Atalanta de Gasperini: a construção de um sonho que está às portas da realidade

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Carrasco principal da época sportinguista, numa final europeia pela primeira vez na história e com a possibilidade de erguer um troféu, algo que - ignorando a Serie B - não acontece desde 1963. A Atalanta, humilde clube do norte de Itália, tem a oportunidade, esta quarta-feira, de carimbar um histórico e memorável passado recente com a conquista de um título.

Para compreender a dimensão do presente, é necessário perceber os contornos do passado. Nesse capítulo, os motivos para celebrar são bem menores que os atuais. Sempre mais preocupada com o que está abaixo que com o que vem acima, a Atalanta, apesar de não ser freguês habitual, era cara conhecida no segundo escalão do futebol italiano, sobretudo desde a década de 70 até 2011.

Scalvini, em Alvalade, diante de Viktor Gyökeres @Kapta+

Não obstante a este sobe e desce, a Atalanta sempre foi um clube respeitado no futebol italiano, clássico emblema da segunda metade da tabela e fornecedor confiável de qualidade à Squadra Azzurra: Roberto DonadoniGiampaolo PazziniRiccardo Montolivo e, agora, Giorgio Scalvini são bons exemplos.

O ioiô deixou de vir tão abaixo quando Gasperini assumiu o cargo, em 2016/17. Antes disso, ganhou rotação na formação da Juventus, teve uma passagem infeliz pelo Inter, no conturbado período pós-Mourinho, e tratou Génova como casa, após passar por lá oito anos. Contudo, o casamento perfeito foi em Bérgamo.

«É um ambiente gratificante, sem razões de queixa, que me faz continuar e não me cansa. As pessoas mostram-me muito amor e esgotam sempre o estádio para apoiar os nossos jogadores», afirmou o próprio treinador, em entrevista à Serie A.

Só sorrisos em Bérgamo desde 2016/17 @Getty /

Desde que o experiente italiano assumiu o cargo principal dos Orobici, a segunda metade da tabela nunca mais foi uma realidade - pior classificação em 2021/22, um oitavo lugar. 

Para abrilhantar o notável registo, é relevante analisar a folha das entradas, saídas e dos diferentes plantéis.

Num mundo de infindáveis milhões e de exorbitantes gastos, a Atalanta conseguiu aumentar a competitividade sem perder a cabeça: a transferência mais cara da história do clube é inferior a 30 milhões de euros e apenas sete são superiores a 20 milhões. Além disso, tendo em conta as milionárias vendas, há lucro, bastante apetecível e necessário em todo o clube que quer crescer; Rasmus Hojlund, na época passada, foi a maior venda do clube (75 milhões de euros para o Manchester United).

Resta ainda olhar para os diferentes plantéis, marcas registadas das ideias de Gasperini. Seja pela formação ou pelas contratações cirúrgicas, o plantel tem de estar, impreterivelmente, apetrechado com defesas rápidos, confiantes e confortáveis com bola, de médios versáteis, disponíveis fisicamente e prontos a pisar todas as zonas do terreno, e de avançados felinos, máquinas de pressão e de, claro, fazer golos. 

Final inglório para os italianos na Luz @Getty Images

Há, pelos vistos, estabilidade interna, seja no clube ou no futebol italiano. Recentemente, as garras também estão a ser mostradas no futebol internacional. Foram cinco presenças nas competições europeias em sete anos, com os quartos de final da Liga dos Campeões, em 2019/20 a serem o auge desta caminhada - queda em Lisboa, diante do Paris SG (1-2), ao cair do pano.

Por fim, esta edição da Liga Europa, oportunidade soberana para conquistar um troféu. Pela frente estará o invencível Bayer Leverkusen, a equipa da temporada 23/24. Ainda assim, há razões para acreditar: como se a distância de 90 minutos para o sonho não fosse suficiente, a Atalanta também tem o forte argumento de ter deixado o Liverpool, um dos candidatos à conquista da prova, pelo caminho.

«Não penso que ganhar um troféu faça necessariamente parte dos parâmetros pelos quais se avalia o sucesso. Cada um tem os seus próprios objetivos, mas se conseguirmos ganhar um troféu, é claro que ficaremos ainda mais satisfeitos», disse Gasperini, em entrevista à UEFA, sobre a final de quarta-feira.

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