Apoiantes de Macron conformados com dissolução do Parlamento e "futuro incerto"

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Para Loïc, de 24 anos, com novas eleições no final de junho e a extrema-direita a ganhar força o futuro é complicado, mas "em todo o caso, uma mudança estava destinada" nas eleições presidenciais de 2027, em que Emmanuel Macron não se candidataria por atingir o limite de dois mandatos.

"Acho que é uma coisa boa para a democracia, ou seja, a França não se limita a ter duas eleições por ano e ouve as pessoas e os resultados", afirmou Loïc à Lusa. "É preciso ouvir outras opiniões primeiro e, se tivermos de conseguir viver com elas, é agora", com a convocação de eleições legislativas antecipadas, adiantou o jovem apoiante do partido Renascimento.

Já Morgane, de 25 anos, "não estava à espera de um anúncio do Presidente da República esta noite", referindo à Lusa que tem "toda a confiança na boa decisão dele [Emmanuel Macron]". Assim, "as pessoas têm uma oportunidade de se exprimirem, mais uma vez, para constituir um novo Parlamento".

"Estamos a viver tempos conturbados e é importante regressar aos nossos valores republicanos, ter confiança nas escolhas com que nos comprometemos", disse Morgane. "O futuro da França é bastante incerto e vai depender muito da escolha feita pelos franceses a 30 de junho", data da primeira volta das eleições presidenciais.

"É verdade que é uma decisão lógica, tendo em conta a ascensão da extrema-direita nestas eleições, e (...) é certamente a melhor decisão que poderíamos ter tomado neste momento", disse à Lusa um outro militante da coligação liderada pelo partido de Macron, A Europa é Precisa, que não se quis identificar.

Durante o anúncio da primeira projeção, os cerca de 300 militantes do partido reunidos na Maison de la Mutualité, em Paris, reagiram num misto de surpresa e contestação à projeção que ditou o segundo lugar para a principal candidata, Valérie Hayer, nas eleições europeias, e a vitória da extrema-direita.

As palmas iniciais foram depressa substituídas por expressões de desagrado, ao verem as projeções que ditaram o segundo lugar para o partido, com 15,2% dos votos, contra 32,4% do partido de extrema-direita União Nacional (RN, sigla em francês), liderado por Jordan Bardella.

"É uma catástrofe", disse uma militante à Lusa, que não quis ser identificada, acrescentando ter "esperança que este não fosse o resultado", após as primeiras projeções do canal TF1 ficarem visíveis em dois grandes ecrãs.

O partido de Macron garantiu assim apenas 14 eurodeputados, dos 81 que são eleitos pela França até à próxima legislatura do Parlamento Europeu em 2029. Já o RN, de Marine Le Pen, conseguiu eleger 31 deputados.

"Eu sou pró-europeia e sinto-me mal pela minha Europa, já não reconheço o meu país", disse à Lusa Claire, de 33 anos, referindo estar desiludida, já que o Presidente francês é "pró-Europa" e que, por isso, não percebe a escolha da França nestas eleições.

Estas eleições europeias são vistas em França como uma antecipação para as presidenciais de 2027, com votos de protesto contra Macron, com impacto futuro na composição do parlamento francês.

Também nas eleições europeias de 2019, o partido de extrema-direita tinha vencido por pouco a coligação de Macron, 23,34% contra 22,42%, respetivamente.

A plataforma europeísta de esquerda de Raphaël Glucksmann, que junta o Partido Socialista e o Place Publique, teve uma grande subida, registando 14,3% votos, muito próximo do que Valérie Hayer conseguiu, elegendo assim 13 eurodeputados. Em 2019, a coligação de esquerda teve 6,19%.

Após estes resultados, irão iniciar-se as negociações para a constituição dos grupos políticos, que poderão prolongar-se até à primeira sessão plenária do Parlamento Europeu.

Nas listas eleitorais francesas estavam inscritas 49,5 milhões de pessoas para votar nas eleições europeias de 2024, mais 2,2 milhões do que nas eleições de 2019, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos.

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