DESTINO: SAUDADE – T3, Ep. 1 | «Tive duas ofertas do Benfica, mas o major Valentim a negociar era imbatível»

1 semana atrás 33

O futebol é muitas vezes um elemento de memória coletiva de uma família, de um país, do Mundo. É por isso que o zerozero, em associação com Rui Miguel Tovar, criou o DESTINO: SAUDADE. Este é um espaço onde vamos recordar histórias e momentos do desporto que nos apaixona. Haverá tempo também para lembrar jogadores de outros tempos, aqueles que nos encantaram e que nos fizeram sonhar.

Uma Taça de Portugal ganha pelo Estrela da Amadora. 
Uma Taça de Portugal ganha pelo Beira-Mar. 

Sempre no clube certo e à hora certa. Caetano, histórico lateral esquerdo dos anos 80 e 90, inspiradíssimo contador de histórias e co-artífice do Boavistão pré-título nacional. 

Isso mesmo. Entre 1984 e 1996, com três «fugas» pelo meio, Caetano veste a bela axadrezada em 159 jogos, brilha em inesquecíveis combates europeus e trabalha com nomes obrigatórios e incontornáveis do nosso futebol. 

Um convidado especial no regresso do DESTINO: SAUDADE. O primeiro programa da temporada 3 é pintado aos quadradinhos.  

zerozero - O que faz hoje em dia o Caetano, um dos jogadores dos anos 80 e 90 mais querido pelos boavisteiros?

Caetano - Estou há uns anos a trabalhar no scouting do Boavista, precisamente. Estive anteriormente a coordenar a formação. 

zz - Em 1984, Portugal jogou o Europeu de sub18 na União Soviética e os dois jogadores mais elogiados pela crítica foram o Paulo Futre e o... Caetano. E nessa altura não era lateral, mas sim extremo esquerdo e até fez dois golos. 

C - É verdade, eu era extremo de raiz, comecei assim nos iniciados do Feirense. Fui descoberto pelo clube nas mini-olimpíadas do concelho, uma prova que juntava as várias freguesias. Eu era um rapazito rápido e participava nos 100 metros, nos 110 metros barreiras, enfim, ia por ali fora quando era para correr. Havia também futebol e eu jogava pela freguesia de Escapães. O treinador António Luís, o Ferguson da Feira, descobriu-me e recrutou-me para os iniciados. Até ir para o Boavista. 

zz - Com 16 anos.

C - Talvez 15. Eu até fui antes treinar ao FC Porto, mas fiquei assustado, eram muitos jogadores e eu não tinha ainda capacidade para me destacar. Optei pelo Boavista, que seria mais confortável. Fiz dois anos nos juniores do Boavista, já a treinar com os seniores e o Henrique Calisto deu-me os primeiros jogos nos seniores. Nessa altura era extremo esquerdo e fazia parte das seleções jovens. 

zz - O Paulo Futre também era extremo esquerdo. Eram compatíveis? 

C - Tive sorte, porque normalmente o Futre jogava no escalão acima. Até esse ano, em que ele baixou para a nossa equipa e eu fiquei muito triste. O mister José Augusto percebeu, chamou-me e perguntou-me o que se passava. Disse-lhe a verdade, estava a sentir que ia perder o meu lugar para o Futre, mas ele descansou-me. 'Não, não, vais ser tu, o Futre e mais nove'. E ele lá nos encaixou. 

Caetano
3 títulos oficiais

zz - Como é que ele montou a equipa nesse Europeu de sub19? 

C - O Fernando Mendes era o lateral esquerdo, o Futre jogava onde queria e eu era o jogador que tapava o lado esquerdo quando o Futre não estava lá. Quando o Futre caía para lá, eu jogava mais no meio e entendíamo-nos. Tínhamos boa equipa, mas as coisas não eram tão sérias como são agora. Perdemos contra a Irlanda e acabámos por não passar da fase de grupos. Ganhámos à Grécia e empatámos com a Escócia. 

zz - Quem mais fazia parte dessa seleção?

C - Na baliza estava o Sérgio, depois jogavam o Samuel, o Carvalhal, o Eugénio, o Jorge Paixão, o Júlio Sérgio. Todos fizeram carreira na 1ª divisão. Mas o Futre estava muito acima do pessoal. Já era uma pessoa fantástica, aquilo que vemos hoje. Era um indivíduo do grupo, dava o peito às balas, era intocável. Era um colega de eleição, guardo memórias fantásticas dele. Fomos colegas de quarto durante três anos.

zz - Quando é que passou de extremo para lateral esquerdo? 

C - O Boavista tinha uma grande equipa e em 1985 fizemos a pré-época em Lamego. O treinador era o João Alves. Houve lesões, baixas e num particular em Famalicão nenhum dos laterais estava disponível. O Alves chamou-me, perguntou-me se eu podia jogar ali e eu disse a verdade: 'Mister, para mim do 11 para baixo está bom em todo lado'. Ele até disse que eu estava com uma moral do caraças (risos). Acho que fiz um bom jogo. Era um miúdo com 19 anos, não havia forma de treinar mal. Era só força, aplicação, disponibilidade. Estava no pleno das faculdades. As pré-épocas são boas para quem se quer afirmar. Para quem sabe que vai jogar, as pré-épocas são para gerir. 

«O João Alves tinha coisas de Pedroto e de Eriksson»

zz - Fez dez épocas no Boavista, mais de 150 jogos. Há algum que tenha sido o jogo da sua vida? 

C - É uma pergunta difícil... há um jogo que é marcante, contra a Fiorentina. Eu teria os meus 20 aninhos. Um jogo na Taça UEFA é diferente de um jogo do campeonato. Joguei contra jogadores que tinha visto no Mundial-82 a serem campeões do mundo. O Antognoni, o Gentile, o Oriali e dois miúdos de 20 anos, o Nicola Berti e o Roberto Baggio. Além do argentino Ramón Díaz. O Mundial-82 foi o primeiro em que eu vi os jogos todos, com atenção. E vi o Gentile a marcar o Maradona, o Zico, com as maluqueiras dele, e depois ali estava ele a jogar contra mim. Talvez tenha sido o jogo que mais me marcou, até porque eliminámos a Fiorentina nos penáltis

zz - Mas houve mais batalhas europeias memoráveis. 

C - Lembro-me de jogos duríssimos contra o Club Brugge e o Rangers. Na segunda parte nem saíamos da área, em Glasgow. O Hubart [guarda-redes] salvou-nos. Saímos de lá com um 2-1, mas era impossível passar, eles eram muito, muito fortes. São noites que marcam uma carreira. 

zz - E como era uma noite europeia no Bessa nos anos 80 e 90? 

C - Fantástica. Lembro-me do jogo contra o Brugge, que nessa altura tinha seis ou sete jogadores da Bélgica do Mundial de 86. Ceulemans, Verheyen, Degryse, os Van der Elst, o Broos, mais o Jean-Pierre Papin - que só nos fez três golos (risos). Esse jogo revela bem o que é ter ou não ter experiência europeia. Nós entrámos a perder, virámos para 3-1, tínhamos o Bessa cheio, ao estilo inglês, e empolgámos toda a gente. E o que fizemos? Quando tínhamos a bola e espaço, só queríamos correr. Fomos na conversa dos adeptos. A ganhar 3-1 tínhamos de pausar o jogo, deixar a bola sair, acalmar o ritmo, mas fomos atrás do ambiente frenético. Eles chegaram ao 3-3 e lá ganhámos 4-3. Em Bruges perdemos 3-1 e o Filipovic falhou de cabeça um golo impossível de falhar. E ele era um grande cabeceador. 

zz - O João Alves foi o treinador que mais vezes o colocou em campo: 138 vezes. 

C - Foi o treinador mais inteligente que tive (risos). 

zz - O segundo foi o Manuel José. Eram homens muito diferentes?

C - Muito, muito. O Manuel José era extremamente disciplinado, rigoroso, jogava com três defesas - ou cinco, depende da interpretação. Bom treinador, indiscutivelmente. Era uma figura, até pela compleição física dele. O Alves foi meu colega de equipa, bebia do Pedroto as malandrices e do Eriksson outras coisas. Ficou marcado por ambos. Do Eriksson replicava a pressão alta. Libertava propositadamente um dos laterais adversários, o que fosse pior tecnicamente, e depois mandava pressionar. Logo que a bola entrasse nesse jogador. Era assim que fazíamos. Trouxe-nos isso do Eriksson. 

zz - Portanto, Pedroto e Eriksson influenciaram muito o João Alves. 

C - Sim, na altura dizia-se que faltavam 30 metros ao futebol português e o Eriksson desinibiu-nos. O Benfica dele era uma delícia. Lembro-me de parar na Rua 31 de Janeiro, no Porto, a ver o Benfica-Roma numa televisão daquelas montras que havia. Não se jogava para o pontinho com o João Alves. Era um treinador para jogadores inteligentes. Nem toda a gente tinha a capacidade de ser treinado por ele. O Caio Júnior e o Ricardo Lopes são exemplos disso, dois dos mais inteligentes que vi. 

Caetano nos estúdios do zerozero @zerozero

«Fui expulso por um carrinho sobre o Nuno Campos»

zz - O Caetano ganhou duas vezes a Taça de Portugal e por clubes que só a ganharam uma vez: o Estrela da Amadora e o Beira-Mar. Que memórias tem dessas tardes? 

C - A final no Jamor é o jogo mais bonito. Participar na final e ganhá-la é o mais belo dia de um atleta. Ganhei duas vezes a taça e perdi uma vez contra o Benfica, pelo Boavista. Quando o Benfica era mesmo o Benfica. Apanhei o Vítor Paneira pela frente e, às vezes, o João Vieira Pinto. Dois atletas fortíssimos. O JVP pensava muito depressa, executava ainda mais depressa, era um craque. A primeira final, a de 1990, é a mais especial. Também por ser a primeira. 

zz - Qual foi o jogo determinante nessa caminhada? 

C - O jogo em Marco de Canavezes nos oitavos-de-final. Ganhámos 1-0, o Benfica e o Sporting já tinham sido eliminados. Quando chegámos ao balneário, soubemos que o FC Porto tinha perdido contra o Tirsense. Começámos a olhar uns para os outros: 'pá, se calhar esta é uma boa altura para metermos aqui uma flecha'. E fomos andando. Apanhámos o Tirsense a seguir, ganhámos 1-0 com um golo de Basaúla e frango do Lúcio. O Basaúla era um craque. E depois a nossa grande final, para mim, foi contra o Vitória. Equipa forte, estava em terceiro, empatámos na Amadora e fomos ganhar a Guimarães. Novamente o Basaúla a decidir, a passe de Ricardo Lopes. O Ricardo era um jogador de grandes momentos, fez um golo de calcanhar ao Buffon, na altura no Parma. 

zz - E na final? 

C - O Nélson Borges, um grande craque, fez o nosso golo. Jogava muito. Quando estávamos à rasca dizíamos sempre o mesmo: 'passa a bola ao Nélson'. Sofremos o empate do Farense mesmo a acabar e o pior é que eu e o Basaúla levámos amarelo e não pudemos jogar a finalíssima. Vi esse jogo na bancada. E também não tivemos o Ricky, porque tinha partido um braço em Guimarães. 

zz - Falemos agora do Beira-Mar. Da taça ganha pelos aveirenses. 

C - Pouca gente se lembra, mas poucas semanas antes tínhamos perdido por 4-1 em Campo Maior. O Fary marcou o seu golo e alguns jogadores do Campomaiorense esticaram-se em algumas atitudes. 

zz - O Fary era um bom avançado? 

C - Era, muito móvel. Trabalhador, dava tudo. Tenho uma boa história com ele. O Fary foi o melhor marcador da I Liga, mas chegou a Portugal para jogar no União de Montemor. Quando eu estava no Belenenses, íamos muitas vezes treinar a Montemor. O nosso treinador era o Manuel Cajuda. Aquilo ficava para aí a 150 km de Lisboa, era longe. Íamos chateados, perdidos da cabeça, não percebíamos para que é que íamos tão longe. Mas eu ainda brincava com o Filgueira: 'A dificuldade não é a viagem, é chegares lá e levares com aquele rapaz da frente'. O Fary não parava. Agora trabalhamos juntos no Boavista. 

zz - O Caetano foi expulso nessa final. Bem expulso? 

C - Isso tem uma história. Bem, quando se está a ganhar 4-0 tem de se respeitar o adversário. E alguns jogadores do Campomaiorense não o fizeram, no tal jogo no Alentejo. Eu tive uma entrada durinha sobre um desses jogadores. Não é difícil descobrir quem foi. 

zz - Isaías, Laelson, Demétrios?

C - Não, não (risos). Foi o Nuno Campos, antigo adjunto do Paulo Fonseca. Fiz-lhe um carrinho completamente fora de tempo, fui bater na câmara de um fotógrafo e levei um amarelo. Ainda se davam aquelas 'voadoras', que agora não se podem dar. E na segunda parte tive uma entrada sobre o Wellington e aí, parece-me, o árbitro Lucílio Batista exagerou. Vim para a rua e acho que nem lhe toquei. O Jorge Neves também foi expulso, ganhámos a taça com nove jogadores. O René Rivas, do Campomaiorense, viu o vermelho já nos descontos. 

zz - Onde é que assistiu ao golo do Ricardo Sousa?

C - Atrás da baliza, sentado. Até há uma foto engraçada, em que apareço eu e o Rivas sentados lado a lado, depois de ambos termos sido expulsos (risos). O Ricardo fez um golo épico. A finalizar, o Ricardo foi o melhor jogador que vi. Nunca rematava em força, cortava sempre em arco. Era impressionante, tal como o pai dele já era.

zz - O Ricardo era melhor do que o Timofte e o Sanchez a fazer isso?

C - O Timofte era um génio com a bola no pé. A malta dava-lhe um chouriço e ele transformava-o em bola. O Timofte era génio, o Sanchez era potência. 

«O Boavista era um clube regrado»

zz - O Boavista tinha a capacidade de ir buscar jogadores aos grandes. Há muitos exemplos. Timofte e Jorge Couto ao FC Porto. Já sentiam que o título de 2001 era possível? 

C - Confesso que não. Eu acho que o Manuel José começou a trabalhar o Boavista campeão, sim. Tínhamos disciplina, capacidade de recrutamento fortíssima e plantéis competitivos. Era mais difícil estar bem num treino de conjunto, onde se tinha de guardar a titularidade, do que no jogo de domingo. Caneleiras, chuteiras de pitões de alumínio e treinos duríssimos. O Jaime Pacheco foi apurando, mais tarde, esse Boavista. Mas era difícil perspetivar um Boavista campeão. 

zz - Depois do Paulo Futre, quais foram os melhores futebolistas que teve ao seu lado? 

C - Tenho de responder Pedro Barny (risos), porque é meu grande amigo. O Jaime Aves era um jogador genial, o Artur era fortíssimo, o Marlon Brandão, o Tavares era um central de eleição, a pensar e a executar. Foi do FC Porto para o Boavista e depois para o Benfica. O Rui Esteves também, tecnicamente sublime. O Ricky e o Zé Rafael eram pontas-de-lança ótimos, o Rui Casaca pela regularidade. Joguei ainda com o Caio Júnior, um craque e um cavalheiro. Antecipava a jogada, sabia sempre o que fazer. Pessoa fabulosa. E falta referir o Nuno Gomes, claro. 

zz - O poderio financeiro do Boavista ainda estava longe do dos três grandes nessa altura? 

C - Ainda havia uma diferença grande. O Boavista era um clube regrado. Andava nos patamares de Vitória, SC Braga, depois Chaves e Marítimo pagavam bem, para atrair jogadores. Ainda se demoravam quatro horas pelo Marão até Chaves. 

zz - Alguma vez recebeu convites para jogar num dos três grandes de Portugal? 

C - Tive duas propostas efetivas para ir para o Benfica. A primeira em 1984, antes do Europeu de sub18. Cheguei a reunir com o dirigente Júlio Borges e o presidente Fernando Martins no Estádio da Luz. O primeiro contacto foi feito pelo Fernando Caiado no Hotel Fénix. Na segunda vez já foi na altura do treinador John Mortimore. Da primeira vez acertei mesmo valores e pormenores. O Benfica ia vender o Chalana ao Bordeaux e eu seria o sucessor. Mas acabei por assinar contrato profissional com o Boavista. A negociar, o major [Valentim Loureiro] era imbatível. 

zz - Quem é que o Benfica acabou por contratar? 

C - O Wando, que jogava no SC Braga. 

«O major pegou nas notas e atirou-as ao ar»

zz - Como é que era o Valentim Loureiro nessa altura? A negociar prémios de jogo, por exemplo. 

C - Vou contar dois episódios marcantes. Uma vez antes de um jogo em Guimarães. Se o Boavista ganhasse, arrumava a questão do quarto lugar. Julgo que foi em 1987. Tínhamos um prémio tabelado de 30 contos [150 euros] contra os adversários europeus. O major era uma máquina. Entrou no balneário e disse: 'Isto é um jogo difícil, quanto é que vocês querem para irem ganhar àqueles gajos, pá?'. O Frederico era o capitão e lá disse 50 contos. 'Então dou-vos 100 contos e pago logo na semana do jogo!'. Nós íamos para o treino, já todos contentes, mas o major veio para trás e abriu a porta do balneário. 'Vão mesmo lá ganhar? Então dou-vos 250 contos!'. 

zz - E como correu o jogo? 

C - Fizemos um golo pelo Parente, de sola. Era um jogador extraordinário. E a 15 minutos do fim, o N'Kama empatou 1-1 e o árbitro Vítor Correia anulou. Bem, a malta começou a tirar pedras das bancadas, o Alfredo recusou ir para a baliza, o jogo acabou ali. Ganhámos 3-0, por decisão administrativa. O major pagou-nos primeiro 100 contos e depois 150. Saímos de Guimarães debaixo dos bancos, com o próprio major dentro do autocarro. E com tudo pago. 

zz - O jogo acabou aos 74 minutos. 

C - O Monteiro fez o cruzamento para o nosso golo. O treinador era o Pepe, antigo colega do Pelé no Santos e na seleção.  

zz - E a segunda história? 

C - Perdemos em Chaves 2-1, isso deu muita azia, e depois recebemos o FC Porto que seria campeão da Europa. O major aparece ao almoço, aos berros. 'Ninguém fala? Está tudo com medo? Qual é o prémio hoje?'. Ele dava bem a volta à malta. O Porto tinha uma equipaça. 'Major, hoje são 50 contos', disse o Frederico. E ele disse-nos que com o empate nos daria 125 contos. E 250 em caso de vitória. 'E pago no fim de jogo. Mas, se perderem, têm de me dar 30 contos'. Bem, a malta começou a ficar assustada. Mas lá arriscou. O Bessa estava cheio, havia chuva miudinha, empatámos 1-1. Golos de Futre e Zé Rafael.  

zz - E receberam os 125 contos? 

C - Ainda antes do jogo, o major chamou um diretor e o fulano trazia uma mala preta. 'Abre essa porcaria aí, pá'. Era uma mala cheia de notas de cinco contos. Pegou nas notas assim com os dedos, tipo garfos, e começou a atirá-las ao ar (risos). As notas a caírem ao chão no balneário e o Tonanha apanhou um maço e guardou-o no cacifo. 'O meu prémio já está garantido'.  E lá empatámos esse dérbi. Essas duas histórias revelam a forma como o major Valentim lidava connosco. Tive dois presidentes marcantes: o major Valentim e o Pimenta Machado, em Guimarães. 

zz - Aproveitamos para lhe perguntar como é que fez um ano em Guimarães, na época 1991/92, e depois voltou ao Boavista. Houve polémica nessas mudanças? 

C - Eu tinha regressado ao Bessa depois de ter estado emprestado ao Estrela. Mediante determinadas condições. É a primeira vez que falo disto em público. Foi-me dito que o meu contrato ia ser revisto e melhorado no Bessa, depois de ter estado na Amadora, e as coisas foram andando. Mas asqueceram-se de mim. Também nunca fui pessoa de bater à porta para pedir mais. Fiquei magoado, era um menino da casa. O Vitória foi rápido, abordou-me e apalavrei o meu contrato em fevereiro. Comprometi-me com o clube. Entre esse período e o final da época o major quis renovar, é verdade, mas mantive a minha palavra. Saí mesmo, mas despedi-me do Boavista com o major a dizer 'para o ano estás cá outra vez'. E foi assim mesmo. 

zz - Não se arrependeu? 

C - Fui para a minha Arábia, na altura, com as devidas proporções. A diferença era grande. O Boavista não me apresentou a proposta em tempo útil e decidi manter a minha palavra. Tenho 58 anos e acho que já não vou mudar. O aperto de mão para mim basta. 

zz – É verdade que a dada altura escolheu o número 23 por culpa do Michael Jordan?

C – É verdade, sim, eu gostava muito de ver a NBA e o Jordan, em particular. Nunca liguei muito a números, mas esse 23 teve significado.


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