Festival d`Avignon tem início hoje numa travessia pela diversidade da língua espanhola

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A 78.ª edição do festival, a segunda dirigida pelo encenador e dramaturgo português, abre com a apresentação de "Dämon - O funeral de Bergman", peça da criadora espanhola Angélica Liddell, e junta a Comédie-Française a Tiago Rodrigues, para a estreia de "Hécuba, não Hécuba", peça escrita e dirigida pelo próprio diretor de Avignon, que conjuga a intemporalidade da tragédia de Eurípides com a tragédia vivida na atualidade pela atriz que a interpreta.

O início do festival coincide com o fim de semana em que se realiza a primeira volta das eleições legislativas francesas, a propósito das quais Tiago Rodrigues lembrou os valores do certame "contra a extrema-direita e a União Nacional" de Marine Le Pen, por constituírem "uma ameaça à liberdade de expressão e à democracia", como afirmou em entrevista à agência Lusa, na passada quinta-feira.

A primeira volta das eleições legislativas francesas realizam-se no domingo. Foram convocadas antecipadamente pelo Presidente Emmanuel Macron na sequência da queda abrupta do seu partido, Renaissance, nas europeias do passado dia 09, que teve como mais votado o partido de extrema-direita União Nacional (RN, na sigla em francês).

"O contexto político hoje na sociedade francesa e a concomitância com as eleições legislativas responsabilizam o festival a tomar posição publicamente, institucionalmente, para estar à altura da sua história e dos valores e princípios que o fundaram em 1947", frisou Tiago Rodrigues.

Reiterando que o evento se assume como "um festival republicano, democrático, progressista, ecologista, feminista e antirracista", o encenador e dramaturgo português disse que a extrema-direita e o RN seriam "uma ameaça não apenas para a diversidade de visões do mundo que dá forma ao festival e para a liberdade de expressão que é o coração deste evento", mas também "uma ameaça à democracia francesa".

Nesta 78.ª edição do festival, que decorre até 21 de julho, "um dos grandes emblemas do teatro" mundial, a Comédie-Française, a mais antiga companhia em atividade, regressa a Avignon para levar a palco a peça "Hécuba, não Hécuba", escrita e dirigida pelo próprio Tiago Rodrigues.

A peça toma a tragédia de Eurípides e conjuga as questões intemporais da mulher troiana, com as de uma mulher de hoje, atriz e mãe, que prepara o papel da viúva de Príamo. A protagonista da tragédia clássica perdeu tudo com a derrota de Troia: marido, trono, liberdade, filhos, e exige justiça. A atriz de hoje insurge-se contra um sistema de abusos de que o seu filho autista foi vítima.

"Hécuba, não Hécuba" ficará em cena até 16 de julho em Avignon e depois cumprirá uma digressão internacional por 12 países, entre os quais Portugal, onde será apresentada de 09 a 11 de janeiro de 2025, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Tiago Rodrigues mantém a língua portuguesa em linha para vir a ser convidada numa próxima edição do festival, que este ano já conta com a mais recente criação de Miguel Fragata e Inês Barahona, "Terminal -- O Estado do Mundo", uma peça sobre a crise climática.

"Certamente, a língua portuguesa no futuro, no que depender de mim, sendo eu diretor do Festival d`Avignon, terá o seu lugar como língua convidada", sublinhou Tiago Rodrigues à Lusa.

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