Acordar, olhar para o calendário e pensar: tanto tempo já passou depois daquele momento... Não há adepto, treinador, jogador, jornalista, árbitro, dirigente que, ao rever as imagens da trágica morte de Miki Feher, não solte um arrepio, não encharque os olhos, não suspire! qDe repente, acontece algo que ninguém estava à espera e do qual eu nunca tinha ouvido falar, sequer Fernando Aguiar @Getty / LUIS VIEIRA 25 de janeiro, noite em Guimarães, frio e chuva brindavam um intenso, mas mal jogado, Vitória SC x Benfica. Fehér estava a jogar pouco, vinha de apenas uma participação nos anteriores quatro desafios para o campeonato, só que Nuno Gomes não pôde ir a jogo e, face ao nulo, o avançado foi a primeira opção de Camacho, entrando ao minuto 58 para o lugar de João Pereira. «Todos os anos, por esta altura, passa-me sempre a mesma coisa pela cabeça: marcar o golo e logo a seguir o Miklos cair para o lado. Logo na hora tive aquele feeling de que algo estava mesmo muito mal», referiu, ao iniciar a conversa com o zerozero, relativamente a um tema que mostrou recordar com lucidez. @Getty / LUIS VIEIRA O desespero foi visível, no estádio e na televisão, mas prolongou-se pelas horas seguintes, numa apreensão lógica de quem sentia o palpitar de uma catástrofe a chegar. Angústia, medo, ansiedade, pânico e um balneário rasgado por gritantes ruídos de... silêncio. @Getty / MIGUEL RIOPA Fernando Aguiar ainda vai estando ligando, como não podia deixar de ser, ao futebol. E Fehér continua presente... «Confesso que, a partir daí, fiquei um bocado abalado, com medo que alguma coisa me acontecesse, estava sempre com a mão na pulsação. Ainda hoje, quando há um treino mais forçado, acabo a pensar nisso e a controlar a respiração para me certificar que está tudo bem comigo», confessou. @Getty / MIGUEL RIOPA «Éramos um grupo forte e amigo, mas aquilo tornou-nos ainda mais unidos e queríamos ganhar alguma coisa para simbolizar aquela época. Acabámos por ganhar a Taça de Portugal e a união foi realmente enorme, tanto que ainda hoje falo frequentemente com muitos dos meus colegas da altura», considerou o médio luso-canadiano. Somava 24 anos e meio (faria 25 em julho) e tinha chegado a Portugal muito cedo, para o FC Porto. Chegou a comemorar o Penta, só que esteve noutras paragens (Salgueiros e SC Braga) para ter mais oportunidades e acabou por sair dos dragões em litígio. @Getty / MIGUEL RIOPA O espaço ia sendo trilhado a pulso, por causa da forte concorrência, mas Miklos Fehér conseguiria a afirmação, segundo a convicção de Fernando Aguiar: «O Fehér tinha uma concorrência bastante forte. O Sokota estava muito bem naquela altura, muito forte e agressivo, a quem não era fácil tirar o lugar. O Nuno Gomes era um excelente avançado. Contudo, o Fehér era novo e estava a aparecer, não tenho dúvidas de que seria um avançado que se iria afirmar no futebol português». E, para além do jogador, que pessoa se perdeu? «Não era uma pessoa de muita conversa. Era muito reservado e gostava de estar no seu cantinho. Apesar de gostar de entrar nas brincadeiras, não era uma pessoa extrovertida, mas toda a gente gostava dele». @Getty / - Até sempre, Miklos Fehér! [Artigo originalmente publicado a 25 de janeiro de 2014]Tragédia que fortaleceu união, mas que não sai da memória
Fehér, o reservado, estava a aparecer