Marido de grávida das Caldas recorda dia do aborto: "Dizia que ia morrer"

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O marido da grávida que sofreu um aborto espontâneo e a quem terá sido recusada assistência no hospital das Caldas da Rainha quebrou o silêncio sobre o incidente e revelou que foram os seguranças do estabelecimento que lhe indicaram que deveria ligar para o 112. Contou ainda que esta não foi a primeira vez que foi negado tratamento médico à mulher.

"Ela segurava a minha mão e dizia: 'está doendo, está doendo'. A um certo momento virou-se para mim e disse: 'eu acho que vou morrer", contou Shesley Souza, de nacionalidade brasileira, em declarações à TVI, acrescentando que a mulher "está muito mal" a nível psicológico.

Contou que a mulher começou a sentir dores na noite de domingo e, na manhã de segunda-feira, "o feto saiu" quando estava a tomar banho. "Nós preocupados, assustados, pegamos no feto, colocamos dentro de um saco e fomos diretos para o hospital", recordou.

"Chegamos lá por volta das 7h/7h10 e quando cheguei à portaria havia dois porteiros, que perguntaram se precisávamos de ajuda. Disse que sim, disse que a minha esposa estava ali grávida e aparentemente teve um aborto espontâneo. Estava a precisar de ser atendida porque estava a sangrar", afirmou Shesley Souza.

No entanto, os seguranças disseram-lhe que "o hospital não estava atender grávidas" e encaminharam-no à saída, dando-lhe indicação de que poderia ligar para o 112. E assim fez. 

Já no local, os Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha "começaram a questionar porque é que não iam atender" a mulher, "independentemente de estar fechado ou não". "Já nem era um caso de mulher grávida. O problema não era o bebé, já era a minha esposa", sublinhou.

Explicou então que a mulher foi encaminhada para um hospital de Coimbra, mas era "mais 1h ou 1h30 de carro" e "não havia hipótese" para fazer tal caminho com a mulher a sangrar.

"Depois disseram-me que uma médica ia descer para a ver no carro", acrescentou, questionando como é que a mulher poderia ser assistida no carro, uma vez que "não havia equipamentos para dar suporte". 

Esta não foi a primeira vez que a mulher, grávida de quase quatro meses, não foi atendida num estabelecimento de saúde em Portugal. Segundo contou o marido, no passado dia 10 de julho, cerca de um mês antes do aborto espontâneo, deslocaram-se ao centro de saúde da Lourinhã, mas a mulher não foi atendida porque, apesar de estar em Portugal há dois anos, não tem autorização de residência.

"Nem sabia como estava o bebé. Se tivesse feito a primeira consulta como deve ser, o médico iria saber se estava tudo bem com a gestação. Se era uma gestação de risco. Nem isso tivemos direito de saber", lamentou Shesley Souza.

Afinal, o que se passou na urgência das Caldas da Rainha?

Na segunda-feira, uma mulher, com hemorragias após sofrer um aborto espontâneo, viu negada a assistência no hospital de Caldas da Rainha, cuja urgência obstétrica estava encerrada. Segundo o comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, a vítima foi apenas foi atendida após insistência do Centro Operacional de Doentes Urgentes (CODU) e dos bombeiros.

A notícia foi avançada pela CNN Portugal e confirmada pelo Notícias ao Minuto junto do comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, que revelou que a mulher chegou ao hospital pelos próprios meios, onde lhe disseram que não a podiam admitir. 

À porta do hospital, a perder sangue e com o feto num saco, a mulher teve de ligar para o 112, que acionou os bombeiros. O pedido de ajuda foi feito ao CODU e pelas 07h21 uma ambulância da corporação foi acionada. "À chegada deparámo-nos com a mulher suada, a chorar, com muitas dores e uma forte hemorragia", revela o comandante, explicando que os bombeiros disseram ao marido para ir pedir ajuda dentro do hospital, embora o homem já o tivesse feito assim que chegaram.

A mulher de 31 anos, que estava grávida de três meses, só foi atendida depois de os bombeiros insistirem que levá-la para Coimbra, numa viagem que demoraria mais de uma hora, seria impossível

Em comunicado, a ULS Oeste confirmou que a urgência de ginecologia e obstetrícia de Caldas da Rainha "não estava a funcionar", mas negou que a unidade hospitalar tenha recusado atender a utente.

Confrontado com este esclarecimento, o comandante da corporação dos bombeiros de Caldas da Rainha acusou a ULS Oeste de "faltar à verdade", argumentando que "se a urgência estava fechada, não há registo na admissão de doentes".

Na terça-feira, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) anunciou que "o quadro das suas atribuições instaurou um processo de avaliação a este caso", acrescentando que irá "cooperar na investigação" com a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

Também em comunicado, a IGAS confirmou que abriu um "processo de inquérito aos factos relacionados com a assistência prestada a uma utente grávida na manhã do dia 5 de agosto de 2024, na unidade hospitalar de Caldas da Rainha, integrado na Unidade Local de Saúde [ULS] do Oeste".

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