Mais do que um ‘check list’

2 meses atrás 55

Ter uma gestão verdadeiramente assente em práticas de sustentabilidade significa ter uma gestão humanista. Este tipo de gestão tem por base estratégias e práticas que visam a criação de um bem-estar humano sustentável através de atividades económicas que são favoráveis à vida e acrescentam valor à sociedade em geral.

Os apoiantes da gestão humanista defendem uma mudança de paradigma que se afasta das visões economicistas das atividades de mercado para uma abordagem humanista, que implique ir além da crítica sobre o presente para promover um discurso sobre alternativas de gestão que criem bem-estar às pessoas e valor à sociedade em geral.

De acordo com o Humanistic Management Center, uma gestão humanista tem por base três dimensões inter-relacionadas:

Em primeiro lugar, há que assegurar que o respeito incondicional pela dignidade de cada pessoa é a base da interação interpessoal, incluindo quaisquer interações que tenham lugar em contextos empresariais; Em segundo lugar, é necessário incorporar que a reflexão ética deve fazer parte integrante das decisões empresariais. Se se respeitar incondicionalmente a dignidade de todas as pessoas, é preciso aceitar que as decisões que têm impacte nos outros devem ser examinadas ao nível das suas consequências para todos os impactados. Por conseguinte, a gestão humanista critica os objetivos de gestão unidimensionais, como a maximização do lucro; Em terceiro lugar, a procura de legitimidade normativa para as atividades empresariais é crucial para a assunção de responsabilidades empresariais. Esta terceira dimensão permite alinhar as boas intenções com atividades que têm o potencial de produzir bons resultados.

A ligação entre a gestão humanista e a sustentabilidade é dada através dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma vez que estes preconizam que os países e as empresas devem contribuir para as Pessoas, Prosperidade, Planeta, Paz e Parcerias. Tendo em conta que ter uma estratégia de sustentabilidade significa contribuir para os ODS, então podemos afirmar que as empresas devem ter objetivos pluridimensionais e não apenas focados na maximização do lucro.

Ora, é exatamente isto que a gestão humanista defende. É por isso que cada vez mais acredito ser uma necessidade urgente ensinar-se os princípios da gestão humanista como base para a real aplicação das práticas de sustentabilidade.

Atualmente, muitas empresas estão focadas em check lists de ESG, ou seja, estão focadas em conseguir ter uma boa pontuação num determinado questionário solicitado pelo banco, pelo cliente, pelo parceiro, pelo cofinanciador ou investidor. É sempre possível obter uma boa pontuação num questionário, desde que se consigam criar as evidências que consubstanciam as respostas positivas. Obviamente que tal implica recursos humanos e financeiros, que também se conseguem obter quando a importância desse “questionário” é, de facto, relevante.

No entanto, implementar uma gestão sustentável é muito mais do que preencher um check list. É acreditar que a empresa tem um papel de agente de transformação na sociedade e que o seu objetivo não é a maximização do lucro, mas disponibilizar à sociedade produtos e serviços que possam promover o bem-estar das populações e, dessa forma, acrescentar valor à sociedade.

Não há nada de errado em ter lucro, em fazer e ter dinheiro. Não é isto que estou a afirmar. O que há de errado é o impacte negativo que se cria nos outros para se fazer e se ter dinheiro. É isso que está intrinsecamente errado.

Já Adam Smith afirmava que o ser humano era um ser ético que sentia prazer em ver a felicidade dos outros, e que tinha uma capacidade empreendedora que contribuía para o bem-estar coletivo. Adam Smith defendia que era a capacidade empreendedora de um ser ético que contribuía para o bem-estar coletivo, e não o individualismo de cada um sem restrições éticas como aprendemos na escola.

Temos, obviamente, de preencher os vários ckeck lists que vão surgindo no mundo da sustentabilidade. Mas devemos, também, investir no reforço da inteligência emocional necessária para que estes processos de mudança cultural empresarial e de liderança possam ser verdadeiramente consequentes.

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