BCE espera pico do crescimento salarial na zona euro no início deste ano

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Este é um resultado consistente com os acordos coletivos que conferem atualizações automáticas de salário indexadas à inflação do ano anterior e dará mais margem de manobra ao BCE para começar a cortar taxas ainda na primeira metade deste ano, projetam os analistas.

O Banco Central Europeu (BCE) projeta que o crescimento salarial na zona euro atinja o pico na primeira metade deste ano, um resultado consistente com a dinâmica conferida pelos acordos coletivos que abundam na moeda única e que permite um corte de juros ainda durante este semestre, como prevê o mercado.

O novo instrumento da autoridade monetária europeia para medir a evolução dos salários na moeda única aponta para um crescimento salarial ainda elevado no arranque do ano, projetando o pico deste fenómeno no início de 2024, mas sem abrir o jogo quanto à evolução das taxas de juro. Dada a incerteza que tem revestido a economia global e europeia, o BCE procura assim, juntamente com os bancos centrais nacionais, ter uma imagem mais nítida e rápida do mercado laboral na moeda única.

Estes dados não mostram ainda um ponto claro de inflexão, refere o BCE, o que parece consistente com os efeitos da inflação do ano anterior nos salários de 2024, lembra Pedro Brinca. O professor universitário e economista aponta aos acordos coletivos que vigoram em inúmeros sectores da economia da moeda única para explicar que este resultado é expectável.

Depois da inflação forte de 2023, muitos trabalhadores verão os seus salários ajustados automaticamente por mecanismos de indexação baseados na variação de preços na sua economia nacional, “que são os grandes responsáveis” pelos aumentos este ano e para 2025, e “dado que a inflação em 2024 será bastante mais moderada”, esta dinâmica deverá acalmar, projeta Pedro Brinca.

Por outro lado, com esta inflação mais baixa, “a taxa de juro real aumenta, o que faz com que o efeito de arrefecimento das taxas de juro [nominais] sobre a economia se torne ainda mais forte”, complementa.

“Gera-se assim um ‘círculo virtuoso’” que irá ajudar o BCE a ter a vertente dos preços controlada mais rapidamente. Ainda assim, para Pedro Brinca, a determinante quanto à decisão de corte dos juros será o PIB, dadas as dificuldades em que está a economia europeia.

O BCE tem colocado o foco da política monetária na evolução dos salários, temendo possíveis efeitos de segunda ordem na economia da moeda única. Alguns responsáveis da autoridade monetária e governadores de bancos centrais nacionais têm sugerido que os dados de maio sobre esta dinâmica poderão ser chave na decisão de avançar com cortes de taxas, uma visão que o governador do Banco de Portugal procurou contrariar.

Para Mário Centeno, “estar dependente dos dados não é estar dependente dos dados dos salários”, disse em entrevista à Reuters no final de janeiro. “Não precisamos dos números de maio sobre os salários para percebermos a trajetória da inflação”, acrescentou.

Já na semana passada, a presidente do BCE, Christine Lagarde, projetou aos membros do Parlamento Europeu que os salários se tornem uma componente cada vez mais relevante da inflação nos próximos trimestres. No entanto, a chefe do banco central mostrou-se confiante que estes aumentos estejam a ser, pelo menos “em parte”, absorvidos pelas margens de lucros das empresas, limitando o impacto na estabilidade de preços.

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