Guerra interrompe vida escolar de 625 mil crianças. 40 por cento da população da Faixa de Gaza tem menos de 15 anos

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Pais, professores e alunos recordam como este momento, em setembros passados, eram marcado pela azáfama dos preparativos e compras para iniciar o ano letivo.

Ruwaida Amer é professora e diz que sente “muito a falta no início das aulas”. “Eu sentia-me como uma estudante. Esperava com expectativa o primeiro dia de regresso à escola. Estava sempre animada para conhecer os meus novos alunos do quinto ano”.

“Uma ou duas semanas antes do início das aulas eu costumava renovar as minhas energias, comprava artigos de papelaria, presentes e equipamentos para as minhas aulas”, descreve Amer.

Acrescenta que Gaza tinha muitas papelarias populares, como a Pens and Pins, “onde todas as crianças sonhavam ir para comprar os materiais escolares. Aquela loja trouxe tanta alegria a tantas crianças, era como se fosse uma amiga próxima”, relembra.

Memória da papelaria Pens and Pins | Instagram

Agora, quase um ano depois da escalada do conflito, os escombros tomaram conta das lojas. “Tudo isso desapareceu por causa da guerra. Ainda não conseguimos acreditar que perdemos tudo nesta guerra, em Gaza”.

A tristeza também é patente nos pais, que temem a ausência de futuro para os filhos. São cerca de 625.000 as crianças privadas de escola, diz a UNICEF.
"Sinto falta de ser mãe com os filhos na escola”

Lina al-Saadi, é uma mãe de 37 anos e está deslocada da Cidade de Gaza com quatro filhos. "Não parei de chorar desde o início de agosto”, diz Lina, citada pela Al Jazeera. “Eu só pensava como a minha filha ficaria com a farda da escola. E como pentearia o cabelo dela todas as manhãs para deixá-la bonita. Sinto falta de ser mãe com filhos na escola”, acrescenta.

Lina vive agora numa barraca, enquanto os filhos procuram água e questiona-se: “É isso que sonhamos para nossos filhos?”.

No verão de 2023, Lana Haroun estava entre as melhores alunas de Gaza no tawjihi, o exame de certificação do ensino médio palestiniano. Matriculou-se depois no primeiro ano do curso de Tradução na Universidade Al-Azhar de Gaza.

"Trabalhei muito e alcancei o que sonhei. Cheguei às primeiras posições na Palestina. Fiquei muito orgulhosa", sublinha Haroun à DW.

"Eu escolhi estudar numa universidade local para ficar perto da minha família porque, para mim, a sensação de segurança e estabilidade era crucial para o sucesso", argumentou. Mas eclodiu a guerra e "essa sensação de segurança da qual estou a falar despedaçou-se totalmente”, remata a aluna.

40 por cento desta geração tem 14 anos

O impacto da devastação das infraestruturas escolares está a deixar consequências terríveis na geração de milhares de estudantes. Em causa está naturalmente o futuro da sociedade palestiniana, considerada uma das populações mais jovens do mundo.


Sala de aula improvisada entre os escombros da casa da professora Israa Abu Mustafa, que tomou a iniciativa de educar as crianças do seu bairro, em Khan Younis, no sul de Gaza| Hatem Khaled - Reuters

Quase 40 por cento da população de Gaza tem 14 anos ou menos, e a idade média em 2020 era de 18 anos. Pelo menos, 45 mil crianças de 6 anos não começam o percurso escolar realça a UNICEF.

As imagens de satélite e análises do Global Education Cluster - organizações que abordam preocupações educacionais de populações afetadas por crises diversas, associadas à UNICEF e à instituição de caridade britânica Save the Children - revelaram que 92,9 por cento das escolas em Gaza "sofreram algum nível de dano", incluindo impactos diretos.

De acordo com dados recolhidos pelo Ministério da Educação e Ensino Superior Palestino em Ramallah, entre 23 de outubro de 2023 e julho deste ano, pelo menos 20 campus universitários foram severamente danificados, e mais de 31 prédios universitários foram destruídos.

Alguns campus, como a Universidade Al-Azhar na Cidade de Gaza, onde Lana Haroun estava matriculada, terão sido usados ​​temporariamente pelos militares israelitas.

Pelo menos 84,6% dos estabelecimentos  escolares vão necessitar de "reconstrução completa ou grandes obras de reabilitação" antes que as aulas possam ser retomadas.

Pelo menos, 70 por cento das escolas administradas pela UNRWA (Agência das nações Unidas para os Refugiados da Palestina), estava a ser usada como abrigos. Grande parte delas já foram atingidas durante a guerra reportou a agência, no início de setembro.

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, alerta: "Todas as crianças perderam mais um ano de educação para esta guerra brutal. Quanto mais tempo as crianças ficarem fora da escola e entre escombros de uma terra devastada, maior o risco de se tornarem numa geração perdida. Esta é uma receita para ressentimento e extremismo futuros".

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