Arábia Saudita e Irão introduzem "contradições" nos BRICS, diz Luís Filipe Menezes

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Desde 01 de janeiro o grupo inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (de onde deriva a sigla BRICS) integra mais cinco elementos, com a entrada da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Etiópia e Irão, aumentando a presença islâmica neste bloco, que agrega agora quase metade da população mundial e um conjunto de recursos que incluem 44% do petróleo global.

Em declarações à Lusa, Luís Filipe Menezes admitiu que a nova composição dos 10 Estados em causa -- a Argentina poderia tornar-se ainda este ano o 11.º membro, mas tem vindo a afastar-se do bloco com o novo Presidente Javier Millei -- traz "algumas contradições", destacando o exemplo do Irão e da Arábia Saudita, que tentam ambos ser hegemónicos no Médio Oriente, apesar de terem recentemente, sob os auspício da China, restabelecido relações diplomáticas.

"Não pode haver maior contradição, mas há muitas outras e se olharmos para o próprio trajeto dos BRICS vemos que os projetos andaram devagar e pouquinho mesmo", afirmou Menezes à Lusa numa conferência organizada conjuntamente pelo Observatório do Mundo Islâmico e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, sobre o alargamento dos BRICS a países islâmicos.

"Os projetos ligados, por exemplo, às financeiras. Foi preciso a China pegar no dinheiro e meter em Xangai para haver uma primeira instituição com algum peso, mas, por exemplo, projetos com os da cablagem, da fibra ótica de ligação dos países ficaram pelo caminho", respondeu.

Um aspeto positivo dos BRICS, salientou Luís Filipe Menezes, foi o conseguir "fazer repensar todas as organização internacionais" para que sejam capazes de enfrentar o mundo novo, que passa sobretudo pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e de todo o conceito das próprias Nações Unidas.

Os BRICS, afirmou, "são os filhos dos aspetos mais negativos e mais positivos da globalização".

"São filhos de uma parte negativa pelo facto de que os núcleos organizativos daquilo que deveria ter sido o progresso imparável, económico e social do mundo, centrado, nomeadamente na União Europeia (UE), eventualmente nos países da América do Norte, América, Canadá, México, falharam completamente enquanto líderes de uma harmonia global que trouxesse crescimento com desenvolvimento com solidariedade, com paz. Pelo contrário, houve uma tentativa de imposição de modelos culturais de modelos de governação, muito estandardizada, uma certa americanização do mundo", explicou.

Para Luís Filipe Menezes, a parte positiva passa pelo facto de, face justamente a essa globalização, os BRICS terem tido no princípio do século XIX "crescimentos económicos muito fortes" o que permitiu que "recuperassem de situações de debilidade política anterior", tal como são os casos da Federação Russa, do Brasil e da China.

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