A uma semana do dia da eleição, a vice-presidente decidiu utilizar o espaço Elipse, perto da Casa Branca, para prometer aos norte-americanos que trabalhará para melhorar as suas vidas, ao mesmo tempo que defende que o seu adversário republicano só está nisto por si próprio.
"[Trump] passou uma década a tentar manter o povo americano dividido e com medo uns dos outros: ele é assim", dirá Harris, segundo partes do discurso preparado divulgados pela sua campanha, citados pela agência Associated Press. "Mas, América, estou aqui esta noite para dizer: isto não é quem somos", contrapôs.
A candidata democrata espera destacar este contraste proferindo o seu discurso final no local onde Donald Trump, em 06 de janeiro de 2021, debitou falsidades sobre as eleições presidenciais de 2020, que inspiraram uma multidão a marchar até ao Capitólio e a tentar, sem sucesso, impedir a certificação do democrata Joe Biden.
Com o tempo a esgotar-se e a corrida renhida, Harris e Trump procuraram grandes momentos para tentar mudar o ímpeto no seu caminho.
"É um lugar que certamente acreditamos que ajuda a cristalizar a escolha nesta eleição", disse a presidente da campanha democrata, Jen O'Malley Dillon, sobre o cenário, considerando-o "uma visualização nítida de provavelmente o exemplo mais infame de Donald Trump e como usou o seu poder para o mal".
Os conselheiros de campanha sublinharam que Harris não irá debitar um tratado sobre a democracia -- um elemento básico das tentativas do próprio Presidente Joe Biden de estabelecer um contraste com Trump -- nem gastar muito tempo a concentrar-se diretamente nas imagens chocantes desse dia, mas apresentar um argumento mais amplo sobre a razão para os eleitores rejeitarem o ex-presidente.
Trump, apontará Harris, "tem uma lista de pessoas inimigas que pretende processar".
"Diz que uma das suas maiores prioridades é libertar os extremistas violentos que atacaram os agentes da autoridade em 06 de janeiro. Pessoas a quem ele chama 'o inimigo interno'. Este não é um candidato a Presidente que está a pensar em como tornar a sua vida melhor", acrescentará.
A sua campanha atraiu uma grande multidão a Washington para o evento, com grande número de pessoas sob o monumento de Washington, no National Mall.
Antes da intervenção de Harris, os oradores serão americanos comuns, em vez das celebridades nos seus eventos recentes, como Amanda Zurawski, que quase morreu de sépsis após lhe ter sido negada assistência ao abrigo da proibição rigorosa do aborto no Texas, e Craig Sicknick, irmão do polícia do Capitólio Brian Sicknick, que morreu depois do ataque de 06 de janeiro.
Ruth Chiari, de 78 anos, de Charlottesville, no estado da Virgínia, participava no comício com o marido para "apoiar a democracia", e enquanto esperava na fila para entrar no evento, sentenciou: "Ou teremos um autocrata ou teremos liberdade".
O último discurso da vice-presidente está em preparação há semanas, mas os conselheiros esperavam que a sua mensagem tenha mais impacto depois do comício de Trump, no domingo, no Madison Square Garden, em Nova Iorque, onde os oradores lançaram insultos cruéis e racistas.
Harris disse que o ex-presidente "está focado e realmente fixado nas suas queixas, em si próprio e em dividir" o país.
"Ao contrário de Donald Trump, não acredito que as pessoas que discordam de mim sejam o inimigo", afirmou Harris. "Ele quer colocá-los na prisão. Vou dar-lhes um lugar à minha mesa. E prometo ser uma Presidente para todos os americanos. Para colocar sempre o país acima do partido e acima mim própria", assegurou.
Os conselheiros de Harris, muitos dos quais também aconselharam a campanha de Biden antes de este desistir, ainda acreditam que centrar a disputa em quem é Trump e em como é diferente será a mensagem mais forte para os eleitores.
"Ela já apresentou o seu caso, apresentou as provas. Ela está a apresentar um resumo esta noite e tem fé na sabedoria do júri", disse Michael Tyler, diretor de comunicação da campanha da antiga procuradora-geral da Califórnia.
Biden disse na terça-feira que não vai comparecer ao discurso de Harris porque o evento é "para ela", mas planeava vê-lo na televisão.
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