Mercedes-Benz SLR McLaren é ainda um supercarro incompreendido. É justo?

9 meses atrás 132

Será sempre espetacular, mas o Mercedes-Benz SLR McLaren nunca foi colocado num pedestal como outros supercarros da altura. Fama injusta?

Este artigo faz parte do Especial Calendário do Advento 2023. Neste Natal dê crédito aos seus sonhos com o Banco Credibom.

Divisivo, incompreendido e espetacular em partes iguais é o que tem continuado a definir o Mercedes-Benz SLR McLaren neste ano que celebra o seu 20.º aniversário (à data de publicação deste artigo).

O desenho continua a ser tão dramático — na minha opinião, a roçar a caricatura —, como o 5.5 V8 Kompressor da AMG continua a ser épico, assim como os seus atributos dinâmicos mantém-se… dúbios, sobretudo quando os comparamos com os contemporâneos Ferrari Enzo, Pagani Zonda, Porsche Carrera GT ou até mesmo o excessivo Bugatti Veyron.

Mercedes SLR McLaren visto de cima com portas abertas© McLaren

O SLR hoje como ontem parece estar em terra de ninguém. Por um lado foi um superdesportivo de construção exótica em fibra de carbono, contudo o motor estava lá à frente como um tradicional GT — ainda que meio metro atrás do eixo dianteiro —; só que como GT deixava muito a desejar. Era simplesmente demasiado hardcore para assumir esse papel.

Tudo isto combinado com um preço considerado excessivo quando era novo — sim, até um supercarro pode ser demasiado caro —, não fizeram favores ao SLR. Das 3500 unidades inicialmente previstas, a McLaren só produziria 2157. Garantidamente, não foi o sucesso esperado.

Agora, 20 anos depois, continuamos a celebrar o Mercedes-Benz SLR McLaren mais pelos seus defeitos do que pelas suas virtudes.

McLaren, o segundo ato

Em retrospetiva não deixa de surpreender o resultado final do projeto que daria origem ao SLR. Afinal o que poderia correr mal num projeto conjunto entre a Mercedes-Benz e a McLaren (campeões de F1 em 1998 e 1999), com Gordon Murray (pai do McLaren F1) a liderar o desenvolvimento?

© McLaren Celebração do 20.º aniversário do Mercedes-Benz SLR McLaren na casa da McLaren em Woking. A liderar o grupo, o mais recente SLR HDK

Como se veio a constatar… muita coisa. Essencialmente, os princípios que guiavam Gordon Murray entraram em choque com os requisitos da Mercedes-Benz.

Murray ainda hoje é um dos maiores críticos do SLR, que foi o segundo e último carro de estrada que desenvolveu na McLaren.

Dizia que era uma máquina comprometida, com peso a mais — foi durante muitos anos o carro em fibra de carbono mais pesado do mundo —, tinha a configuração errada (motor dianteiro), assim como a transmissão (automática de cinco velocidades, lenta e inadequada), e o interior tinha luxo a mais.

Dito isto, Murray ainda conseguiu dar ao SLR uma aerodinâmica sofisticada (fundo plano e elementos ativos) e inovar na construção em fibra de carbono (viabilizou aumentos significativos de produção).

Este último aspeto foi fundamental para o nascimento da futura McLaren Cars (hoje McLaren Automotive), que tem na monocoque em carbono dos seus modelos uma das características-chave que a definem desde o início.

© McLaren Pode ostentar a estrela no seu nariz, mas o SLR é, acima de tudo, um dos capítulos mais importantes da história da McLaren como construtor automóvel

Ainda que o Mercedes-Benz SLR McLaren não tenha sido a razão, a verdade é que Gordon Murray sairia da McLaren um ano após o lançamento do SLR, abrindo, algum tempo depois, a sua própria empresa, Gordon Murray Design… e o resto é história.

SLR nunca parou de evoluir

Apesar do estatuto do SLR, longe de ser o mais desejado, a verdade é que teve sempre fãs fervorosos, fossem os seus proprietários ou não. A própria McLaren não desistiu da sua criação, mesmo quando a produção artesanal do supercarro terminou no McLaren Technology Center, em Woking, em 2010.

Nesse mesmo ano nascia a McLaren Special Operations (MSO) e o SLR estava prestes a ganhar uma espécie de segunda vida.

O SLR McLaren acabou por ser um dos primeiros projetos da MSO, que aproveitou a oportunidade para transformar alguns dos «errados» em «certos». Nascia, assim, o McLaren Edition SLR, limitado a 25 unidades, e introduzia uma série de melhoramentos e modificações.

A começar na aerodinâmica revista (novo splitter, entradas laterais, asa traseira e difusor), passando pela instalação de rodas novas, mais leves, e terminando em necessárias revisões à suspensão e direção, que foram sempre muito criticadas.

 SLR 722 GT, SLR HDK, McLaren Edition SLR e SLR 722 Stirling Moss© McLaren Foto de famíla (da esq. para a dir.): SLR 722 GT, SLR HDK, McLaren SLR by MSO e SLR 722 Stirling Moss

Não satisfeita — há sempre espaço para melhorar… —, a MSO deu nova atenção ao SLR em 2019, originando o SLR McLaren by MSO. Mais «discreto» que o McLaren Edition SLR, introduziu um novo pacote aerodinâmico e até perdeu alguns quilos, ao mesmo tempo que o interior era enriquecido com novos revestimentos mais luxuosos. Não se ficou por aqui…

Em 2022, 12 anos após ter deixado de ser produzido, a MSO voltaria à carga com o SLR McLaren HDK (High Downforce Kit), que é, sem dúvida, o mais extravagante destes «novos» SLR.

Na sua essência, era uma conversão do SLR de estrada para o tornar visualmente idêntico ao SLR 722 GT de competição. Uma proposta que já foi alvo da nossa atenção:

Para sempre subapreciado e subvalorizado?

Apesar da dedicação da McLaren e dos seus donos, a verdade é que o SLR continua a ser algo subapreciado, a vários níveis. Basta olhar para o seu valor de mercado.

Mercedes-Benz SLR 722 Stirling Moss com outros SLR e 300 SLR ao fundo© Mercedes-Benz Em primeiro plano, o Mercedes-Benz SLR 722 Stirling Moss e lá ao fundo um dos 300 SLR originais

Enquanto os Enzo, Zonda e Carrera GT deste mundo são transacionados com valores de sete dígitos, o SLR fica-se pelas centenas de milhares de euros (entre 290 mil e 815 mil euros)… Uma «pechincha» quando comparado com os seus contemporâneos.

Será que o reconhecimento e apreciação, seja monetária, histórica ou simbólica, do “desportivo da Mercedes-Benz que «respirava» pela estrela” — como o Guilherme Costa tão bem o definiu —, evoluirá para novos patamares?

Este artigo faz parte do Especial Calendário do Advento 2023. Neste Natal dê crédito aos seus sonhos com o Banco Credibom.

Ler artigo completo