Livro: “Portugal”

1 semana atrás 36

Miguel Torga foi um forte opositor do regime salazarista. Viu a sua obra censurada e viria, inclusivamente, a ser preso pela PIDE. Nesta obra, agora reeditada, mostra como vê os portugueses.

“Se há marca que enobreça o semelhante, é essa intangibilidade que o alentejano conserva e que deve em grande parte ao enquadramento. (…) Manteve-o vertical e sozinho, para que pudesse ver com nitidez o tamanho da sua sombra no chão. Modelou-o de forma que nenhuma força, por mais hostil, fosse capaz de lhe roubar a coragem, de lhe perverter o instinto, de lhe enfraquecer a razão.”

É com estas elogiosas palavras que o escritor e poeta transmontano Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, descreve os seus concidadãos alentejanos, moldados por uma geografia muito diferente das terras Fria e Quente, denominação dada pelas caraterísticas morfológicas e climáticas da região de onde era oriundo o autor (o apelido Torga é, aliás, uma homenagem à sua terra natal, pois é a designação local para a urze da montanha, abundante nas terras de Sabrosa).

Em “Portugal”, agora reeditado pela D. Quixote, Torga revela a sua interpretação da identidade nacional, comparando as gentes, os modos de ser e e as paisagens do Norte e do Sul.

Forte opositor do regime salazarista – viu a sua obra censurada e viria, inclusivamente, a ser preso pela PIDE – recebeu do país democrático o Prémio Camões, logo no ano da sua criação, em 1989. Um reconhecimento da sua obra que, como lamentou em 1935, o país não deu a um outro poeta, Fernando Pessoa, aquando da sua morte, descrita por Torga com esta bela frase: “Fui chorar com os pinheiros e as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era.”

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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