Lições das crises

2 dias atrás 26

A economia tem flutuações em torno do equilíbrio interno (desemprego baixo e inflação baixa) e do equilíbrio externo. Para corrigir estas perturbações, estão habitualmente disponíveis duas políticas: a orçamental e a monetário-cambial. Com a entrada no euro, a segunda deixou de estar disponível a nível nacional, pelo que a política orçamental ganhou muito maior importância e responsabilidade.

Há um aspecto irónico nos desequilíbrios económicos: os desequilíbrios internos (desemprego e/ou inflação elevados) são muito relevantes para os eleitores, a quem o desequilíbrio externo nada diz. No entanto, um défice externo é muito mais insustentável, porque pode levar ao corte de financiamento externo e paralisar a economia. Foi o que aconteceu em 1978, 1983 e 2011, em que tivemos que recorrer a auxílio externo.

A principal diferença entre estes pacotes de ajuda é que, nos dois primeiros (do FMI), a desvalorização fez o essencial do trabalho e, em 2011, esta já não estava disponível.

Nos três casos, as medidas tomadas foram drásticas, porque em todos eles se deixou chegar os desequilíbrios a níveis estratosféricos, em vez de os corrigir antes disso. Mas em 2011, o pacote negociado com a troika foi ainda mais penoso, porque a parte de leão do ajustamento coube à política orçamental, embora esta até nem seja a ferramenta ideal para corrigir um desequilíbrio externo.

Que lições podemos retirar da nossa experiência de crises? Em primeiro lugar, o equilíbrio externo continua a ser decisivo, mesmo dentro do euro. Em segundo lugar, é essencial que os desequilíbrios sejam corrigidos muito antes de chegarmos à beira do abismo. Em terceiro lugar, é fundamental termos uma política orçamental com alguma folga, porque é a única política macroeconómica que nos resta no euro. Em quarto lugar, é muito importante ter uma dívida pública controlada por várias razões: para não deixarmos um fardo excessivo às gerações mais novas; para enfrentarmos os desafios do Inverno demográfico, com a pressão sobre as despesas da saúde e das pensões; para haver margem para acudir aos mais vulneráreis e aos mais pobres nos momentos de crise.

É muito importante perceber que é por causa dos portugueses e não por causa das regras de Bruxelas que precisamos de contas públicas saudáveis. Os governos que não perceberam isto ou cumpriram mal ou fingiram que cumpriram as regras europeias. Os partidos da oposição também precisam de interiorizar isto, em vez de aprovar medidas populistas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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