Fidalgo Marques. O tímido do PAN que aponta a Bruxelas e esquece a rua

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PAN

07 jun, 2024 - 08:48

Nestas duas semanas de campanha, os restantes partidos abafaram Pedro Fidalgo Marques - que prefere focar-se em propostas e não no combate político. O ambiente deu pouco espaço aos temas sociais - mas ficam por esclarecer as grandes diferenças em relação a outros partidos.

Não arriscou para temas fora de pé, manteve o contacto com a população nos mínimos e afastou as “preocupações” de quem achava que estar “fora do espetáculo mediático era um problema”.

A campanha do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) começou tímida e só perto do final é que subiu o tom – foi no Debate das Rádios, na última segunda-feira, que Pedro Fidalgo Marques se insurgiu pela primeira vez contra os outros candidatos, que “ignoravam as suas interjeições” e o afastavam do combate que acontecia em direto.

A partir daí, o clima de crítica aqueceu, mas não deixou de ser apenas morno – o próprio candidato disse repetidas vezes que preferia focar-se no “essencial” e não no combate político que marcou a restante campanha.

Nos últimos dias, e já depois de o ter feito a pedir o fim da utilização de fundos europeus para as touradas, o cabeça de lista do PAN virou-se para Luís Montenegro. Pedro Fidalgo Marques desafiou o governo a voltar a financiar parte dos fundos para a proteção ambiental e a fazer pressão em Bruxelas para desbloquear a Lei do Restauro da Natureza, travada desde fevereiro devido ao passo atrás dado pela Hungria.

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Estes foram, aliás, os temas a marcar a campanha do PAN. Ao contrário das Legislativas – onde Inês Sousa Real equilibrou o ambiente com temas sociais, como a situação dos bombeiros ou a igualdade de género –, Pedro Fidalgo Marques mostrou preferência pelas bandeiras do partido – justificando a decisão, sempre com a resposta standard “o PAN é o único partido que luta pelas causas das pessoas, animais e natureza”.

Timidez e humildade em toda a campanha

O objetivo sempre foi humilde e aqui não há sonho de crescer, como houve em março – a meta está em voltar a eleger um eurodeputado e recuperar o lugar perdido no hemiciclo europeu com a desfiliação de Francisco Guerreiro em 2020.

Este parece ter sido, aliás, um tema tabu durante a campanha. Depois de breves referências em entrevistas pré-eleitorais, o nome que colocou o PAN na rota europeia parece ter desaparecido do radar e a caravana acelerou a fundo para o presente e futuro do partido, sem usar o retrovisor para pensar no passado.

Em comparação com as legislativas, o contexto interno sorriu de forma rasgada a Fidalgo Marques, mas nem por isso o candidato aproveitou. Mesmo sem uma onda de desfiliações como a que Sousa Real teve de enfrentar, o cabeça de lista manteve-se sempre à margem de ações de rua e arruadas nem sequer pareceram ser uma possibilidade para cativar votos.

Nas poucas vezes que andou entre a população, Fidalgo Marques mostrava-se tímido – no Campo Pequeno, tentou evitar quem estava numa paragem de autocarro para “não incomodar” – e raramente mostrou à vontade para apelar diretamente ao voto, preferindo sempre destacar de forma geral o sentido da luta ambiental e animal.

Ainda assim, e apesar de terem recheado a campanha com ações nessas matérias, ficou por esclarecer qual a diferença do PAN em relação às propostas ambientais dos outros partidos – nomeadamente o Livre, com quem coexistem nos Verdes Europeus. Sempre de resposta vaga na ponta da língua – “o PAN é o único que levará estes temas para o parlamento europeu” –, Fidalgo Marques não soube responder o que propunha de diferente para um Pacto dos Oceanos: refugiou-se apenas nas palavras de que é “uma matéria que precisa de consenso nacional”.

O objetivo está firmado e a estratégia pouco mudou ao longo da campanha eleitoral – resta saber se a companhia permanente da porta-voz Inês Sousa Real será suficiente para lançar Pedro Fidalgo Marques de uma carreira anónima na política diretamente para Bruxelas e Estrasburgo.

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