Irão. Economia no centro da campanha para as presidenciais

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Com a aproximação da eleição, a campanha destinada a eleger o substituto do Presidente Ebrahim Raisi, que morreu aos 63 anos num acidente de helicóptero em maio passado, registou um novo impulso.

Os seis candidatos participaram na noite de segunda-feira no primeiro dos cinco debates televisivos previstos, e durante quatro horas apresentaram as suas propostas para solucionar os problemas económicos, a preocupação central dos eleitores da República Islâmica.

Cerca de 85 milhões de iranianos estão confrontados com uma forte inflação, na ordem dos 40%, um elevado desemprego e a desvalorização do rial, a moeda nacional, em relação ao dólar.

O Governo tem insistido no bom registo do crescimento económico, fixado em 5,7% nos últimos 12 meses concluídos em março. E prevê um aumento para 8% durante o corrente ano, devido ao aumento das exportações de hidrocarbonetos.

"Prometo aos trabalhadores e pensionistas que reformaremos a economia" para combater "a inflação" e "preservar o poder de compra", declarou no debate Mohammad-Bagher Ghalibaf, atual presidente do parlamento e antigo presidente da câmara de Teerão.

Na ausência de sondagens, este candidato conservador é considerado pelos analistas como um dos três favoritos à eleição, a par de Said Jalili, antigo negociador do 'dossier' nuclear e conotado com a ala mais conservadora do regime, e de Masoud Pezeshkian, deputado de Tabriz (noroste) e antigo ministro da Saúde.

Este último candidato tem a tarefa de reanimar a corrente reformadora que nos últimos anos perdeu a influência política que detinha desde a revolução islâmica de 1979.

Nas presidenciais de 2021 -- facilmente garantidas por Ebrahim Raisi, o candidato do campo conservador e ultraconservador, apoiado pelo guia supremo iraniano, o 'ayatollah' Ali Khamenei -- nenhuma personalidade reformadora ou moderada foi autorizada a apresentar-se ao escrutínio.

Pezeshkian recebeu o apoio das principais personalidades moderadas e reformadoras, incluindo o antigo Presidente Mohammad Khatami (1997-2005) e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Javad Zarif, principal artesão do acordo sobre o nuclear concluído em 2015 com as grandes potências internacionais.

No decurso do debate televisivo, três dos seis candidatos, incluindo Ghalibaf e Pezeshkian, consideraram que a prioridade deve centrar-se no levantamento das sanções que atingem a economia iraniana desde a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo sobre o controverso programa nuclear de Teerão em 2018.

Washington impõe designadamente um embargo sobre os produtos petrolíferos, sobre a aeronáutica e sobre o setor mineiro. Também proíbe a utilização do dólar nas transações comerciais com o Irão.

Na perspetiva do candidato reformador, "é impossível atingir o objetivo de crescimento de 8%" sem restabelecer as relações económicas normais "com os outros países", incluindo o Ocidente, e que nos últimos anos desertaram do Irão.

Um outro candidato, o conservador Amir Hossein Ghazizadeh Hashemi, avaliou em "250 mil milhões de dólares [cerca de 233 mil milhões de euros]" o montante dos investimentos necessários, designadamente para modernizar os setores decisivos de produção de petróleo e gás.

Devido às sanções, "as transferências financeiras tornaram-se impossíveis e a nossa economia está bloqueada", lamentou Mostafa Pourmohammadi, o único clérigo candidato à presidência.

O ultraconservador presidente da câmara municipal de Teerão, Alireza Zakani, considerou, por sua vez, que "os problemas da economia iraniana não estão relacionados com as cruéis sanções americanas" e defendeu a "promoção da independência do país", designadamente afastar a dependência da economia iraniana do dólar.

No decurso dos três anos da sua presidência, Ebrahim Raisi promoveu uma política de abertura "a leste", designadamente pelo reforço dos laços económicos com a China e a Rússia, para além de uma reaproximação aos países árabes, com destaque para o rival saudita.

Em paralelo, as relações continuaram a degradar-se com os países ocidentais, em particular após o início do conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em outubro passado, com Teerão a afirmar-se como o primeiro apoio do movimento islamista palestiniano contra Telavive.

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