Willkommen, Sancho: Príncipe de Dortmund quer recuperar poção mágica

Há jogadores que deixam saudades às respetivas massas associativas. Que o digam os adeptos do Borussia Dortmund, quando o assunto é Jadon Malik Sancho. O avançado protagonizou quatro temporadas de alto rendimento com a camisola dos die borussen, regressando agora à casa onde foi feliz, proveniente do Manchester United.

A pérola inglesa lapidada em solo alemão

Depois de impressionar nas Camadas Jovens - primeiramente pelo Watford e posteriormente pelo Manchester City - , o histórico emblema germânico não perdeu tempo em adquirir mais uma jóia na sua preciosa coleção.

Com apenas 18 anos, o jovem extremo abraçou o projeto na Alemanha, fenómeno que não era muito comum: num cômputo geral, as jovens promessas inglesas preferem desenvolver-se no próprio país para, futuramente, terem a oportunidade de atuar na Premier League, um dos mais conceituados campeonatos do mundo.

A turma que joga de amarelo pagou nove milhões de euros pelo atleta e, de forma a aprimorar o ritmo competitivo da sua nova peça, face a uma realidade distinta, integrou o novo camisola '7' no conjunto secundário. Sancho estreou-se então como profissional no dia 9 de setembro, diante do SV Rödinghausen (3-2), num duelo a contar para o quarto escalão. 

Os primeiros minutos com a equipa principal acabariam por surgir dias depois: no dia 21 de outubro, o técnico Peter Bosz lançou o miúdo para a batalha, aos 86', no embate frente ao Eintracht Frankfurt (2-2). Apesar de não ter feito o gosto ao pé, a eficácia era bem distinta no palco da Youth League.

Na maior prova europeia sub-19, Jadon Sancho mostrava toda a sua apurada capacidade técnica e veia goleadora. O avançado apontou três golos nos cinco encontros disputados, num plantel onde conviveu com Alexander Isak, atual ponta-de-lança do Newcastle.

As boas exibições do avançado levaram-no a alcançar a titularidade na equipa A, numa primeira época de plena adaptação: em 12 partidas, o desequilibrador apontou um golo e quatro assistências. Destaque para a prestação individual diante do Eintracht Frankfurt (4-0), onde fez o gosto ao pé, servindo, ainda, Max Philipp e Marco Reus.

Porém, tal como a direção dos die borussen previa, a jovem promessa acabaria mesmo por explodir. Nas três temporadas que se sucederam, Sancho contabilizou 49 disparos certeiros, bem como 53 passes para golo (!), tornando-se, indiscutivelmente, numa das principais referências do emblema alemão.

Quem o viu e quem o vê...

O internacional inglês não deixou os grandes tubarões europeus indiferentes. Contudo, um clube de Manchester mostrou maior interesse em obter os serviços do prodígio e, desta vez, não foram os citizens a chegarem-se à frente. O rival Manchester United abriu os cordões à bolsa, pagando 85 milhões de euros pelo destro, num contrato válido até junho de 2026.

«Serei sempre grato ao Dortmund por me ter dado a oportunidade de jogar futebol de primeira linha, embora sempre soubesse que voltaria um dia a Inglaterra. A chance de ingressar no Manchester United é um sonho que se tornou realidade e mal posso esperar por jogar na Premier League», referiu, após a oficialização do novo vínculo.

No entanto, os problemas ocorreram de forma precoce. Segundo a imprensa britânica, o extremo teve uma infeção auditiva delicada, levando o jovem futebolista a começar a treinar com o restante plantel a uma semana do arranque oficial da temporada. 

Desta forma, acabou por não ser titular nas duas primeiras disputas da turma de Ole Solskjaer, entrando aos 75' e 59, frente ao Leeds United e Southampton, respetivamente. O impacto de Jadon Sancho estava muito longe do expectável, com o avançado a assumir dificuldades nesta nova filosofia futebolística.

A verdade é que nos 14 jogos inaugurais em que foi utilizado, Sancho não conseguiu rubricar o seu nome na lista dos marcadores, ou até mesmo na dos assistentes. A instabilidade no sistema tático também não ajudou, com o londrino a ser testado em alguns treinos como ala direito, num esquema de três centrais.

Numa entrevista ao The Athletic, o técnico dos red devils garantiu que o reforço foi contratado para atuar pela direita, algo que viria a ser um grande problema: «Queremos tirar o melhor dele, mas ele prefere jogar pela esquerda», posição onde Marcus Rashford costuma ser regularmente utilizado.

Da falta de rendimento à falta de disciplina

Com a chegada do interino Ralf Rangnick para o comando técnico, no final de novembro, perspetivava-se uma nova janela de oportunidade para Sancho mostrar todo o seu valor. Para deleite do avançado, as dinâmicas propostas pelo treinador de 65 anos aproximavam-se com as da Bundesliga.

O treinador alemão confessou que Sancho era um dos atletas com maior rendimento nos trabalhos coletivos, mas picou-o em diversas conferências, para que o mesmo traduzisse as boas amostras onde realmente interessa: nos jogos. Todavia, este desejo não se concretizou: o destro terminou a época 2020/21 com oito contribuições em 38 oportunidades. Um registo muito pouco satisfatório...

A inconsistência exibicional do United parecia não ter fim à vista e, como tal, Erik ten Hag, ex-Ajax, foi o escolhido para endireitar o barco. Todavia, as divergências entre o mister e o extremo acabaram por intensificar uma situação já conturbada. O treinador neerlandês, por múltiplas ocasiões, mostrou-se pouco condescendente com a atitude do internacional pelos Three Lions nos treinos, algo que gerou revolta no alvo das críticas.

«Por favor, não acreditem em tudo o que lêem. Eu não vou deixar que as pessoas digam coisas que não são verdade. Eu treinei muito bem esta semana. Eu acredito que existiram outras razões para esta escolha. Tenho sido um bode expiatório por muito tempo e acho que não é justo», escreveu na plataforma digital X, após não ter sido convocado para o jogo frente ao Arsenal.

A mensagem não caiu bem à direção do prestigiado emblema. O jogador de 23 anos acabou por ser afastado do restante grupo, treinando à parte, numa controvérsia que correspondeu à última gota. O confronto caseiro contra o Nottingham Forrest (3-2), no dia 26 de agosto, seria mesmo a última vez em que Jadon Sancho iria pisar o relvado com a camisola do Manchester United.

O regresso a casa com «um sorriso no rosto»

Tal como em múltiplos contos com finais felizes, no atual defeso, o britânico acabou por retornar ao emblema onde escreveu os capítulos mais coloridos da sua carreira, até ao momento. Desta vez, ao entrar no Signal Iduna Park, acabou por receber a camisola '10', número de craque, demonstrando toda a confiança que os dirigentes do emblema germânico depositam em si.

Apesar do negócio se ter realizado nos moldes de empréstimo, com a duração do vínculo a estender-se até ao final da presente campanha, Sancho mostrou-se radiante por regressar a um local que já lhe deu tantas alegrias, e vice-versa. 

«Quando entrei no balneário, senti como se estivesse a voltar a casa. Conheço o clube por dentro e por fora. Sempre estive muito próximo dos adeptos e nunca perdi contacto com os dirigentes. Mal posso esperar para ver os meus companheiros novamente, entrar em campo. Jogar futebol com um sorriso no rosto, criar golos, marcar e ajudar na luta pela Liga dos Campeões», destacou.

Esta motivação foi visível logo no primeiro teste. No Merck-Stadion am Böllenfalltor, diante do Darmstadt 98 (0-3), Jadon Sancho foi chamado a jogo aos 55', sob uma onda de aplausos dos adeptos forasteiros. 22 minutos depois, Sancho desmarcou-se nas costas da defesa dos die lilien e serviu, com um passe preciso, Marco Reus, um dos «seus grandes amigos.»

Na sequência de indícios promissores, o avançado não terá que aguardar muito por uma nova chance para mostrar o seu valor. O Borussia Dortmund defronta, este sábado, o FC Köln, em mais um embate para a Bundesliga, num estádio que certamente tem saudades do seu bailado.