Chuvas atingiram Valência "de repente" e alerta só chegou a telemóveis à noite

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Foi "de repente, de repente", disse aos jornalistas Emiliano García-Page, o presidente do governo regional de Castela La Mancha, onde estão confirmadas duas mortes numa zona fronteira com a Comunidade Valenciana, a mais afetada pela tempestade.

As autoridades confirmaram até agora 72 vítimas mortais, 70 das quais na Comunidade Valenciana, onde imagens divulgadas pela polícia, pelos meios de comunicação social e nas redes sociais mostram centenas de carros amontoados em estradas e vias alagadas e cheias de lodo, algumas delas destruídas ou danificadas.

Os jornalistas perguntaram hoje ao ministro de Política Territorial, Ángel Victor Torres, numa conferência de imprensa em Madrid sobre a tempestade, se as populações foram avisadas com antecedência suficiente para se protegerem, sobretudo, na Comunidade Valenciana, fazendo eco de críticas ouvidas e escritas ao longo de todo o dia em meios de comunicação social.

A emissão de alertas da proteção civil compete aos governos regionais, seguindo os avisos da agência estatal de meteorologia (Aemet).

O ministro respondeu que, perante "um resultado dantesco" da tempestade, este é um momento de solidariedade para com as autoridades locais e com todos os afetados, assim como de explicar a situação no terreno e a resposta que está a ser dada.

"Haverá tempo de fazer a avaliação pertinente" do que aconteceu, disse o ministro do Governo espanhol.

Ainda assim, revelou uma cronologia de terça-feira relativa aos alertas e explicou que os serviços meteorológicos emitiram um aviso vermelho, o mais grave, para a província de Valência às 07:31 da manhã.

No entanto, o governo regional da Comunidade Valenciana só a partir das 15:00 elevou os níveis de alerta de proteção civil em algumas comarcas e, no caso da província de Valência, a mais afetada, só às 20:00 foi enviado um SMS (mensagem de texto) para os telemóveis que estavam na zona.

Segundo os relatos que vão sendo narrados aos microfones das televisões e rádios, quando o SMS chegou aos telemóveis de quem estava nas ruas e nas estradas, havia já vias inundadas e cortadas por causa das chuvas torrenciais.

Centenas de pessoas foram arrastadas pelas enxurradas dentro dos carros em que estavam e ficaram, por exemplo, presas durante toda a noite em duas das autoestradas da Comunidade Valenciana, num situação "muito complicada" que foi assim contada pelo próprio coordenador dos serviços de emergência de Valência hoje de manhã aos jornalistas.

O Ministério do Trabalho de Espanha e os sindicatos apelaram à responsabilidade das empresas, lembrando que a lei as obriga a zelar pela saúde e pela segurança dos seus trabalhadores e que em situações como a de mau tempo e com o aviso que havia na terça-feira para Valência, ninguém está obrigado a ir trabalhar.

A legislação espanhola estabelece o direito do trabalhador de "interromper a sua atividade e abandonar o local de trabalho" quando considerar que há "um risco grave e iminente para sua vida e a sua saúde".

A ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, pediu hoje às empresas das zonas afetadas pelo mau tempo para protegerem os seus trabalhadores.

"Há a obrigação de proteger a vida dos trabalhadores, faço um apelo para respeitarmos a legalidade e preservarmos a vida dos trabalhadores", pediu Yolanda Díaz, em declarações aos jornalistas no parlamento espanhol, nos mesmos corredores em que vários deputados questionaram que as empresas tenham mantido a atividade normal na terça-feira em Valência apesar do aviso vermelho da meteorologia.

O presidente do governo regional de Castela La Mancha, Emiliano García-Page, insistiu hoje em que as chuvas surgiram "de repente", com "uma envergadura desconhecida", e que os alertas e avisos num caso destes, "quando a natureza quer abrir caminho", não são suficientes.

García-Page, que é do Partido Socialista, como o Governo central, garantiu que Espanha melhorou muito os serviços de emergência e proteção civil em caso de catástrofe e que a coordenação entre os diversos níveis de administração funciona.

O presidente do governo regional da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, do Partido Popular, não foi ainda questionado sobre as questões dos avisos e dos alertas.

Várias regiões de Espanha estão desde terça-feira sob a influência de uma "depressão isolada em níveis altos", um fenómeno meteorológico conhecido como DANA em castelhano, que causou chuvas torrenciais e inundações.

Na última noite, a precipitação na região de Valência foi a mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966, de acordo com dados oficiais.

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