CRÓNICA | Lágrimas caseiras no voo de Merino

2 meses atrás 62

Quando a bola começou a rolar em Estugarda, neste 22º dia desde o arranque do Campeonato da Europa, pairava no ar a sensação de que a competição estava apenas a começar.

Talvez fosse devido ao baixo risco de uma fase de grupos em que até a maioria dos terceiros classificados passaram, ou por ser o primeiro confronto entre candidatos assumidos... Certo é que, à medida que o jogo avançou, o nervosismo dos jogadores confirmou que esta se tratava de uma ocasião importantíssima e com muito em jogo.

Jogo bem disputado a nível físico @Getty /

Os holofotes incidiam sobre Kroos, que podia estar a jogar o seu último jogo, mas o camisola estava mais virado para o heavy metal do que para o canto do cisne e logo ao quarto minuto ceifou Pedri, que teve de ser substituído. O médio germânico escapou ao amarelo, mas deu o mote para um arranque de jogo que teve a agressividade como principal fator.

Nem 10 minutos depois, Rüdiger travou Olmo (o substituto de Pedri) com uma falta dura e o central não só ficou suspenso para as meias, como cedeu a Yamal uma enorme chance para abrir o marcador. Em torno de um cabeceamento promissor de Havertz, foram as faltas que pautaram o jogo, com Reum a ser amarelado e o espanhol Le Normand a ver também o cartão que o deixou suspenso para uma eventual meia-final. 

O marcador não mexia, nem ficava muito perto disso, mas o bloco do árbitro Anthony Taylor ia engordando com notas. Até ao arranque da segunda parte...

Wirtz, como lixívia para a roja

O que estava a fazer aos 16 anos? Se não era algo tão impressionante como o que Yamal anda a fazer, não precisa de ficar envergonhado - estamos todos a navegar nesse mesmo barco.

Wirtz manteve a Alemanha em jogo @Getty /

O prodígio do Barcelona já estava a ser um dos destaques espanhóis, tal como tem acontecido ao longo de todo o Euro, e aos 51 minutos desbloqueou o jogo com a sua terceira assistência na competição. Dani Olmo, bem habituado aos palcos alemães, bateu Neuer com uma bela finalização ao primeiro toque. Festa roja e desespero caseiro.

A partir daí, o jogo mudou por completo. A Espanha mexeu algumas peças e colocou as fichas todas em futebol de transição, enquanto Nagelsmann voltou a ser forçado a apostar em Fülkrug, o seu tradicional, como alvo dos passes curtos de Musiala e longos de Kroos. A aposta quase deu certa, com o avançado a atirar ao poste, mas nem essa tentativa, nem o potentíssimo remate de Andrich, foram suficiente para igualar o marcador.

Depois de um namoro com a morte, a Alemanha respirou de alívio aos 89 minutos, quando chegou o empate beijou a rede. Já sem Yamal em campo, foi o jovem da outra companhia - cinco anos mais velho, diga-se -, Wirtz, a causar a explosão de alegria com um remate de primeira, após um bom esforço de Kimmich na assistência. Assim, jogados 90 minutos, a única certeza era de que a bola continuaria a rolar.

Olmo foi o melhor em campo, ao abrir o marcador e ainda fazer uma bela assistência para o 2-1 @Getty /

Um salto para a fotografia (e para a história)

Muitos se aperceberam do risco que De La Fuente correu ao tirar Yamal e Williams bem antes dos 90 minutos. Quando o prolongamento chegou, e o jogo voltou à sua versão mais fechada, a ausência dos principais desequilibradores foi profundamente sentida.

Do outro lado, a Alemanha tentou agigantar-se da forma que precisava para manter viva a presença nesta competição que tem unido o país. Nem sempre conseguiu, por isso, e também graças a uma mão de Cucurella que o árbitro não viu, o equilíbrio continuou.

Parecia um jogo condenado a ser resolvido nas grandes penalidades, até que a Espanha imitou o adversário e fez um golo na altura mais dramática possível. Aos 119, Olmo - camisola 10 foi herói - fez o cruzamento perfeito e Merino, num voo espetacular (e algo fotogénico), decidiu um jogo memorável.

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