Fenómeno TikTok: Ventura é popstar entre os mais novos

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Reportagem Renascença

04 jun, 2024 - 07:30 • Tomás Anjinho Chagas

Sem contraditório, nem contexto, Chega alcança centenas de milhares de pessoas nas redes sociais. Líder do partido é reconhecido pela esmagadora maioria dos jovens que se cruzam com ele na rua . "Se a miudagem votasse, tínhamos maioria absoluta", ironiza Tãnger Corrêa.

Na Escola Básica Ferreira de Castro, em Mem-Martins, no concelho de Sintra, André Ventura parece uma estrela de rock. Os estudantes agarram-se às grades e gritam pelo líder do Chega quando ele passa. “É mesmo ele!”, comenta um adolescente para o outro.

Ninguém tem qualquer dúvida e todos o reconhecem. De onde? “Conheço o André Ventura do TikTok”, explica um dos jovens com uma bola na mão. Esta rede social, utilizada por centenas de milhares de crianças em Portugal (e no Mundo) está a ser terreno fértil para a propaganda política de todos os partidos - descontextualizada e sem contraditório.

Semear hoje, colher amanhã. A aposta do Chega nas redes sociais é clara e coloca o partido bem à frente da concorrência neste campo. Isso sente-se nas ruas junto dos mais novos.

Entre "likes" e "bots", há uma estratégia política. Como os partidos usam as redes sociais

Selfies, outros políticos e uma linha definida

A cena multiplica-se por todos os pontos do país, durante a campanha para as eleições europeias dezenas de jovens dirigem-se a André Ventura, líder do Chega, e pedem-lhe uma selfie. De onde é que o conhecem? “Das redes sociais”, repetem.

De Elvas a Olhão, passando por Estremoz, Setúbal ou Lisboa, os mais novos parecem ter uma admiração por este protagonista político, que veem repetidamente nos pequenos ecrãs dos telemóveis que levam no bolso. Volta e meia aparece quando fazem scroll. Não quer dizer que concordem com o que diz o líder do Chega, mas identificam-no facilmente.

É o André Ventura, boy”, comenta um dos estudantes da escola em Mem-Martins, por onde passou a caravana do Chega esta segunda-feira. Têm à volta de 12 anos. Ventura sente o entusiasmo e surfa a onda. Pede que lhe atirem a bola de futebol e quando a recebe, dá toques com ela, e devolve para o outro lado da grade com um cabeceamento.

Conhecem mais algum político, pergunta a Renascença aos alunos do outro lado da grade da escola. “Eu só conheço o Ventura”, responde um dos rapazes. Outro vai a jogo: “Eu conheço!”. Como é que se chama o primeiro-ministro? “Não vou dizer”, recua.

O amigo aproxima-se mais confiante: “Conheço o Pedro Nuno Santos e aquele, o Montenegro”, responde. Mas quem todos reconhecem é “o Ventura”, que lhes aparece nas redes sociais.

O sucesso entre os mais novos é evidente e o fenómeno incide em André Ventura. Ninguém parece conhecer mais ninguém do Chega. António Tânger Corrêa, cabeça de lista pelo partido às europeias gaba a estratégia: “Se a miudagem votasse, tínhamos maioria absoluta”, ironiza, bem-disposto.

Diferenças abismais nas redes

Um grupo de raparigas acabou de cumprimentar André Ventura do outro lado da grade. Conhecem mais algum político? “Sim! A Maria Morta de Água”, responde uma delas sem maldade. A resposta provoca um ataque de riso e uma amiga corrige-a: “Mariana Mortágua”, referindo-se à coordenadora do Bloco de Esquerda.

Não é um acaso. O Bloco de Esquerda é o único partido que supera o Chega no TikTok. Os bloquistas somam mais de 45 mil seguidores, que suplantam os 35 mil do Chega. Mas isto só acontece mesmo no TikTok. Em todas as outras redes sociais: Instagram, Facebook, X e Youtube o Chega está muito à frente dos seus adversários.

O PS tem pouco mais de 3.146 seguidores, o PSD tem 1.810.

Há um dado ainda mais importante: na sua conta pessoal do TikTok, André Ventura tem quase 300 mil seguidores, e isso explica a sua popularidade entre os mais novos, que quase todos usam esta rede social.

Na sua página publica vídeos sobre os seus discursos, episódios descontextualizados sobre imigração, clipes onde utiliza o humor para provar um ponto de vista ou mensagens de apoio a e de outros políticos. A sua publicação mais vista é o apoio público de Jair Bolsonaro, antigo presidente brasileiro, que soma 2.1 milhões de visualizações.

A aposta nestas redes sociais é clara. Em declarações à Renascença, durante a campanha das últimas eleições legislativas, Patrícia Carvalho, diretora de comunicação do Chega – que entretanto se tornou deputada – dizia que os outros partidos “estão muito presos àquilo que é a comunicação política de há 20 anos”.

Durante as campanhas, os restantes partidos têm agendas mais ocupadas do que o Chega, que tira algum do seu tempo a produzir conteúdos para as redes sociais. É lá que podem o que quiserem (dentro das regras) sem nunca terem contraditório, podem passar a mensagem que pretendem e não precisam de passar pelo crivo do olhar jornalístico.

Um dia, estas crianças- que por agora não podem votar - vão crescer. O Chega está a alcançar muito mais jovens e espera que um dia possa converter isso em votos.

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