Como as PME portuguesas podem singrar na era da incerteza e da transformação digital

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Todos conhecemos a história de David e Golias, certo? Enfrentando o gigante Golias, o pequeno David atirou-lhe uma pedra com a sua funda e conseguiu derrotar o filisteu. Ser uma PME em Portugal é um pouco assim – a capacidade financeira pode não ser comparável à das grandes empresas, mas com inovação, adaptação e os conhecimentos certos, podem prosperar enormemente e continuar a ser, cada vez mais, o músculo principal que move o país.

Vivemos num ambiente de grande incerteza e disrupção – é o ‘novo normal’. Assim, ao olhar para o futuro, as PME portuguesas vão ter de empreender três transformações imperativas: a digital, a energética e a de talento, integrando as disrupções como oportunidades na sua estratégia.

Para alcançar o sucesso, no entanto, é imperativo que o CEO – seja presidente, proprietário ou diretor-geral – assuma a liderança deste desafio. A transformação digital, mas também energética, define a estratégia das empresas, e uma questão tão crítica não pode ser deixada para os colaboradores ou para as equipas de TI.

Tal como David, as nossas PME têm uma grande vantagem, que reside precisamente naquilo que também as torna mais vulneráveis: a sua dimensão. Num ambiente de digitalização urgente, com grandes disrupções – como a IA, que afeta todos os setores – em que a capacidade de adaptação, a agilidade e a flexibilidade se tornam cruciais, é essencial ser capaz de trazer novas propostas de valor para o mercado – e é aqui que ser pequeno é um trunfo.

Temos também de tocar na gestão de talento, pois as competências humanas únicas e insubstituíveis que geram valor comercial estão a tornar-se mais importantes. Também será preciso gerir gerações distintas e as suas diferentes necessidades, e implementar uma cultura de aprendizagem contínua para garantir a evolução.

Relacionado com o ponto acima, está a necessidade de saber mover-se neste novo ecossistema, onde os antigos modelos de I&D já não funcionam. As empresas precisam de fazer parte de comunidades dinâmicas com diversos agentes (universidades, start-ups, freelancers, consultores...) que contribuem com valor além das fronteiras tradicionais de cada setor e alimentam a empresa com as disrupções tecnológicas que permitirão trazer novas ofertas e serviços ao mercado.

Também imprescindíveis para o sucesso são as políticas para acelerar a transformação digital, que devem focar-se na educação e na definição de prioridades para dar resposta à realidade do tecido empresarial português, que é maioritariamente constituído por PME. É altura de acelerar os clusters e fomentar os ecossistemas.

Não podemos também deixar de mencionar a emergência climática. A resposta a esta questão reside na descarbonização e na digitalização da energia, acelerando a flexibilidade do lado da procura e tendo muito cuidado com as emissões de Alcance 3 (as emissões indiretas geradas a montante para permitir desenvolver as operações das empresas). Em Portugal as PME ainda não têm de reportar o seu desempenho em relação a estas emissões, mas o panorama está a progredir nesse sentido; para além disso, manter estas emissões sob controlo tem grande impacto no acesso das PME a financiamento e seguros, algo que lhes é imprescindível para continuarem a crescer.

É fundamental não subestimar o impacto da tecnologia. Com ela, as PME podem melhorar a competitividade através da eficiência e utilizá-la como um elemento de mudança estratégica. Esta é uma revolução emocionante, da qual as empresas portuguesas podem sair fortemente reforçadas – mas, tal como David, terão de saber jogar bem as suas cartas...

Este artigo foi desenvolvido no âmbito da iniciativa Nova SBE VOICE

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