Há seis meses, a direção entrou em peso no Governo. Montenegro quer agora desgovernamentalizar o PSD

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Congresso do PSD

18 out, 2024 - 22:47 • Manuela Pires

O congresso do PSD, que decorre este fim-de-semana em Braga, vai eleger os novos órgãos nacionais do partido. Em cima da mesa, a saída de alguns ministros do núcleo duro e de Miguel Albuquerque da presidência da mesa do congresso.

“Não queremos e não iremos governamentalizar o partido, nem partidarizar o Governo”, escreve Luís Montenegro na moção “Acreditar Portugal”, que leva ao congresso. Partindo deste princípio, falta saber qual a dimensão da renovação que o líder quer fazer no núcleo duro do partido. Essa é uma das novidades que sairá deste congresso, que, para já, está fechada a sete chaves e na cabeça do líder.

Atualmente, a direção do PSD conta, nas vice-presidências, com quatro ministros, a filha de uma ministra e um eurodeputado eleito em junho. Miguel Pinto Luz, Paulo Rangel, António Leitão Amaro e Margarida Balseiro Lopes são os ministros da direção do PSD, Inês Palma Ramalho é filha da ministra do Trabalho e Paulo Cunha foi eleito eurodeputado nas eleições de junho.

Mas há mais ministros em órgãos nacionais do PSD: Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, é coordenador do Conselho Estratégico Nacional do PSD, e Pedro Reis, o ministro da Economia, acumula com a liderança do Movimento Acreditar, uma plataforma de discussão com a sociedade civil. Ambos têm lugar na comissão permanente.

Na moção que leva ao congresso, Luís Montenegro escreve que o partido não se deve confundir com o Governo e que não vai governamentalizar o PSD.

No programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, o ministro Pedro Duarte defendeu, no mês passado, que a direção precisava de sangue novo, de ser renovada, e de ter um peso menor de ministros no núcleo duro.

“Deve haver um esforço para incutir alguma energia nova nos órgãos do PSD com gente diferente e alguma renovação e, eventualmente, reduzir o número de membros do Governo que fazem parte dos órgãos de direção do partido”, disse Pedro Duarte ,acrescentando que não conta integrar a direção.

No mesmo programa, Miguel Pinto Luz dizia que ao longo de 30 anos de militância no PSD sempre esteve disponível para o partido, apontando as responsabilidades do cargo que ocupa no Governo.

António Capucho diz que Albuquerque tem de sair da presidência do congresso do PSD e sugere Beleza

“Eu faço 30 anos de militância em janeiro e, ao longo destes anos, já desempenhei muitas funções, estive sempre disponível para o partido, e sem qualquer tipo de preconceito de estar umas vezes dentro, outras vezes fora. Por isso, estou absolutamente livre, agora não estou livre das minhas responsabilidades, hoje enquanto governante. E essas ocupam-me, e estou com as prioridades muito bem definidas”, referiu Miguel Pinto Luz.

Carlos Moedas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa já se colocou fora do núcleo duro, alegando que a autarquia lhe ocupa muito tempo, deixando, no entanto, espaço para um lugar na lista ao conselho nacional, como aconteceu no último congresso.

“Estou muito focalizado naquilo que é a ação executiva de ser presidente da câmara e, portanto, não tenho muito tempo disponível para estar na política ativa, exatamente por isso. Mas o Luís Montenegro sabe que conta comigo, que tem contado comigo (…), mas não posso ter cargos que envolvam mais ou muito tempo da minha parte, seja o meu tempo pessoal, que também já é curto, uma vez que ser presidente da câmara é 24 horas por dia”, referiu Carlos Moedas ao programa Hora da Verdade.

PSD. Albuquerque diz que abandona presidência da Mesa se for a decisão dos congressistas

A decisão é única e exclusiva de Luís Montenegro que, no passado, já mostrou guardar os nomes até ao último dia para serem anunciados no congresso, horas antes do início da votação pelos congressistas.

O caso delicado de Miguel Albuquerque

O líder do governo regional da Madeira é o presidente da mesa do congresso e, por inerência, do conselho nacional do partido, mas em entrevista à Renascença, um dos fundadores do PSD, António Capucho defendeu que Albuquerque “é perniciosos para o PSD” e devia ser afastado do cargo, sugerindo mesmo o nome de Leonor Beleza.

“Tem sido pernicioso para o PSD e, portanto, acho que neste momento devia haver uma renovação na presidência da Mesa do Congresso”, referiu António Capucho, o que motivou uma resposta por parte do líder do PSD-Madeira.

"É a opinião dele", disse, acrescentando que "o problema do PSD, neste momento, é que está minada, uma parte do PSD, pelo politicamente correto". "Esse é que é o problema", disse.

Miguel Albuquerque disse aos jornalistas, esta quinta-feira, no Funchal, que, apesar de ser arguido, não está acusado nem condenado por nada e que se encontra na "plena posse" dos seus direitos cívicos e políticos. Além disso, disse não estar agarrado ao poder: sai do cargo se essa for a decisão dos congressistas.

"Eu não estou agarrado nada ao lugar de presidente da Mesa do Congresso. Se os congressistas quiserem que eu saia, eu saio. Não tenho nenhum problema, não estou agarrado a esse lugar", afirmou Miguel Albuquerque.

No início da semana, o líder do PSD Madeira dizia que ia presidir ao início dos trabalhos e, depois, que decidia o futuro, se a conjuntura fosse favorável. Albuquerque explicou que a decisão está dependente das negociações que terá com o primeiro-ministro sobre o Orçamento do Estado, uma vez que a região quer ver inscritas algumas reivindicações que não constam da proposta do Governo. Albuquerque ameaçou mesmo com o voto contra dos três deputados eleitos pela Madeira.

Esse é um problema a ter em conta e que vai pesar na decisão de Luís Montenegro, avisou esta semana na Renascença, Ribau Esteves, o presidente da Câmara Municipal de Aveiro.

“Há aqui esta ambiência misturada, deixe-me usar esta expressão, entre a vida do PSD e a vida do Governo, e a viabilidade do Orçamento do Estado, que obviamente está em cima da mesa nessa decisão que Luís Montenegro tem de tomar sobre se Miguel Albuquerque continua ou não à frente do Congresso e do Conselho Nacional do PSD”, referiu Ribau Esteves à Renascença.

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