Os comerciais ligeiros estão em risco de não conseguir atingir as metas de emissões para 2025. Saiba o que está em causa.
Não são apenas os construtores de ligeiros de passageiros que estão preocupados em conseguir atingir as metas de emissões de dióxido de carbono (CO2) para 2025. O problema estende-se aos construtores dos comerciais ligeiros.
O problema é exatamente o mesmo. Para atingir essas metas é imperativo que as vendas de furgões 100% elétricos cresçam substancialmente, mas em 2024, tal como nos automóveis, as vendas estão a diminuir.
As motorizações Diesel continuam a ser a escolha principal nos comerciais ligeiros. Nos primeiros seis meses de 2024, as vendas de comerciais ligeiros elétricos na União Europeia (UE) caíram 3,7%, enquanto as dos Diesel subiram 16%, segundo dados da ACEA.
© Renault Renault Master E-Tech.De acordo com os dados da DataForce, a quota de furgões elétricos no total das vendas dos comerciais ligeiros na UE é de 6% (dados atualizados até setembro). O que é muito pouco. Para ir de encontro às metas de redução de emissões exigidas, esta quota teria de ser o triplo, de acordo com as estimativas da Stellantis e Grupo Renault.
Os preços altos, a incerteza da infraestrutura de carregamento e a falta de incentivos à compra, está a afastar os clientes destas propostas, apontam estes construtores.
“Nós investimos, mas não existem clientes suficientes para comprar furgões elétricos”.
Heinz-Juergen Low, CEO da LCV, comerciais da RenaultVamos a números
Em 2023, a média de emissões de CO2 das vendas de comerciais ligeiros na UE foram de 181 g/km, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente.
Para este ano, a média estipulada pelos regras a atingir é de 185 g/km, mas o problema é o salto para 2025: 154 g/km (ciclo WLTP). Uma redução que só é possível com a venda de um número muito superior de comerciais elétricos.
No entanto, já há cinco países onde as vendas de comerciais ligeiros apresentam emissões médias de CO2 abaixo das 154 g/km: Noruega, Suécia, Chipre, Malta e o nosso país, Portugal. Países que se distinguem por os elétricos terem uma quota de mercado acima da média europeia.
Em 2030, as metas de emissões dão um tombo ainda mais expressivo, para 91 g/km. Em 2035, tal como acontece nos automóveis, também as emissões dos comerciais ligeiros terão de ser zero. O incumprimento das metas pode incorrer em multas de 95 euros por carro e por grama acima do estipulado.
“Temos de obedecer. Se não obedecermos, nós estamos mortos. Mas o salto vai ser gigante.”
Jean-Philippe Imparato, CEO da Stellantis Pro OneOferta não falta
A Renault, a Ford, a Stellantis, a Mercedes-Benz e a Volkswagen já dispõem de uma oferta alargada de comerciais ligeiros elétricos no mercado e há planos para expandir a oferta.
Mas não se está a traduzir em mais vendas. A Stellantis, através do novo diretor-executivo da divisão de comerciais Pro One, Jean-Philippe Imparato, expressou preocupação por não saber como conseguir alcançar as metas impostas.
Atualmente a quota de comerciais elétricos no grupo é de 12%, mas para cumprir as metas de emissões para 2025, a quota terá de saltar para os 21%. No Grupo Renault o desafio é idêntico. Para cumprir com os objetivos de emissões para 2025, a quota de comerciais elétricos terá de subir para 18% do total.
© Stellantis Em Portugal, na fábrica da Stellantis em Mangualde, já se produzem comerciais elétricos.Ambos os grupos admitiram que uma das soluções está em reduzir o número de vendas dos comerciais a combustão, em vez de pagar as avultadas multas.
“Nós temos apenas duas opções, ou vender mais veículos elétricos ou vender menos veículos a combustão.”
Heinz-Juergen Low, CEO da LCV, comerciais da RenaultNo próximo ano, tal como já acontece no cálculo das emissões dos ligeiros de passageiros, os construtores de comerciais ligeiros poderão agrupar-se (emission pools) para o cálculo das emissões de CO2, caso o número final lhes seja mais favorável.
Ameaça chinesa
O desafio não se fica pelo cumprimento das metas de emissões. Há mais concorrência, vinda sobretudo da China. Nos últimos tempos assistimos à chegada de novas marcas chinesas com comerciais ligeiros elétricos, como a Maxus.
© Maxus Maxus eDeliver 3, um dos furgões elétricos da marca chinesa.Isto significa que as vendas de comerciais elétricos, cujo volume total, como referimos, é menor este ano, está a ser dividido por mais marcas, o que coloca dificuldades adicionais aos construtores europeus.
Além do mais, ao contrário do que acontece com os automóveis elétricos produzidos na China, os comerciais ligeiros não são afetados pelas novas tarifas de importação da UE.
Fonte: Automotive News Europe