Asiáticos podem dar vitória a Kamala, mas estão divididos

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A região leste do decisivo da Carolina do Norte, onde se situa Morrisville, é lar para perto de 100 mil cidadãos de ascendência indiana, e as sondagens indicam que a vitória neste estado norte-americano poderá ser decidida por poucos milhares de votos.

Na noite de quinta-feira, a comunidade celebrou uma das festividades mais importantes do calendário hindu, o Diwali, que se prolonga até hoje.

"É uma festa que celebra a vitória do bem sobre o mal", explica à Lusa a jovem Pritti, enquanto dispõe nas mesas cartazes com os nomes de Kamala Harris - filha de uma imigrante indiana - e do candidato democrata a vice-presidente, Tim Walz. No verso dos mesmos estão os nomes escritos em hindi.

"E não queremos um homem mau na Casa Branca. Queremos voltar a ter sanidade no país", completou Pritti entre risos, compondo o vestido 'sari' cor-de-rosa.

A Carolina do Norte foi o estado onde nas últimas eleições Donald Trump ganhou por uma margem mais estreita, tendo perdido pontos em relação a 2016, e é neste estado que repousam muitas das esperanças democratas de evitar um regresso do republicano à Presidência.

O cheiro intenso a especiarias que sai do salão onde se vão concentrando indiano-americanos e gente de outras origens asiáticas, contrasta com a monotonia da bucólica da paisagem de Morrisville, feita do verde das árvores, do alcatrão das estradas e de lojas de 'fast-food'.

Satish Garimella, 'mayor' da cidade, esteve com Kamala Harris nos bastidores do comício que a candidata democrata deu na cidade de Raleigh na quarta-feira, e relata à Lusa que ao seu lado estavam mulheres que se afastaram do Partido Republicano devido a Donald Trump e que estão a fazer campanha por Kamala. 

"Não é apenas a questão de ser alguém indiano-americano. Uma mulher na Casa Branca é mais importante. É altura de termos lá uma mulher", adianta à Lusa.

A própria Índia tem tido mulheres no cargo de primeiro-ministro desde os anos 1960, frisa.

"Os Estados Unidos ainda não o fizeram. É altura de vermos a mudança", sublinha Garimella.

Durante a campanha, Trump tem colocado em causa a genuinidade das raízes de Kamala Harris - cujo pai era africano de origem caribenha - e pronuncia repetidamente mal o primeiro nome da atual vice-presidente: em vez de colocar a sílaba tónica no primeiro A, como a maioria dos norte-americanos, coloca no segundo A.

Assim foi num comício do candidato a que a Lusa assistiu em Atlanta na segunda-feira. Não apenas Trump, mas todos os republicanos que subiram ao palco. 

Este aparente desinteresse - ou até desrespeito - por culturas e identidades de fora dos Estados Unidos tornou-se diversas vezes assunto da campanha. E até de material de propaganda, sendo frequente ver apoiantes da candidata democrata a usar t-shirts com um dos logos que fazem a sua identidade visual: uma vírgula enorme (que em inglês se pronuncia como as duas primeiras sílabas do nome Kamala) com um "la" no centro.

Satish Garimella, que pronuncia com correção o nome da candidata democrata, concorda que as eleições de 05 de novembro são também sobre uma ideia multicultural dos Estados Unidos, que vê representada na herança asiática e africana de Harris.

"Tem tudo a ver com diversidade e o 'melting pot'", ou caldeirão de povos que os Estados Unidos foram desde a origem, defendeu.

Na Carolina do Norte, as comunidades asiático-americanas aumentaram 68% nos últimos 10 anos, atingindo mais de 440 mil pessoas, sobretudo de origem indiana. Grande parte concentra-se no "triângulo" de Raleigh, Durham, Chapel Hill, no centro do qual está Morrisville.

Mas mesmo aqui, Trump é popular, sobretudo entre homens de negócios que acham que representa impostos mais baixos, como reconhece Satish Garimella.

"Mas na realidade os negócios deles expandiram-se igualmente com [o atual Presidente, Joe] Biden e Trump. É uma fobia que estão a promover. (...) Isto não tem a ver apenas com os negócios deles, é uma mentalidade mesquinha em que o 'quanto tenho no bolso' se sobrepõe ao que é melhor para o país", afirma o 'mayor'.

"É uma falha. Estou a pregar-lhes todos os dias e espero que consiga dar-lhes a volta", afirma o democrata, que confessa ter amigos nesta situação.

Enquanto ajuda nos preparativos para o Diwali, o profissional de tecnologias de informação Kima Murthi afirma que vai votar Harris, mas também reconhece que a comunidade está dividida entre os dois candidatos. Algo que atribui a mensagens eficazes da campanha republicana direcionadas à comunidade.

Estas, sobretudo em vídeos, associam Trump ao popular primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Também na quinta-feira, o pessoal de campanha do ex-presidente não se esqueceu de colocar nas redes sociais uma mensagem a desejar "Feliz Diwali" a todos os norte-americanos de ascendência indiana. 

Murthi, que é também secretário do Partido Democrata do condado de Wake, a que pertence Morrisville, sublinha que os muitos milhares de eleitores de origem asiática seriam suficientes para decidir a eleição de terça-feira, que "deverá ser muito mais renhida" do que a dimensão da comunidade.

"Pode ser o bloco decisivo", afirma à Lusa. "As pessoas estão com ela... pelo menos as que têm visão de longo prazo", disse receosamente.

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