-me o coração perceber que determinados talentos não aproveitam o que têm e nisso não lhes vou dar descanso em nenhum momento. Quando sentir que são capazes e que têm capacidade para emergir num plantel profissional do FC Porto, eu e a minha equipa técnica não lhes vamos dar descanso. Sentimos que é um dos caminhos a trilhar em termos de sucesso.»

Francisco Conceição: «Conheço o Francisco de muito pequeno, tenho uma estima muito grande por ele. Fez um caminho, graças à perseverança e à capacidade de trabalho. Acabou a um nível altíssimo, que culminou com essa chamada à seleção nacional, da qual fico muito orgulhoso. Mas vai ser tratado como qualquer outro elemento do plantel. Nem treinador nem jogador podem estar acima dos interesses superiores de um clube como o FC Porto.»

Desgaste perante os jogadores: «Para ser honesto, todo este desgaste foi acontecendo de forma natural. Nós sabemos que vivemos tudo de forma muito intensa e em nenhum momento se levantou a questão do desgaste para fora. Conseguimos, em determinado momento, circunscrever ao nosso espaço. Era algo que já era visível, que foi partilhado por mim e pelo Sérgio poucos dias antes do final da época.»

«O que posso dizer sobre os jogadores é que tenho a certeza absoluta que me conhecem. O jogador tem sempre a capacidade rápida e intuitiva de perceber quem está diante deles, o comportamento, o tipo de valores que está subjacente à pessoa que os lidera. Tenho a certeza que são capazes de fazer essa distinção e perceber de que forma é que me comportei sempre, com verdade e autenticidade e a garantir o máximo sucesso do clube. Não vou mudar o que sou, não vou ser diferente só por estar num cargo superior. Sou fiel ao que me ensinaram de berço e não abdico disso em nenhum momento. Terei um papel diferente, sobretudo em questões de tomada de decisão, mas mesmo aí fá-lo-ei sempre com congruência, no sentido de ser o mais justo possível. Sei que em alguns momentos não o serei, mas isso é a vida de um treinador.»

Última semana fez hesitar? «Tinha esta decisão pensada, fui maturando ao longo da época. Também me aconselhei muito com o meu pai, que é um senhor do futebol e que é a pessoa em que, nos momentos de tomada de decisão, recorro. Não falo muito com ele, mas às vezes basta um olhar para perceber o que está do outro lado. Percebendo também que a carreira dele foi construída um bocadinho nestes moldes, começando por adjunto e depois passando a solo, quis tentar perceber qual era o sentimento que ele tinha, sabendo eu que tinha presente dentro de mim aquilo que queria fazer.»

Radiografia ao plantel: «A grande preocupação, não querendo entrar em conflito com o presidente, são os ruídos que vão emergindo em determinados órgãos de comunicação social. A perda de um elemento, de outro... Mas, como disse no início, tenho plena confiança que quer o presidente, quer as pessoas da direção, vão caminhar no sentido de oferecer as soluções que o clube vai precisar. Conheço as pessoas, sei o que defendem. Se o portismo está cá entranhado dentro, em nenhum momento vamos querer associar algo que não seja positivo à grandeza do clube.»

«Sei que tenho gente à minha volta que vai defender os interesses do clube. Tenho a garantia da parte do presidente que vamos tentar garantir ao máximo uma consistência que já vem perfilada do ano anterior. Sei que teremos de fazer determinado tipo de vendas, não é novidade para ninguém. Estou ciente disso. Sei também o que está do lado de lá do balneário em termos de potencial, o que podemos alavancar. Conheço aquele balneário como ninguém e sei o que os jogadores podem oferecer. Quando tivermos que afinar determinados pormenores, afinaremos. Também ainda estamos na fase do namoro inicial entre mim e a estrutura. Vão haver momentos em que vamos divergir, mas é aí que vamos crescer.»

Equipa técnica: «Não a tenho totalmente definida ainda, para ser claro. Temos dois nomes já fechados, um deles o Nuno Piloto e o outro o Carlos Pintado. Há aqui espaço para integrar mais um ou outro elemento e é um dos dossiers que queremos atalhar e atacar o mais rápido possível. Sabemos da urgência em tratar esse tipo de dossiers. Para além da competência de cada um nas suas funções, gosto muito que isso caminhe de mãos dadas com os valores de cada pessoa. Essa é uma condição para integrar este tipo de equipa, que eu quero que aconteça, onde cada um saiba balizar o seu espetro de atuação, mas ao mesmo tempo consiga colocar-me desafios, me questione e faça pensar. É um dossier que será fechado muito em breve, vamos atacar nas próximas horas, nos próximos dias no sentido de fechar o mais depressa possível.»

A situação de Pepe: «Sinto-me demasiado pequenino a falar do Pepe. É um símbolo do clube, uma referência para todos nós e com a qual me identifico muito. Cresceu do nada e foi evoluindo. Encarna na perfeição todos os valores e desígnios do FC Porto. É uma conversa que terei de ter com o presidente nas próximas horas. Quero falar com ele e transmitir a minha sensação, perceber qual é o melhor caminho. Quero também falar com o Pepe e tomar a melhor decisão. É um dossier complexo e que obriga a alguma capacidade de perceber até que ponto devemos ou não atuar, sem magoar e nunca melindrar o Pepe. É uma pessoal pela qual tenho uma estima muito grande. Ele partilhou em determinado momento que queria auscultar o corpo dele no Europeu para depois tomar uma decisão. Será nessa base que vamos atuar, estando em contacto e percebendo a sensação dele, sempre na certeza de que é alguém que fará sempre parte da história do FC Porto.»

Relação com Sérgio Conceição: «Obviamente que deixa marca. Sou muito grato ao Sérgio por todo o percurso que fizemos, por momentos difíceis que passámos. Não falo só do FC Porto, mas do que foi passado em Olhão, em Braga, em Coimbra, em Nantes, em Guimarães. Todos eles com uma marca e uma página de sucesso, exceção feita ao Vitória, em que não corre tão bem. Estou eternamente grato. Deixa marca, mas não guardo rancor a ninguém. Vivo com a minha consciência e tenho claro que em nenhum momento fugi dos meus valores. Também espero, nestes 13 anos de acompanhamento, ter contribuído em alguma parte para o sucesso do Sérgio. É a minha esperança e que também vive comigo.»

Situação financeira é desafiante para atuar no mercado: «O principal desafio é por a equipa a ganhar e isso, de uma forma ou de outra, vai ter de acontecer. Ou sim ou sim. Olhar para o ouro da casa não é olhar como uma solução de recurso, é olhar para eles com os olhos que têm de ser olhados. Havendo valor, é preciso ter coragem de apostar, de assumir e transmitir. Perceber que o talento por si só não vai ganhar jogos, mesmo que eles tenham esse conhecimento. Terão sempre de associar o talento à capacidade de trabalho para poder construir uma carreira. Não lhes vou dar descanso. A partir do momento em que identifiquemos valor e capacidade para fazer parte de um plantel profissional do FC Porto, não será solução de recurso, mas de primeira.»

«Obviamente, terá de ser alicerçado em alguma coisa. Não pode ser só à base de gente jovem, é preciso uma mescla, gente já capaz e experienciada. Agora, também sou daqueles que não hesita em apostar quando tiver que apostar. A partir do momento em que sentir que há qualidade do outro lado... Há muita gente que é diz que é preciso ter cuidado e não queimar etapas, olhar para eles com os olhos certos. Se estivermos sempre à espera do momento certo, nunca mais avançamos.»

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