Das ligas profissionais à distrital: histórias de brasileiros (mais ou menos) famosos

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Portugal e Brasil: uma ligação com mais de meio século, e que ainda perdura. Desde que Pedro Álvares Cabral pisou terras de Vera Cruz em 1500, muitas foram as migrações do maior país da América do Sul para Portugal. 

Passando para o futebol, que é o assunto primordial retratado nesta reportagem, as emigrações de brasileiros para terras lusas são bem famosas e reconhecidas. Seja qual for a divisão, há um brasileiro presente.

zerozero procurou um ângulo distinto e foi à procura de jogadores brasileiros que jogaram nos mais altos patamares do futebol nacional, mas que, dadas as circunstâncias da carreira (sempre imprevisível) de futebolista, encontraram na distrital o conforto de que precisavam.

Os três casos são diferentes, mas iguais. A passagem pelos escalões mais altos do futebol português não os inibiu de descer de nível, até à base da pirâmide. Os motivos são diferentes, o propósito é o mesmo: continuar a fazer o que mais gostam e o que melhor sabem.

Da II Liga aos distritais, sem escalas

Após uma curta pesquisa, encontramos Felipe Augusto, o mais jovem (30 anos) dos três jogadores apresentados nesta reportagem, no Bairro FC, equipa que compete na divisão mais alta da AF Braga. Chegou a Portugal muito jovem, ainda com 17 anos, em 2011, pela via do SC Braga, para jogar na equipa de juniores. Seguiram-se Vidago e Tourizense, até o destino o levar novamente ao Minho, mais concretamente ao FC Vizela, num escalão bem mais modesto do que aquele em que agora compete. 

Felipe ao serviço do Vizela @Global Imagens / 10664

Em Vizela, Felipe foi muito feliz. Cinco temporadas, quatro delas no Campeonato de Portugal, sempre a lutar para subir ao segundo escalão. Em 2015/16, lá aconteceu a subida dos vizelenses, que tornou o objetivo dos campeonatos profissionais cumpridos. A passagem foi fugaz, visto que a equipa acabou por descer imediatamente, mas o brasileiro foi figura e acabou por voltar à II Liga, jogando por Trofense e Varzim.

Em 2020, em plena pandemia, o azar bateu à porta. «Rompi o tendão rotuliano e os clubes fecharam-me a porta, foi em época de pandemia e demorei muito tempo a recuperar, o que tornou tudo mais difícil», confessou ao nosso portal.

Depois de uma temporada sem competir, Felipe regressou à distrital e já está no terceiro ano nos escalões amadores, com passagens por Ribeirão, Serzedelo, Rio Tinto e agora em Bairro, no concelho de Vila Nova de Famalicão. A decisão de cair não foi fácil, mas dela não se arrepende: «Recebi algumas propostas de divisões superiores, mas optei pelo trabalho, é o que me dá mais segurança neste momento», referiu, adicionando que está a ser uma experiência «muito boa».

Depois de 12 anos ininterruptos em Portugal, o jogador do Bairro FC sente-se em casa: «Já me sinto português, estou em casa e quando acabar a carreira vou ficar por aqui, o Brasil agora é só para passar férias (risos).»

A longevidade de um globetrotter das divisões portuguesas

Poucos jogadores se podem gabar de terem jogado em todas as etapas do futebol português, mas Bobô é um deles. Aos 41 anos, o amor ao futebol levou-o a Tagilde, equipa vizelense que milita no último escalão da AF Braga. Mas calma, o percurso do experiente avançado em Portugal começou há mais de 20 anos, em 2000, nos juniores do extinto Campomaiorense: «O meu irmão jogava no Campomaiorense (Detinho) e ligou-me a dizer para vir à experiência. Mal cheguei, ele disse-me: 'O que eu pude fazer por ti, já fiz, agora é contigo'. E assim foi, depois de três dias a treinar com a equipa A assinei contrato profissional, mas joguei sempre pelos juniores.»

«Tive o privilégio de jogar em todas as divisões em Portugal e foi assim que cresci. Se eu chegasse e tivesse ficado na I Liga, não tinha crescido tanto cresci, seja como homem, seja como profissional de futebol», contou o brasileiro ao nosso jornal, que jogou pela primeira vez na primeira divisão com 32 anos, depois da subida administrativa dos axadrezados da antiga Segunda B para o escalão principal, em 2014.

Bobô jogou em época histórica dos axadrezados @Catarina Morais

«Foi um ano muito complicado. O Boavista passava por problemas financeiros e todos nos davam como o candidato à descida, e provámos a todos que estavam errados. Foi histórico, arregaçámos as mangas e demos tudo. Ninguém acreditava em nós e foi muito especial», relatou Bobô, sobre a temporada que passou no primeiro escalão. 

A arte de marcar golos não desapareceu com o avançar da idade: leva 15 tentos em 13 partidas no Tagilde. O segredo? «Trabalhar, que os golos aparecem. É o que sempre soube fazer melhor.» Os «treinos à noite e os jogos ao sábado» são a razão fulcral para a continuidade na distrital, que pretende levar até quando a saúde deixar. 

Seria difícil enumerar os 15 clubes que o avançado representou em Portugal, país que sente como seu e do qual sente «saudade», quando regressa à sua terra natal nas férias.

Bom filho (emprestado), a casa torna

Wagner é o nome mais familiar dos três. A sua longa carreira nas divisões mais altas do futebol nacional, aliada ao seu penteado inconfundível, tornam-no num perfeito conhecido dos mais atentos do fenómeno do desporto rei em Portugal. Com 36 anos, Wagner regressou ao Aliados de Lordelo, o seu primeiro clube em Portugal, e falou com o zerozero sobre a experiência. 

«Em 2022, estava no Vilafranquense e tive duas lesões complicadas, o que me fez jogar pouco. Vim treinar com o Aliados, à espera que aparecesse alguma coisa e o treinador desafiou-me a jogar aqui até resolver a minha vida e eu aceitei e acabei por ficar cá. Fizemos uma época positiva e lutámos para subir até ao último jogo, algo que infelizmente não conseguimos. Esta época surgiram coisas mais interessantes, mas os valores não me fizeram querer sair daqui», contou Wagner, à conversa com o nosso portal. 

Wagner destacou-se em Tondela @Global Imagens / Fábio Poço

Cinco temporadas na I Liga, seis na II. A carreira do extremo brasileiro em Portugal começou mesmo no Aliados, em 2008, clube pelo qual guarda «muita estima». Pelo meio destes 16 anos em Portugal, surgiram duas passagens, pela Polónia e Tailândia, mas que acabaram por ser muito curtas: «Em ambas saí por salários em atraso. Quem tem família, tem de colocar isso em primeiro lugar. Passei dificuldades, principalmente na Tailândia, onde a cultura e o futebol são muito diferentes.»

Depois de épocas de destaque no Moreirense e no Tondela, principalmente, Wagner está feliz na equipa de Paredes, que disputa a divisão de Elite da AF Porto, e não está com ideias de terminar a carreira em breve. «Enquanto me sentir bem e acordar com vontade de ir ao treino, vou continuar a jogar, sinto-me muito bem e motivado», disse, em jeito de remate, ao zerozero.

Brasileiros e famosos. Das ligas profissionais à paixão pelo futebol distrital.

Brasil

Bobô

NomeJosé Claudeon dos Santos

Nascimento/Idade1982-03-20(41 anos)

Nacionalidade

Brasil

Brasil

PosiçãoAvançado (Ponta de Lança)

V. Setúbal v Boavista Taça da Liga 2FG 2014/15

V. Setúbal v Boavista Taça da Liga 2FG 2014/15

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