Fábio Espinho: «O Vítor Pereira apanhou-me a sair da praia e convidou-me a ir para o SC Espinho»

6 meses atrás 62

Este é o ponto final. Aqui vamos dar espaço ao adeus, vamos pendurar as chuteiras e vasculhar no álbum das recordações de jogadores que marcaram gerações. Não há parágrafo, sem antes haver um ponto final.

O nosso convidado deixou de jogar na última época, depois de mais de 30 anos a dar chutos na bola. Baixinho, pensador, de cabeça levantada e sempre com olho na baliza. Teve duas experiências no estrangeiro, uma delas valeu títulos. Em Portugal nunca saiu da região Norte e é dos poucos a saber o que é vestir xadrez em duplicado. É homem da 3ª Divisão, mas também da Champions. A pergunta antes do Ponto Final: quem é?

zerozero: Fábio Espinho, descobria quem era este jogador?

Fábio Espinho: Penso que sim. Pensaria logo que estava a falar de mim. Nem toda a gente esteve na 2ª Divisão B e conseguiu jogar a Champions, nem toda a gente vestiu duas vezes de xadrez... Seria a primeira coisa que pensava, se era de mim que falavam.

zz: Deixou de jogar de jogar no dia 11 de fevereiro de 2023: sabia que era o último jogo? Aquele Leixões - Feirense?

FE: Não. Já pensava em terminar a minha carreira, mas infelizmente não pensava que esse seria o último jogo. A partir de um determinado momento pensamos ano a ano. Nesse ano sentia-me bem, útil, mas depois dessa lesão fez com que decidisse em colocar um ponto final na minha carreira.

zz: Saiu como capitão da equipa...

FE: Sim, eu quando chego ao Feirense, vindo do Boavista, já era um dos jogadores mais experientes e fui colocado como capitão de equipa. Estive lá quatro anos e julgo ter correspondido à função.

zz: Quando começar a ter perceção que era melhor parar e deixar de jogar?

FE: À medida que fui ficando mais velho, foi percebendo que o meu corpo não correspondia da mesma forma.

Fábio Espinho
3 títulos oficiais

zz: O que sentiu?

FE: Principalmente na velocidade. Não é que eu fosse um jogador rápido, mas era rápido a pensar, o meu arranque era muito forte - normalmente deixava adversários para trás com a minha receção -, pois sendo franzino tinha de arranjar armas para fugir ao choque. Comecei a sentir alguma debilidade nesse aspeto, na própria velocidade também. Eu gostava de me sentir um jogador importante, não gostava de me sentir mais um. É com toda a minha humildade que digo isto. Dentro do campo, claro.

zz: Que fosse diferenciador...

FE: Exato. Nesta parte final da carreira já não sentia isso. Ano após ano foi caindo e eu fui pensando no fim.

zz: Foi difícil?

FE: Não digo que seja difícil, porque eu fui me mentalizando. A partir dos 30 anos, meti na minha cabeça que estava no início do fim. Sendo que, hoje em dia, as carreiras prolongam-se bastante mais e a minha foi longa, pois joguei quase até aos 38. A partir dos 30 comecei a pensar de maneira diferente. Até aos 20 e 25 anos, estamos num sonho, pensa em jogar...

zz: É pelo estigma de que depois dos 30 o jogador já é velho, em Portugal?

FE: Eu comecei a sentir isso, embora chegue ao nível mais alto da minha carreira aos 30 anos. Dos 20 aos 27 andem entre 2ª Divisão B, II Liga e Primeira Liga, entre subidas e descidas. Depois fui para o Ludogorets, joguem competições europeias e dei o salto para a La Liga. Não sei se é correto ou não, mas depois dos 30, na minha cabeça comecei a pensar que estava no início do fim e preparei-me para isso. Felizmente não tive grandes lesões, fui jogando sempre, e isso é muito importante para um jogador mais velho, pois fisicamente estamos ativos. Quando isso não acontece, o corpo não recupera da mesma forma e vai tudo a pique...

zz: Mais foi "fácil"?

FE: Eu fui me mentalizando a cada ano que algum dia ia ser o último. Mas, como em todas as épocas, fazia parte do lote dos jogadores com mais tempo de jogo - eram perto dos 30 jogos -, fui-me sentido útil e estava pronto para a próxima, daí arrastar a carreira até tão tarde. Na última época, o meu pensamento foi ficando cada vez mais presente, de que seria a última temporada, até porque já tinha tirado os dois primeiros níveis de treinador, a não ser que surgisse algo inesperado.

zz: Antes da lesão?

FE: Sim, sim. A lesão só fez com que confirmasse o que tinha em mente, até porque foi uma lesão que pensei que seria resolvida num mês e meio e estive quase meio ano sem fazer uma corrida. Eram os sinais de que o final da carreira estava a terminar.

zz: Não foi em Espinho que tudo começou, mas quase que podia ter sido... É a tua cidade, a cidade que te dá nome, até porque não tem Espinho no seu nome...

Fábio Espinho durante a gravação do programa Ponto Final @Gonçalo Pinto - zerozero

FE: Verdade. Este clube diz-me muito, é o clube da minha terra, é o clube da minha família, é o clube que eu acompanhei desde bebé. Os meus pais acompanhavam o clube para todo o lado. Lembro-me de ir ver a Belém, a Santo Tirso, lembro-me dos jogadores. O destino traçou que o início da minha carreira tivesse de arrancar no clube da minha terra. Quando saí da equipa B do FC Porto, sigo para o SC Espinho.

zz: Começa no FC Porto, porque na altura não havia espaço para os jogadores da sua idade no SC Espinho. No FC Porto deram lhe logo o nome de Fábio Espinho por ser de Espinho?

FE: Quem me levou para o FC Porto foi o Freitas, na altura chamava de Sr. Freitas...

zz: Mais conhecido por 115...

FE: Exatamente.

zz: Era um verdadeiro pronto-socorro.

FE: Ele viu alguma coisa em mim, nas ruas de Espinho, perto do Bairro. Falou com os meus pais, para me levar ao FC Porto. Eu sendo de famílias portistas, aceitei o convite, naturalmente. O nome de Espinho no meu nome surgiu, pois havia três Fábios nas escolinhas o FC Porto e a forma mais fácil de distinguir dos outros era ser Espinho. Eu nem Fábio era, era só Espinho. Até à equipa B do FC Porto foi sempre só Espinho. Depois, fiz questão de continuar, porque sempre foi uma questão de orgulho. Além de ser a minha cidade, era já uma imagem de marca, pois era assim que toda a gente me conhecia.

zz: Como foram esses tempos de formação? É dos poucos jogadores que nunca saiu...

FE: Recordo-me de tudo. Foram anos de muitas alegrias, mas também de muito choro. Eu tive dificuldade no meu desenvolvimento físico.

zz: Ainda era mais pequenino?

FE: Sempre fui dos mais pequeninos e dos mais franzinos. Em certos escalões a força e o tamanho prevalecem ao talento.

zz: A transição de iniciados para juvenis, normalmente.

FE: Não deveria de ser, mas era. Quando estava nos iniciados tive uma fase em que não jogava na equipa principal. Ia jogar à equipa B e estava tudo relacionado com o desenvolvimento. Tiveram uma conversa com o meu pai. Disseram que eu estava desanimado, triste e era normal, pois não estava a jogar com os meus colegas. Disseram ao meu pai que estavam à espera que eu desenvolvesse o que os outros já tinha desenvolvido. Que acreditavam no meu valor e que iria crescer, para depois acompanhar os outros. Isso aconteceu quando passei para juvenil. Passei a jogar com regularidade em todos os escalões, inclusive na equipa B.

qDurante a minha carreira, e hoje sou assim, agarrei-me à dificuldade para ganhar força. Sentia que era capaz de tudo e esse ano em que passei no FC Porto, onde era apelidado de franzino e pequenino, deu-me força para mostrar que era possível.

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: É engraçado trazer esse ponto de vista, porque normalmente não há espera, ainda mais numa equipa grande.

FE: Verdade e isso aconteceu com alguns colegas meus. Viram em mim algo de diferente.

zz: Deu-lhe força?

FE: Foi um momento chave para eu agarrar-me à dificuldade. Durante a minha carreira, e hoje sou assim, agarrei-me à dificuldade para ganhar força. Sentia que era capaz de tudo e esse ano em que passei no FC Porto, onde era apelidado de franzino e pequenino, deu-me força para mostrar que era possível.

zz: E é dos poucos jogadores a fazer toda a formação no FC Porto. Qual foi para si o momento determinante para pensar que podia fazer vida com o futebol?

FE: Na transição de júnior para sénior.

zz: Para a equipa B do FC Porto?

FE: Sim. Quando cheguei à equipa júnior do FC Porto senti que estava muito perto. Aí comecei a pensar que seria possível, mas ainda faltavam dois anos de júnior. Quando fui para a equipa B tive a confirmação que iria ser jogador de futebol.

zz: Não havia outro caminho?

FE: Não. Eu dediquei-me aquilo durante 14 anos e sentia-me capaz. O barómetro são os outros que estão ao nosso lado.

zz: Sempre como médio ofensivo?

FE: Sim, sempre a jogar do meio campo para a frente, mas quando estive no estrangeiro recuei um bocado no terreno. No Ludogorets era mais oito ou seis, estava numa fase mais de construção, pois tínhamos um médio ofensivo brasileiro de muita qualidade.

zz: Mas como foi parar a essa posição? Foi o próprio Freitas?

FE: Na formação do FC Porto joguei muitas vezes a extremo direito. Lembro-me perfeitamente com o José Guilherme de jogar nessa posição, mas quando fui para os juniores do FC Porto já era mais um falso extremo, a fugir para dentro. Era um jogador com as características que terminei a carreira. Na formação do FC Porto jogámos em 4x3x3 e eu jogava como um falso ala, era um elemento surpresa e povoava as zonas do centro do terreno.

zz: Foi um período de formação muito forte, do FC Porto...

FE: Apanhei duas gerações no FC Porto, a de 85, que era a minha e a de 86, que foram grande parte daqueles que foram campeões da Europa em Viseu, de Sub-17. O Maradona (Márcio Sousa), o Vieirinha, o Hélder Barbosa, o Ivanildo, o Paulo Machado... Era a geração de ouro e de certa forma a nossa geração ficou prejudicada. Quando estou na equipa B, já estou a jogar com jogadores que são quase todos mais novos que eu. Os da minha idade, quase nenhum fez uma carreira...

zz: Foram engolidos pelos da geração de 86...

FE: Isso mesmo. Estamos a falar de jogadores de seleção. Da minha idade, a partir dos Sub-15, iam seis ou sete à seleção, eu nunca fui, tenho uma espinha atravessada, mas na transição de júnior para sénior tiveram grande dificuldade e muitos não conseguiram sequer prolongar a carreira. E eu consegui... Se calhar, perspetivasse melhor futuro para aqueles, mas foi ao contrário. Depois, e respondendo à pergunta, os de 85 foram engolidos. Os de 86 tinham mais qualidade, eram jogadores de outro nível e sinal disso é a carreira que quase todos fizeram.

Fábio Espinho durante a gravação do Ponto Final @Gonçalo Pinto - zerozero

zz: Estava a dizer que tem uma espinha atravessada com o tema da seleção: chegou a perceber a falta de chamadas?

FE: Não. Só cheguei a um estágio de Sub-20, em Rio Maior, três dias. Digo isto agora, porque estou à vontade, e sempre respeitei as escolhas, mas nunca entendi. A partir dos juvenis sempre fui titular do FC Porto e nunca fui chamado, nem a estágios. A justificação sempre esteve relacionada com a minha altura. Chegou a haver alturas em que eram convocados jogadores que nem jogavam. E ainda tinha que levar com as brincadeiras dos meus colegas, que gozavam comigo. Iam de comboio e perguntavam-me a que horas eu entrava em Espinho (risos). Eu ria-me, mas a vontade de rir não era nenhuma. Sempre tive um comportamento correto e se não fui, foi porque teve de ser assim. Fui chamado para estágio, quando estava na equipa B do FC Porto. Foi muito engraçado, pois eu estava lesionado. Parti um dedo do pé, fui operado e esteve cerca de dois meses em recuperação. Ao fim desse período, altura em que nem joguei, fui chamado. Fiquei sem perceber. Fui tarde, mas valeu a pena e posso dizer que lá fui.

zz: Esteve na equipa B do FC Porto até ela ser extinta, numa primeira fase. Foi um duro golpe não ter conseguido evoluir para o patamar de uma divisão acima logo nesse momento? Ficou sem clube? Teve de procurar clube sozinho?

FE: Foi difícil. Eu não me via a jogar em mais lado nenhum, a não ser ali, no FC Porto. Eu passei mais tempo lá, sem estar lá. O meu objetivo principal era chegar à equipa principal, sabendo que ia ser muito difícil. Com todo o respeito, não era o FC Porto dos dias de hoje, era um FC Porto campeão da Europa, a fasquia estava muito elevada. Terminei o contrato e fiquei um bocado sem chão. Era uma experiência nova, nunca tinha passado por aquilo e tive de procurar clube.

zz: Como foi esse processo?

FE: Chamaram-me, disseram que a equipa B ia terminar, que o meu contrato também ia terminar, que o percurso no FC Porto tinha chegado ao fim, que iam tentar ajudar a arranjar algum clube para eu jogar, mas para eu fazer pela vida, pois podiam não conseguir e assim foi. Não me deixaram desamparado, houve cuidado, mas foi um dia muito triste para mim.

zz: Pensou que ia ter alguma coisa melhor, além do seu SC Espinho?

FE: Com todo o respeito pelo SC Espinho, sim. Quando saímos do FC Porto, pensámos que algo de bom nos vai acontecer. Estaria à espera de algo melhor.

qEstava a sair da praia dos pescadores, em Espinho, e o Vítor Pereira vinha a sair do estádio, que era logo à frente. Ele conhecia-me da formação do FC Porto, perguntou-me como estava a minha vida, trocámos algumas palavras e disse-me em tom de brincadeira: Queres vir para o Espinho?

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: E estava no patamar competitivo mais alto que era permitido para as equipas B naquela altura.

FE: Sim, é verdade, não podiam subir para a 2ª Liga. Eu estava a jogar, com jogadores mais velhos, num bom patamar competitivo e do meu ponto de vista, se tinha capacidade para estar naquele nível, teria capacidade para estar num nível mais acima.

zz: Mas como não surge nada melhor?

FE: Eu recebi um convite do presidente do SC Covilhã para eu ir para a II Liga, ainda em janeiro, do meu último ano de contrato. Mas, nessa altura tinha começado a namorar e não quis sair de casa. Esse foi um fatores que me levou a rejeitar essa possibilidade. Acabou a época, lembro-me perfeitamente como se fosse hoje, estava na praia, já de férias.

zz: Na Baía?

FE: Não, hoje chama-se praia 37, mas era a Praia dos Pescadores que ficava mesmo em frente ao estádio do Espinho (Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas), já era fim da tarde, avancei o muro para ir embora e do lado aposto, a sair do estádio, vem o Vítor Pereira. O Vítor, que me conhecia da formação do FC Porto, pois tinha trabalhado lá, perguntou-me como estava a situação, trocámos algumas palavras e ele diz-me assim em tom de brincadeira: 'Queres vir para o Espinho?'. Eu não tinha nada, estava perante uma pessoa que reconhecia qualidade, pois tinha acompanhado o percurso dele no FC Porto e aceitei na hora. E assim fui parar ao SC Espinho.

zz: Ou seja, é um treinador que acaba por ser muito importante?

FE: Bastante importante, como todos os outros. Se calhar, se eu não tivesse saído à mesma hora que ele ia a sair do estádio, não estaríamos a falar sobre este momento, agora. Há coisas que parece que seja o destino.

zz: Acredito que a sua namorada, agora mulher, também tenha ficado muito contente.

FE: Exato, nem saímos de nosso espaço. (risos)

zz: Se fosse noutros tempos, também teria que fazer pré-época na praia.

FE: Cheguei a ir, tal como ir treinar para o campo de golfe.

zz: Esteve três anos no SC Espinho e depois mudou de praia, quando foi para Matosinhos e para o Leixões.

FE: Os anos no SC Espinho foram uma realidade completamente diferente.

zz: Imagino, saiu de uma casa com tudo e de repente surgem as dificuldades no SC Espinho.

FE: Mesmo isso. Usufrui das melhores condições que podia ter, para estar num clube onde tinha que me adaptar. Não foi fácil e no segundo ano de SC Espinho pensei em deixar de jogar futebol. Houve um período em que não jogava, inclusive o pai faleceu nesse ano e sentia que nada estava a correr bem. Com todo o respeito por todos os jogadores, eu não queria fazer carreira no Campeonato Nacional de Seniores, para mim aquilo não era futuro e queria ir mais além, se visse que não conseguia, e pensei isso nessa altura, mais valia terminar a carreira.

Fábio Espinho
SC Espinho
2006/2007

1 Jogos  22 Minutos

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zz: Sentia que no segundo ano já poderia estar num nível diferente, que não o SC Espinho?

FE: Não, pelo contrário. Eu não estava a conseguir provar o que conseguia fazer. Eu achava que tinha muito mais potencial do que aquele que estava a mostrar. Contextualizando, no primeiro ano com o Vítor Pereira estava a jogar, faço muitos jogos com ele, mas antes dele sair eu já não estava a jogar. No segundo ano, continuei sem jogar e aquilo estava a dar-me comichão no estômago e estava a perder a motivação para fazer o que tinha capacidade para fazer. Ia para o treino sempre triste, andava sempre amuado, não tinha vontade.

zz: E o que fez manter?

FE: A vinda do Pedro Barny. Nada contra o treinador que lá estava, mas a vinda do Pedro Barny fez com que eu começasse a acreditar mais em mim. Lembro-me de estar em estágio para um jogo, na Madeira ou nos Açores, e estávamos a assistir a um jogo da Académica, não sei contra quem, sei que estava lá o Hélder Barbosa, na Académica e fiz um comentário sobre as qualidades dele, pois tínhamos sido colegas no FC Porto. Do tipo: Este Hélder Barbosa joga para carago!. O mister Pedro Barny ouvi e respondeu: Ele joga para caraças e tu não jogas? Tu não podias estar ali?. Fiquei com aquilo na minha cabeça e aquelas palavras fizeram-me pensar. Se eu tinha estado com ele no FC Porto, jogava com características semelhantes, também posso estar naquele patamar. Foram palavras-chaves para que eu ganhasse ambição para fazer uma época espetacular. Foram muitos golos e várias assistências. A partir daí dei o salto para o Leixões e foi o Pedro Barny que me fez ver que eu tinha capacidade para estar entre os melhores, que era a 1ª Divisão.

zz: Como foi a subida ao Leixões? Houve mais propostas?

FE: Eu foi recebendo feedbacks de pessoas, empresários e treinadores e para mim era normal. Eu tinha feito a formação no FC Porto e caí para o CNS. Fiz o meu trabalho e saltei duas divisões acima. Na altura tive o interesse do Paços de Ferreira, mas juntamente com o meu empresário, o António Araújo, decidimos que o melhor caminho seria seguir para o Leixões.

zz: Esteve como José Mota, mas quem terminou foi o espanhol Fernando Castro Santos...

FE: É preciso relembrar que o Leixões vinha de uma temporada de sonho. Andou muitas vezes em primeiro lugar, só perdeu com os três grandes, foi ganhar ao Dragão. Fez um brilharete e por muito pouco não foi às competições europeias. Eu já tinha assinado pelo Leixões, em março, ou abril, e andava a rezar para eles conseguirem a qualificação europeia. Acabou por ser um salto grande, uma realidade muito diferente, apesar das gentes de Matosinhos terem um pensamento muito idêntico às pessoas de Espinho. Nesse aspeto senti-me em casa, mas não custa reconhecer que tive alguma dificuldade em jogar no Leixões.

Fábio Espinho mudou-se para o Moreirense, depois de ter representado o Leixões @Catarina Morais

zz: Por causa do patamar competitivo?

FE: Não sei se foi por isso. Nos primeiros seis meses tive muita dificuldade, o salto foi grande, mesmo também para quem aposta não é fácil gerir o grupo, até pela forma como decorreu a temporada, na altura também houve alguns problemas financeiros. Não é fácil para um treinador gerir um jogador que vem de um liga inferior, mas tive as minhas oportunidades, acabei por jogar com o José Mota e acabei essa época a jogar com o Castro Santos, mas descemos de divisão.

zz: É um peso grande?

FE: Claro, andei dois ou três anos para chegar ao patamar mais e quando chego desço de divisão... Os pensamentos eram negativos. Sentia que a minha vida não passaria por aquilo. Tinha assinado dois anos pelo Leixões, no ano em que descemos veio o Augusto Inácio, foi formada uma boa equipa, com o objetivo de subir, mas não aconteceu. Não digo que foi das piores épocas que fiz, mas não senti que fosse o meu real valor. Foi daquelas épocas em que não saía nada. Era mais um. Tenho muita pena disso, porque em todos os clubes por onde passei, sinto que deixei a minha marca e no Leixões não senti isso.

zz: Segue viagem para Moreira de Cónegos.

FE: Sim, mas antes houve o interesse do U. Leiria, para jogar na Primeira Liga. Estava tudo praticamente alinhavado para ir, mas as coisas acabaram por não acontecer. Não faço ideia porque não aconteceu, nem tentei saber e foi mais um soco no estômago.

zz: Esse não é o ano em que o Leiria tem os problemas financeiros todos?

FE: É mesmo nesse ano.

zz: E não pensou: 'Ainda bem que não fui...'

FE: Pensei e ao longo da minha carreira fui tendo isso do meu lado, fui sempre fugindo dos problemas, parece que era algo que me diziam para não ir por determinado caminho...

zz: Nessa caso, a culpa nem foi sua.

FE: Verdade, foi o destino, acabou por sorrir para o meu lado.

zz: Claro.

FE: Nesse verão em que saio do Leixões, veio o Moreirense. Este episódio é hilariante: estava de férias no Algarve, liga-me o empresário, eu pensei que era por causa do U. Leiria, porque nessa altura só falávamos sobre esse tema. Da chamada, recordo-me dele dizer que a ida para Leiria não ia acontecer, mas diz-me que tem proposta do Moreirense e que o Moreirense queria muito contar comigo. Com todo o respeito, até porque tenho um carinho muito grande pelo Moreirense, mas tinham acabado de subir do CNS. Eu estava no Leixões, com um projeto de subida e com um convite de um clube da Primeira Liga. Ele aparece com um convite do Moreirense e diz-me que é o único convite que tem para mim. Disse logo que não queria: Olha, estou aqui na praia, nem quero ouvir falar de clubes. E desliguei o telemóvel. Fui apanhado de surpresa e comecei a pensar que se não fosse para o Moreirense iria para onde? Não tinha mais nada. Pego no telemóvel, ligo para o Araújo e disse para aceitar o Moreirense. Ele tinha me falado maravilhas das pessoas do clube e tudo isso veio a confirmar-se. São pessoas excecionais, até ao dia de hoje. Eles queriam meter o Moreirense na Primeira Liga, fizeram uma equipa jeitosa, não assumiram esse objetivo para fora, mas para nós, internamente, esse era o objetivo estava bem vincado.

qEstava de férias no Algarve e liga-me o meu empresário. O negócio com a U. Leiria tinha caído e havia uma proposta do Moreirense, que tinha subido do CNS à 2ª Liga. Ele diz-me que é o único convite que tem para mim...

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: Jorge Casquilha a treinador.

FE: Exatamente, tinha subida do CNS para a II Liga, mas na minha cabeça tinha um grande ponto de interrogação sobre esta mudança, mas posso dizer que foi das melhores coisas que eu fiz. Na 2ª Liga, ao serviço do Moreirense, fiz das melhores épocas que poderia ter feito.

zz: O Bruno Moreira já esteve nessa cadeira e falou muito sobre esse Moreirense, da forma cuidada como os treinadores trabalhavam convosco.

FE: Esse ano em Moreira de Cónegos vai ficar sempre na memória de quem lá estava. Ainda hoje temos um grupo de Whatsapp onde falamos muito.

zz: Tinhas outro espinhense, o Filipe Gonçalves.

FE: Verdade, era o barco: eu, o Filipe Gonçalves... Foi dos balneários, não tirando valor a todos os bons balneários que apanhei...

zz: O Bruno Moreira falou disso... o Castro, Pintassilgo...

FE: Cada balneário tem as suas particularidades, mas esse, pelas personagens, foi único. O Pinto, o Pintassilgo, o Zé Alberto, o Luís Pinto, o Castro... todos. Toda a gente ia mais cedo para o treino, porque ia haver palhaçada no balneário. Lembro-me do Pintassilgo e do Pinto chegarem perto do Bruno Moreira e dar-lhe estalos com força e ele não levava a mal. Toda a gente aceitava tudo...

zz: Ganhar ajuda...

FE: Era isso que ia dizer, para além desse ambiente, as vitórias ajudavam. Era uma loucura todos os dias. Tínhamos um guarda-redes, o Ferreira, que trabalhava de noite. Todos os dias de manhã, chegava com a mochila e trazia um lanche: ou um iogurte, ou uma banana. Os gajos minavam aquilo tudo. Ia lá o roupeiro recolher a roupa, mas aparecia alguém a virar o balde ao contrário e ficava tudo por apanhar. Até o próprio roupeiro entrava nas brincadeiras. Foi uma ambiente espetacular e os resultados desportivos ajudaram muito. Do lado individual foi também muito bom: fiz golos do meio campo, chutava e era golo. Saía tudo bem.

zz: É o chip da mudança desportiva, no lado do futebol profissional?

FE: Sim, porque deu certezas de que era capaz. Fiquei entre os três melhores jogadores da II Liga. Fui eu, o Licá e o Miguel Rosa. Subimos e mesmo descendo de divisão no ano seguinte fiz uma época muito boa, não com tantos números, mas a temporada foi interessante e por isso fui parar ao Ludogorets.

zz: Como surgiu a ida para a Bulgária?

FE: Agora é um dos clubes mais fortes da Bulgária, mas na altura era um desconhecido. O Ludogorets era um clube pobre, do interior da Bulgária, onde o dono do clube era um empresário da indústria farmacêutica e essa mesma pessoa ajudava o CSKA de Sofia. Esta foi uma história que me contaram. Sei que ele chateou-se, por algum motivo e ele quis mostrar às pessoas que geriam o CSKA de Sofia de era capaz com uma equipa pequena fazer dela a maior da Bulgária.

Fábio Espinho despertou a atenção do Ludogorets, após este golo que marcou ao SC Braga @Catarina Morais

zz: E está a conseguir.

FE: Pois está. Ele pegou numa equipa que estava na terceiro escalão do futebol búlgaro, subiu consecutivamente dois anos e ao terceiro foi campeão e desde então não mais parou de ser campeão. Só prova que ele conhecimento tem, não é só dinheiro.

zz: Claro.

FE: Ele quando subiu para a Primeira Liga búlgara, foi buscar vários jogadores da seleção da Bulgária e depois replicou o projeto do Shakhtar. Normalmente era brasileiros da Série B, com qualidade, e criou um bom gabinete de scouting e um trabalho muito bem feito.

zz: Ficou surpreso quando teve a proposta?

FE: Eu andava a ser observado no ano em que descemos e eu não sabia. Num jogo contra o SC Braga, onde acabámos por perder por 2-3, faço um golaço de livre e recordo-me de no final do jogo, no parque de estacionamento, veio o meu empresário e disse-me que o Ludogorets queria me contratar. Fui à internet saber que clube era, perceber que se havia portugueses, ou brasileiros e comecei a mostrar mais interesse nas condições, nos objetivos do clube, a ir mais a fundo. No entanto, sempre fui muito agarrado a casa, aos meus e sempre que surgia uma oportunidade de ir para fora ou para Lisboa, Lisboa para mim já era longe, metia logo um travão. Quando surgiu o Ludogorets foi igual, comecei logo a arranjar desculpas para não ir. Nesse verão houve o interesse do Arouca, reuni-me com o Joel Pinho e as pessoas do Arouca, mas acabei por ir para a Bulgária. No início disse que não, que não queria ir, fui para o Algarve, mas numa conversa com a minha esposa, ela diz que devia ir. Eu ia ganhar quatro vezes mais.

zz: Nunca teve o olhar de experimentar o futebol estrangeiro, porque financeiramente seria melhor?

FE: É fácil responder a essa pergunta. Eu não jogava pelo dinheiro, jogava pela paixão e pelo jogo. Eu queria era estar num clube perto e a jogar futebol. Esse era o meu pensamento e ganhar algum. Quanto mais ganhar, melhor, mas que fosse em casa. Era um pensamento errado, hoje em dia penso de outra forma.

zz: Certo, até porque não podias jogar futebol até aos 70 anos.

FE: Verdade. Eu já tinha investido num apartamento, que seria o meu apartamento para o futuro, mas tinha que pagá-lo e não era com os salários que tinha na altura que ia pagá-lo. Quando eu investi naquele apartamento queria conseguir, no mínimo, ter o imóvel pago quando terminasse a minha carreira. Em conversa com a minha esposa, ela alertou-me para isso tudo, até porque tínhamos acabado de ser pais. A proposta era ganhar quatro vezes mais, recordo. De repente, o Vitinha e o Júnior Caiçara, que jogavam no Ludgorets, começaram a ligar-me a falar maravilhas do clube. Eu sei que eles estavam a tentar convencer-me para eu ir, mas a verdade é que quando cheguei, vi que eles tinha razão. Não faltava nada: vários campos nos centros de treinos, ginásios, tudo. Lembro-me de uma situação em que foi preciso ter uma daquelas câmaras de vapores gelados, porque o Real Madrid tinha, e na semana seguinte já tínhamos uma. Aliado a tudo isso, era um clube que disputava títulos, além de estar nas competições europeias.

zz: Ajuda muito...

FE: Depois dessa conversa com a minha esposa, liguei a uma ou duas pessoas, que se calhar vão ouvir a entrevista e rir-se da situação, e fizeram reacender a chama para a minha ida para a Bulgária. Felizmente, mais uma vez, contra a minha vontade, foi a melhor coisa que me poderia acontecer. Não foi fácil a minha adaptação. Fui para ser um titular, mas cheguei lá e não saía nada. Era tudo diferente, não sabia comunicar com os meus colegas, o treinador não queria bolas altas, ninguém me passava a bola, cheguei a cair sozinho e a ver os meus colegas a rir-se. Até que houve uma fase que deixei de jogar e a equipa começou a ganhar. É o pior que pode acontecer a um jogador. Mas tudo mudou antes de um jogo com o Levski. Na palestra, o treinador diz que vou ser titular, quase que me deu a volta à barriga: era 30 mil pessoas no estádio, um ambiente infernal... Não me cabia um feijão. Mas fiz um jogo do caraças: marquei um golo e fiz uma assistência. A partir dali, nunca mais saí.

Fábio Espinho teve duas épocas muito boas na Bulgária @Getty / EuroFootball

zz: Passou a ser o herói...

FE: Um bocado, até porque já estava a entrar em fase de negação. Eu queria jogar, o dinheiro é importante, mas eu queria jogar. Esse jogo foi num fim-de-semana e a meio da semana houve um jogo contra o Dinamo Zagreb para a Liga Europa, estava lá o Ivo Pinto, e voltei a fazer um jogo estrondoso. Nunca mais saí da equipa. No início da época não joguei, mas acabei por fazer mais de 50 jogos.

zz: Os nossos registos dizem que são 54 jogos.

FE: Eu jogava sempre. Lembro-me de no final da época, o presidente vir dizer-me que eu estava a baixar o rendimento. Que sabia que eu tinha jogado sempre, mas que o rendimento estava a baixar e era preciso melhorar. E eu sempre a dar.

zz: Fez quase o dobro dos jogos de uma temporada para a outra.

FE: Exatamente. Foi a época onde fiz mais jogos.

zz: Na época seguinte tem Champions e fica no grupo do Liverpool e do Real Madrid.

FE: O jogo contra o Liverpool tem uma história engraçada. Eu estava dentro do campo e a minha preocupação era pedir a camisola ao Gerrard. Num momento de pausa, pedi-lhe para trocarmos de camisola no final e ele disse que fazia isso, mas nesse jogo empatámos e ele foi logo embora para o balneário. Talvez tenha ficado chateado.

zz: Ganhou um jogo e teve esse empate na Champions.

FE: Eu estava à porta do balneário à espera que ele aparecesse e o Gerrard nada. Estava lá o Lucas Leiva a falar com os brasileiros da minha equipa e comentei a situação com o Lucas. Ele podia ter ignorado o meu pedido, mas foi ao balneário, mas veio sem camisola do Gerrard e trouxe-me uma dele e ofereceu-me a sua camisola.

zz: E sacou uma camisola do Ronaldo também nessa Liga dos Campeões.

FE: Tenho uma branca e uma preta. Ele deu-me em Sofia e em Madrid. Ele é da minha geração, de 85, e lembrou-se de mim. Não vou ser falso, no jogo contra o Real Madrid, fiquei para último para entrar em campo, pois sabia que o Ronaldo era o último a entrar e queria perceber se ele me ia reconhecer. Eu fiz toda a minha formação no FC Porto, ele no Sporting, nós jogámos uns contra os outros e podemos não nos conhecermos uns aos outros, mas a imagem fica. Quis fazer esse teste e ele mal me viu fez questão de me vir cumprimentar e trocámos algumas palavras. Aproveitei o momento para lhe pedir a camisola e deu-me no final.

zz: Fazemos esta ponte das camisolas para entrarmos em Málaga e na La Liga. Tem esta do Neymar. Como foi que conseguiu?

FE: É uma história engraçada. Eu não tinha sido convocado para ir a Camp Nou, isto foi na segunda jornada. No dia do jogo, de manhã, o diretor liga-me a dizer para eu ir ter ao aeroporto, pois tinha sido convocado. No início pensei que fosse tanga, pois o futebol está recheado de momentos destes, e havia muitos portugueses, ou jogadores que tinha passado por Portugal e pensei logo que estava a gozar comigo. Era verdade, pois tinha havido o interesse do Lyon no Sergio Darder, ele foi vendido à última hora e eu fui ter ao aeroporto feliz da vida. A história começa assim. Já no Camp Nou, eu tinha ido para o banco e os dois bancos, apesar de entrarem nos balneários por túneis distintos, no interior fica a ser só um espaço. O árbitro apita para o intervalo, sou um dos primeiros a entrar no túnel, o Neymar foi também o primeiro do lado do Barcelona e quando olho para o lado, ele está ao meu lado. E aquilo que um instinto, pedi a camisola dele, ele pediu a minha e assim foi.

qNa Bulgária demorámos a renovar. Eu queria que eles reconhecessem no meu salário a importância que eu tinha em campo

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: Como foi parar a Málaga, depois de duas épocas bastantes boas no Ludogorets?

FE: Foram duas épocas excecionais. Na primeira época ganhámos quase tudo, só perdemos a supertaça. Jogámos Liga Europa e fomos espetaculares. Foi uma fase de grupos sem derrotas, contra o PSV que tinha Depay, ganhámos ao Dinamo Zabreg os dois jogos e uma equipa ucraniana. Foi uma época de estreia nas competições europeias de sonho, até porque a seguir eliminámos a Lazio. No primeiro jogo ganhámos 0-1, em Roma, e eu tirei uma bola sobre a linha de baliza, com a cabeça, depois de um remate do Candreva. Não sei o que estava lá a fazer (risos). Em casa empatámos 3-3 e foi brutal. Na altura jogávamos sempre fora, pois o nosso estádio não tinha condições para receber jogos das competições europeus. Jogávamos no estádio municipal de Sofia, que levava cerca de 30 mil pessoas. Nós fazíamos mais horas de viagem para disputar esses jogos, do que os nossos adversários a viajarem de avião. A própria Bulgária uniu-se toda para nos apoiar. Sentimos que erámos muito mais que uma equipa.

zz: O que o fez sair?

FE: Não diria que me portei mal, mas fui um bocadinho contra os meus princípios. Houve vontade de renovar, já desde dezembro, do segundo ano. No início não me agradou a proposta da renovação e eles foram sempre muito cordiais comigo, nunca me colocaram a treinar à parte, mas sentia que deveria ter outras condições. Quando fui para lá, ganhava bem, mas havia jogadores que ganhavam o dobro. Eu queria que eles reconhecessem no salário a importância que eu tinha dentro do campo. Nunca assinámos antes por causa disso. Fomos campeões umas semanas antes do campeonato acabar, numa época muito mais competitiva que o normal, e o presidente estava um bocado receoso que pudesse não ser campeão. Como tal, não queria oferecer-me o que eu estava a pedir, sem ter a garantia do título.

zz: Era uma questão de gestão

FE: Numa das últimas reuniões, disse-me que se conquistássemos o título, dava-me o salário que eu queria e renovava por dois anos. Dei a minha palavra. Nesse verão, tinha casamento marcado, e como fomos campeões mais cedo, pedi ao presidente para voltar mais cedo para casa, por este motivo, mas ainda não tinha assinado, pois o meu empresário ainda não tinha ido à Bulgária ultimar o contrato. Ele foi espetacular, deixou-me vir mais cedo, até me deu uma boa prenda de casamento, mas na semana antes do casamento liga-me o diretor desportivo do Málaga. Inicialmente, pensei que era tanga. Disse-me que estava a acompanhar o meu percurso, o que tinha feito na Liga dos Campeões, sabiam que eu tinha 30 anos, mas pelo facto de estarem na iminência de perder um jogador do meio campo, eu tinha o perfil desejado por eles para a mesma posição. Terminou a conversa com a pergunta: Tens interesse? Aquilo abanou-me, porque estamos a falar da La Liga, de uma das melhores ligas do Mundo. Na altura, havia Messi, Ronaldo... tudo e mais alguma coisa. Tive que ir pelo coração e não pela cabeça. Nesse ponto fui incorreto, pois dei a entender às pessoas que voltava. Já pedi desculpas, mas as desculpas valem o que valem. Eu reconheci que errei.

zz: O que te disseram?

FE: Eu não voltei a falar com o presidente. Juntamente com o meu empresário falámos com alguém que faz parte da direção, explicámos a situação, contámos da oportunidade, que era uma oportunidade que acontece uma vez. Foi isso que me fez pensar. Se eu fosse mais novo, se calhar ainda teria tempo para lá chegar, mas eu tinha saído de Portugal para a Bulgária. Já estava num campeonato mais fraco, fui pelo dinheiro, mas estava numa boa equipa. Espanha é completamente diferente. Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália são os melhores campeonatos do Mundo, qualquer jogador quer estar ali. Eu vi ali uma oportunidade única e tive que ir contra a minha palavra e perante pessoas que foram espetaculares e excecionais ao longo de dois anos, mas também derivado ao meu comportamento.

Fábio Espinho
Málaga
2015/2016

3 Jogos  177 Minutos

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zz: Foi uma situação que te deixou desconfortável...

FE: Exato, não foi uma coisa que me deixou de consciência tranquila, mas tinha que o fazer. Eu sou muito sentimentalista, gosto de me dar bem com toda a gente e esta atitude fugiu ao que me ensinaram em casa. Ele deixou-me vir mais cedo para eu vir ao meu casamento. O contrato que eu fui receber no Málaga era exatamente o mesmo que eu iria renovar no Ludogorets. Eu não fui para o Málaga pelo dinheiro, fui para o Málaga por um objetivo de carreira, era a La Liga. Eu no Málaga cheguei a pensar que poderia ir à seleção. Estava numa das melhores ligas do Mundo, o Antunes estava lá e ia à seleção. É um mundo completamente diferente. Na altura senti e continuo a sentir-me desconfortável relativamente a isso. Na altura, quando avisei as pessoas, claro que as pessoas ficaram chateadas.

zz: A verdade é que no Málaga as coisas não correram bem.

FE: Pois não. Eu só tenho a falar bem do treinador, Javi Gracia. Parece contraditório, pois não jogava, mas foi uma pessoa competente, havia cuidado no relacionamento, o treino era bem pensado. Ele tinha uma ideia de jogo onde as minhas características não se encaixavam. Era uma ideia de jogo mais defensiva: para termos uma ideia, muito idêntica ao Atlético de Madrid do Simeone. Além disso, portei-me mal nesse verão. Casei-me e apareci com mais dois ou três quilinhos que o normal. Aqueles três quilos pesaram muito na minha preparação. Eu pensava que se jogava na Liga dos Campeões, mesmo sendo numa equipa da Bulgária, ia chegar ao Málaga e jogar. Mas não é assim que as coisas acontecessem, pois o meus colegas também querem jogar e vão ser meus opositores. Quando cheguei, fiz um teste físico à volta do campo e estava morto que o treinador apitasse para o fim do exercício. Eu costumava preparar-me durante o verão e naquele não fiz isso.

zz: Era para não perder o ritmo.

FE: Sim e para evitar aquelas dores tão características das pré-épocas. No melhor ponto de vista é já ir preparado. Depois, no Málaga, as coisas não surgiram. Não sei se o treinador ficou chateado por ter perdido o Darder e eu paguei por isso. Das poucas oportunidades que tive, acho que estive bem. Eles chamavam-me Zizou, Zidane, não era por eu ser careca, era por alguma característica. Fui apercebendo pelo feedback das pessoas, mas a verdade é que as coisas não funcionaram de início e eu meti na minha cabeça que tinha de ir jogar na La Liga. Agarrei-me na dificuldade e não facilitei em nada para atingir o meu objetivo. Eu ia para os treinos a rir, até acho que o treinador achava aquilo estranho. Isso foi-me dando motivação e à 9ª jornada, a minha mãe foi me visitar a Málaga e calhou de ser nessa jornada que eu entrei.

Fábio Espinho, nos estúdios do zerozero @Gonçalo Pinto - zerozero

zz: Isso é que foi um grande momento

FE: Fui aquecer em vários jogos, mas não entrava. Nesse jogo, lembro-me perfeitamente, chamaram-me para ir ao banco para entrar. Vou rapidamente, preparo-me para entrar, ouço os treinadores, vou para entrar e marcámos... Pensei logo que já não ia entrar. Ele mandou-me recuar, mas nem um minuto depois mandou-me entrar e foi uma alegria. Foi um sonho tornado realidade, além de ter a minha mulher e a minha filha na bancada, tal como a minha mãe. Acabei por entrar bem, ganhámos 2-0, na semana seguinte vamos jogar a casa do Sporting Gijón, sou dos primeiros a entrar. Entrei logo aos 30 minutos, para o lugar do capitão, o Camacho. O treinador chamou-me para entrar, eu estava pronto, porque foi um hábito que sempre tive (ter a camisola vestida e as caneleiras colocadas). O tempo que demorei, foi para o adjunto mostrar as bolas paradas. Vou para o meio campo, mas a bola não saía. Nesse período sofremos o golo. O treinador até achou que tinha sido por eu me ter atrasado, mas a verdade é que perdemos 0-1.

zz: Algum azar...

FE: Entrei muito bem, fiz um bom jogo e no final nas entrevistas rápidas perguntaram-me porque tinha havido o atraso na substituição. Eu fui objetivo na minha resposta, disse que era uma situação pouco comum, ter de fazer uma substituição tão cedo e que o treinador teve na dúvida sobre quem iria meter. Nunca quis colocar em causa a decisão do treinador, mas não sei de que forma distorceram as minhas palavras, no entanto a verdade é que logo no primeiro treino, na conversa central com os jogadores, o treinador disse que era preciso ter cuidado com o que se diz para o exterior, pois podia haver consequências disso. Na altura, estava de consciência tão tranquila que nem pensei que fosse para mim. Quando estavámos a dar a volta ao campo, veio o Duda e perguntou-me o que tinha falado nas entrevistas rápidas, porque a leitura dele era de que as palavras do treinadores foram para mim. A verdade é que depois daquilo, nunca mais joguei. Se foi por isso? Se foi porque o Darder foi embora e ele ficou chateado? Se foi porque a direção me contratou a mim e ele queria outro? Não sei.

zz: São algumas dúvidas.

FE: A minha relação com ele foi sempre espetacular, de grande cordialidade humana. Eu nunca tentei saber a justificação, porque no futebol, se as pessoas quiserem, tu nunca vais saber a verdade. Se não deu, foi porque não deu. Tive meio ano praticamente sem jogar, depois de ver a minha carreira em ascensão: Liga Europa, Liga dos Campeões, títulos... De repente estás quase a tocar na lua. Chego a Málaga e nem entro, nem convocado... a partir desse jogo em Gijón nem convocado passei a ser.

zz: Chega a janeiro e regressa ao Moreirense.

FE: Eu só queria ir para casa. Em Málaga estava a sentir-me inútil... Fui para lá com uma perspetiva de jogar, foi isso que me disse o diretor desportivo. Eu estava adaptado, bem e feliz no Ludogorets e a minha saída não aconteceu só porque eu tinha o capricho de jogar na La Liga. Eu percebi o projeto do Málaga e vi a vontade deles de contar comigo. Depois de viver o que vivi naquele período, só queria sair de lá. Tive vários convites, do Hajduk Split, por intermédio do Mário Branco, mas eu queria vir para casa. Inclusive o Málaga ter arranjado forma de me emprestar a um clube do Championship e eu neguei. Estava tão zangado, tão saturado por aqueles seis meses que a minha resposta foi peremptória, se calhar até fui um bocado rude. Eu queria regressar a Portugal, falei com a malta do Moreirense, sabia da saída do Battaglia, houve uma vaga para entrar um médio. Depois de falar com o filho do presidente, ele disse-me: É o meu pai que decide, mas acho que podes fazer as malas, ele vai querer que regresses.

qEm Málaga estava a sentir-me inútil... Fui para lá com uma perspetiva de jogar, foi isso que me disse o diretor desportivo. Eu estava adaptado, bem e feliz no Ludogorets e a minha saída não aconteceu só porque eu tinha o capricho de jogar na La Liga. Eu percebi o projeto do Málaga e vi a vontade deles de contar comigo. Depois de viver o que vivi naquele período, só queria sair de lá.

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: Negócio fechado.

FE: Sim. O meu pensamento era vir meio ano, sentia que as coisas iam correr bem, pois conhecia o clube e as pessoas e depois regressaria a Málaga. No entanto, no final dessa temporada, quando voltei a Espanha, o Málaga informou-me que não contaria comigo e que tinha de resolver a minha vida. É aí que depois surge o Boavista.

zz: Foram muitos anos no Bessa.

FE: Mesmo muitos, mas era o destino. Eu tinha que jogar no Boavista. O pai era boavisteiro, mas a partir do momento em que eu fiz a formação no FC Porto, ele passou a ter uma costela do FC Porto. Ele começou a gostar dos dois, mas lembro-me de ser pequenino e ir ver finais da supertaça e da taça de Portugal com o meu pai, por causa do Boavista. Além disso, a família da minha esposa é do Boavista...

zz: O caminho tinha de ser por ali.

FE: Exato. A primeira abordagem que eu tive com o presidente João Loureiro e lhe contei esse passado, foi uma alegria. Senti logo que as coisas iam correr bem, senti-me em casa desde o primeiro dia. No jogo de apresentação marquei um golo de livre. Essas coisas são sempre importantes quando chegas a um novo clube e no Boavista isso é muito bom.

zz: Ainda era um Boavista a curar feridas.

FE: Certo, mas nos três anos que estive lá, fizemos boas classificações e era um Boavista com um dos orçamentos mais baixos da Liga. Quando cheguei era o Sánchez o treinador, mas depois veio o Miguel Leal, que tinha sido meu treinador no Moreirense, no ano anterior, e tudo ficou mais fácil, pois eu já conhecia o processo. Quando saiu o Miguel Leal, veio o Jorge Simão e fizemos uma belíssima época. Então na segunda temporada, foi muito bom: jogávamos quase se olhos fechados. Eu adorava aquele jogo, porque sentia prazer naquele jogo.

zz: E a saída acontece como?

FE: Entretanto o Jorge Simão sai e entra o Lito Vidigal. Eu estava lesionado, quando ele chegou. Fizemos uma recuperação pontual muito boa e enquanto eu estava lesionado, o mister Lito Vidigal passava por mim e dizia: Eu sei que só vais recuperar quando estivermos a ganhar. Voltei a jogar, mas com dores. Sempre tentei voltar mais rápido e por vezes, mesmo com dores, fazia de tudo para regressar mais cedo à competição. Voltei num jogo contra o Chaves e faço um golo, era o golo do empate, mas no decorrer do jogo, levei uma pancada no local onde tinha recuperado. Fiquei parado mais duas ou três semanas, cheio de dores. Acabei essa época em sofrimento, ainda joguei, até fiz um golo contra o Nacional, mas conseguimos salvar.  

zz: Tinha mais um ano de contrato com o Boavista?

FE: Sim, tudo casava. Eu já tinha renovado, tinha uma boa relação com os adeptos, até por causa do episódio com o megafone. Tínhamos dado os parabéns à claque do Boavista como se o plantel fosse a claque e era o chefe da claque. Isto foi antes de um jogo contra o SC Braga, em casa. Nesse jogo, falhei uma grande penalidade, quando o jogo estava empatado a um golo. Eu falhei o penálti que daria 2-1 e com o Braga a ter menos um jogador. Eu falhei, pouco depois um jogador nosso foi expulso e o SC Braga fez mais dois golos e ganhou 1-3. Fiquei agarrado à derrota e fiquei comovido. A malta da claque percebeu isso e quando estávamos a agradecer, chamaram-me para eu subir ao espaço deles e cantar. Quando eu pensava que me iam cobrar pela grande penalidade falhada, fizeram totalmente o oposto.

Fábio Espinho a festejar um golo no Boavista @Kapta+

zz: E saiu porquê?

FE: Estamos no início da quarta época e começo a sentir, por parte das pessoas, que já estava velho, ganhava muito para idade que tinha. Posso ter chegado a uma conclusão errada, mas durante a pré-época fui sentindo que queriam que eu saísse. Por quem? Não sei. Não sei se era vontade do treinador ou da direção. Eu não quero é sentir mais um. Se não querem têm de dizer e as pessoas conversam. Não funcionou dessa forma. Antes que me dissessem que não contavam comigo, tentei encontrar uma solução. Houve um jogo de treino contra a equipa B do Boavista e eu fui o último a entrar. Joguei cerca de dez minutos. Há que conversar com os jogadores, tenham eles a idade que tiverem. Senti que não houve isso. É aí que surge o Feirense, com um projeto de subida de divisão.

zz: Com o Filipe Martins.

FE: Isso mesmo. Fizeram uma excelente equipa. Ofereceram-me um contrato de três épocas e eu tinha 34 anos. O Feirense deu uma estabilidade financeira boa, perto de casa... Para um final de carreira, acho que melhor era impossível. Um clube cumpridor, que dá boas condições aos profissionais, com um treinador muito competente, mas as coisas para o clube não correram bem. O clube não atingiu os seus objetivos, na época seguinte veio o Covid-19, que prejudicou toda a gente e as instituições também. Até que veio o Rui Ferreira para o Feirense. Para além de conhecido, o Rui já era meu amigo. Não digo que era estranho, mas era um bocado. Já era meu amigo de casa e ali tinha um função diferente.

zz: É sempre difícil separar...

FE: Nunca me deu nada de mão beijada e tive de dar ao chinelo como os outros. Temos de saber separar as coisas, porque ele quer ganhar, como todos os outros. A minha maturidade ajudou-me a perceber sempre as decisões dos treinadores e a maior parte das minhas atitudes deixa-me tranquilo sobre o que foi a minha aplicação ao futebol ao longo destes anos todos. Sempre fui muito profissional, até mesmo na minha vida exterior, os meus amigos sabem disso. Nunca saí à noite antes dos jogos, sempre fui muito disciplinado, sempre respeitei muito o futebol, porque acredito que é desta forma que se tem sucesso. Mas temos muitos jogadores que fazem o contrário e conseguem ter vidas de sucesso. É isto que passo aos mais novos. Eu acredito é no trabalho: se formos sérios e competentes no trabalho, vamos ter sucesso.

qOs meus pais, o meu irmão e a minha mulher merecem o meu agradecimento máximo. A minha mulher teve de abdicar dos sonhos dela para me acompanhar para todo o lado

Fábio Espinho, antigo jogador de futebol

zz: Quem é a pessoa que merece o agradecimento máximo?

FE: Resumir a uma só pessoa é difícil. Eu não posso responder a essa pergunta, porque vou deixar de fora pessoas importantíssimas. Mas há pessoas muito importantes no meu processo. Não querendo falar de treinadores e jogadores, pois todos eles foram importantes, mas há quatro ou cinco pessoas que tenho de mencionar. O meu pai, que deve estar orgulhoso de tudo o que fiz, porque era um sonho meu e dele também. A minha mãe, que perante todas as dificuldades que tivemos, nunca nos faltou com nada. Eu tenho dois irmãos, mas a minha mãe é a mais velha de sete irmãos. A minha avó faleceu muito cedo e ela foi a mãe de toda a gente. Nunca nos faltou com nada e serei sempre eternamente grato à minha mãe e ao meu pai. Ao meu irmão, porque sei que ele sentiu alguma revolta com o sonho dele, porque também queria ser jogador de futebol, mas sei que tem orgulho nos palcos que pisei e nas coisas que realizei. Foi me ver contra o Real Madrid em Madrid e quando começou a tocar o hino da Champions, começou a chorar. Isso diz muita coisa. À minha mulher, que acompanhou-me sempre para todo o lado. É a minha única namorada e esteve sempre comigo. Teve de abdicar dos sonhos dela para me acompanhar e claro, aos meus filhos, porque estão sempre ligados a mim.

zz: Agora o desafio de escolheres o teu 11.

FE: Vou escolher um 11 baseado nos melhores jogadores que encontrei. Na baliza o Ochoa, não jogava tanto quando eu estava lá, era meu companheiro de banco, mas este internacional mexicano é um belíssimo guarda-redes e chamava muito a atenção a forma de defender dele. Vou para um 4x3x3. No lado direito o Júnior Caiçara. Jogou comigo no Ludogorets, mas também esteve em Portugal no Gil Vicente. É um belíssimo lateral direito, faz este corredor com grande facilidade. A central, Moti, é um central do Ludogorets. Foi o jogador que foi para a baliza defender os penáltis que valeu a nossa entrada na Liga dos Campeões. Para além de um bom guarda-redes que eu desconhecia, é um ótimo central. Um central romeno, internacional, de grande valor. A central do lado esquerdo, escolho Weligton. Também passou por Portugal, mas estive com ele no Málaga. Alto, agressivo, fez épocas muito fortes em Espanha. A lateral esquerdo... Acho que é a posição mais difícil que eu tenho... Vou dar aqui um bucha ao Nélson Lenho, cruzei-me com ele no Leixões. Para além de bom jogador, teve interferência na minha carreira.

zz: É um espaço de jogo, mas também de amigos.

FE: É verdade. A trinco Dyakov, jogou comigo na Bulgária. Era um jogador muito cerebral, com grande toque de bola, muito parecido com o Xavi. Tinha um toque de bola diferenciado. Médio do lado direito vou colocar o Pablo Fornals. Quando me cruzei com ele no Málaga, ele tinha apenas 18 anos e já víamos enorme qualidade, era um fora-de-série, pela qualidade que tinha. Daí ter dado rapidamente o salto para a liga inglesa e para a seleção espanhola. Médio esquerdo, inevitável, David Simão: meu amigo de casa, meu amigo de férias, não me posso esquecer dele.

zz: Não é o primeiro a vir ao Ponto Final e colocar o David Simão. Tem de ser um bom amigo e excelente jogador.

FE: Atenção que tem um feitio que não é fácil, mas é preciso saber lidar e cada um tem o seu. Foi um jogador que fez de mim mais jogador. Adorava jogar com ele e fazíamos uma grande dupla. Na esquerda a vir para dentro vou colocar o Marcelinho, que jogou comigo no Ludogorets. Era muito parecido, com as devidas distâncias, com o Deco. Adorei jogar com ele. Na direita, o nosso Ricardo Horta, que hoje está no SC Braga a fazer história. Cruzei-me com ele no Málaga e era quase como um filho, pois jantava muitas vezes em minha casa. Por vezes, saímos do treino e ele perguntava o que iria ser o jantar. Somos amigos e temos uma boa relação. O avançado vou optar pelo Charles, que jogou comigo no Málaga. Fazia golos de qualquer forma e feitio. Tinha grande qualidade e merece estar aqui no meu 11. Vou ser injusto, porque poderiam estar aqui outros, mas foi um 11 que me ocorreu mais rapidamente nos meus 20 anos de carreira. E que ninguém fique triste, porque isto é apenas uma brincadeira.

Fábio Espinho nos estúdios do zerozero @Gonçalo Pinto - zerozero

Portugal

Fábio Espinho

NomeFábio Ricardo Gomes Fonseca

Nascimento/Idade1985-08-18(38 anos)

Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoMédio (Médio Ofensivo)

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