A Volkswagen apresentou um plano de redução de custos ao conselho de trabalhadores que poderá evitar o fecho de fábricas na Alemanha.
A possibilidade de a Volkswagen fechar três fábricas na Alemanha, que nunca aconteceu nos seus 87 anos de história, espelha a gravidade dos problemas que afetam (especialmente) a marca e que arrastam o grupo.
O construtor alemão lida com problemas em várias frentes: a procura na Europa está em baixa, as vendas na China estão em queda ao mesmo tempo que a concorrência nesse mercado cresce em intensidade (guerra de preços).
No caso do mercado europeu, este ainda não recuperou para os níveis pré-pandemia: estão-se a vender menos dois milhões de carros por ano do que nos últimos anos da década passada. O que se traduz, na marca Volkswagen, em menos 500 mil carros vendidos ao ano.
Matthias Leitzke Fábrica da Volkswagen em Wolfsburgo.Face a este cenário, os resultados financeiros apresentados ontem não surpreenderam. A marca Volkswagen, apesar de ter registado um ligeiro aumento nas vendas a nível global nos primeiros nove meses do ano, viu a sua margem operacional cair para 2,1% (3,4% em 2023), a mais baixa desde o tempo da pandemia. O objetivo traçado era o de atingir mais de 6% em 2026.
É um valor insustentável para suportar futuros investimentos e, por isso, para recuperar a competitividade, é necessário reduzir drasticamente os custos, contemplando até o fecho de fábricas na Alemanha.
Custos elevados
O problema dos custos de produção elevados na Volkswagen não são de agora, mas também nunca foram devidamente resolvidos. De acordo com o diretor-executivo da marca, Thomas Schäfer, os custos operacionais são 25% a 50% acima do esperado. Algumas fábricas são duas vezes mais caras de operar que as dos concorrentes.
“Não nos esquecemos de como construir grandes carros, mas os nossos custos de produção estão longe de ser competitivos”.
Arno Antlitz, diretor financeiro da VolkswagenAs medidas propostas pela Volkswagen para reduzir os custos são drásticas e acentuaram as tensões entre a administração e o conselho de trabalhadores, levando a manifestações e paragens de produção em várias fábricas alemãs.
Após uma primeira ronda de negociações, o único aspeto em que as duas partes estão em concordância é sobre os problemas, mas sobre as soluções estão em campos opostos. Mas agora, surgem os primeiros sinais de esperança. A Volkswagen apresentou um plano de redução de custos para a segunda ronda de negociações, sem nunca ser mencionado o fecho de fábricas no país.
O que propõe a Volkswagen?
Daniela Cavallo, a líder da comissão de trabalhadores, diz que as últimas propostas do construtor representam “um primeiro pequeno sinal” de progresso. No entanto, apesar disso, admite que o fecho de fábricas não está ainda totalmente descartado por parte do construtor.
Entre as medidas propostas, uma das principais implica um corte salarial geral de 10%. Inicialmente, o sindicato IG Metall, que lidera as negociações, tinha proposto um aumento salarial de 7%.
Mesmo com um corte de 10%, Arne Meiswinkel, o responsável pelas negociações da Volkswagen, disse que os salários continuariam a ser “muito atrativos” na empresa. Nada foi dito sobre o congelamento salarial durante dois anos (2025 e 2026) que tinha sido proposto antes.
Outra das medidas implica a revisão do sistema de bónus, incluindo a eliminação dos bónus de aniversário e outro, de 170 euros por mês, acordado coletivamente.
© Volkswagen Entrada da Fábrica da Volkswagen em Zwickau.Também as condições de contratação dos trabalhadores temporários e o número de estagiários contratados anualmente fazem parte das medidas de redução de custos propostas pela Volkswagen.
Além disso, mantém-se em cima da mesa a proposta de terminar com o contrato de salvaguarda de postos de trabalho acordado em 1994, que só deveria expirar em 2029.
“Acreditamos que este conjunto de medidas é fundamental para a Volkswagen manter-se competitiva e, derradeiramente, salvar postos de trabalho a longo prazo”.
Arne Meiswinkel, responsável pelas negociações da VolkswagenE agora?
As medidas de redução de custos vai abranger 120 mil trabalhadores da Volkswagen na Alemanha, que estão distribuídos pelas fábricas de Wolfsburgo, Braunschweig, Hanover, Salzgitter, Emden e Kassel. Inclui ainda os funcionários da Volkswagen Financial Services, da Volkswagen Immobilien GmbH e da dx.one GmbH.
A apresentação destas medidas é o início para novas e difíceis negociações, com a próxima ronda a acontecer no dia 21 de novembro. No entanto, mantém-se os alertas de greve a partir do dia 1 de dezembro.