Tem passado um pouco abaixo do radar da maior parte dos adeptos, mas há uma bela história a construir-se no futebol português. Tem se desenrolado na Amadora, onde há um Estrela fustigado por lesões que afetam, entre outros, os guarda-redes António Filipe e Bruno Brígido, forçando a formação da Reboleira a apostar na sua terceira opção para a baliza. Em meados de 2022 jogava nas distritais enquanto trabalhava nas obras. Até há pouco mais de um mês tinha apenas um jogo como profissional. Hoje, apenas cinco jogos depois da chamada à titularidade, o guardião de 25 anos já tem a confiança dos adeptos e do treinador de um clube de Primeira Liga. Chama-se Wagner Santos, mas é mais conhecido como Dida - não precisamos de explicar o motivo, certamente - e quem o conhece melhor insiste que esta ascensão meteórica não ficará por aqui... Jabaquara, Capão Bonito, Mauá... O currículo de Dida, no que a clubes diz respeito, pode facilmente ser confundido com uma discografia de Bossa Nova. São, na verdade, os municípios de São Paulo onde o guardião fez carreira antes de rumar a Portugal, inicialmente para jogar pelo Fiães SC na distrital de Aveiro. Foi um empresário que o levou para esse pequeno clube, no qual mantinha uma relação. Lá, Dida, amador aos 23 anos, destacou-se desde cedo e provou que, aliando trabalho ao talento, é possível trilhar um caminho para o profissionalismo. Em 2021/22, no Fiães SC @dida_98 instagram Além do talento dentro das quatro linhas, Dida, tão alto e forte, arranjou forma de dar uso à notável moldura física para se integrar na comunidade local e, acima de tudo, ganhar mais dinheiro: «Havia lá na zona uma pessoa que fazia obras e precisava de gente, por isso falava com o Dida e ele mostrava sempre essa disponibilidade. Não havia mais colegas [de equipa] a trabalhar com ele, era acima de tudo porque tinha a vontade e necessidade de ajudar a família no Brasil», diz o atual técnico da equipa B do Lusitânia de Lourosa, sabendo que os esforços na construção chegaram a ser fonte de ligeira preocupação... «Quem trabalha neste nível amador, sabendo que os jogadores têm outros trabalhos, tem sempre receios. Sentíamos o perigo de ele ter algum problema físico que nos seria prejudicial. Ele chegou a ter uma lesão e sentimos muita dificuldade, sofremos algumas derrotas. Mas no fim são as necessidades financeiras das pessoas, que querem uma melhor qualidade de vida», explicou. Durou apenas um ano, a vida de Dida nos escalões distritais do futebol português. A jogar tão bem numa AF Aveiro que filmava e disponibilizava todos os jogos na internet, foi uma questão de tempo até Ricardo Silva, treinador de guarda-redes do Estrela, se interessar no brasileiro e recomendar ao clube tricolor a sua contratação. Estreou-se na Primeira Liga contra o Moreirense @Kapta+ «Isso não há dúvidas! Se tivesse de dominar a bola em cima da linha e fintar alguém, para ele era indiferente, fosse num treino, num jogo maior ou menor... Ele é focado e confiante nas suas capacidades, por isso nada lhe afetava.» «Em Portugal, pelo que eu vi, não há nenhum guarda-redes que jogue tão bem à bola com os pés como o Dida. É a grande vantagem dele para todos os outros na Primeira Liga. Chegámos a colocá-lo à frente e era um dos melhores, as pessoas que o viam diziam "Este tem uma habilidade inacreditável..." «Isto são os primeiros passos ainda. Ele agora tornou-se profissional e pela frente tem um caminho ainda maior, porque agora dedica-se só àquilo por isso as qualidades vão notar-se ainda mais. Acredito seriamente que o Dida pode chegar a um dos grandes, ou a um SC Braga. Ele é único.»Dividido entre obras e futebol amador
«Em Portugal nenhum GR joga tão bem com os pés»