Na cidade dos arcebispos a triste final dos pobres

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Provavelmente, o Braga-FC Porto, este sábado às 20h30, não servirá para nada. O que é ainda mais triste.

Não, há muito tempo que não estamos habituados a ver o FC Porto lutar até à última jornada do campeonato para evitar ser o quarto classificado de uma prova tão pobre e tão pouco competitiva como é esta bisonha principal competição nacional que ao longo de todos os anos da sua história só conseguiu celebrar cinco campeões, sendo dois deles por uma única vez, Belenenses e Boavista. Ainda sou de um tempo em que clubes como a Académica, o Vitória de Setúbal ou, precisamente, Belenenses e Boavista, conseguiam lutar bravamente para ficar entre os três primeiros classificados e, aí sim, relegando um dos grandes para o quarto posto. Também passámos, não assim há tantos anos, pelas quebras monumentais de Sporting e Benfica, incapazes sequer de se qualificarem para as mais fracas das competições da Europa. Mas o FC Porto? Memórias que o tempo leva. Só a conjugação de uma administração desastrosa (para não lhe chamar criminosa) que estava à vista de todos os que teimam em não ver o futebol pelas lentes de um fanatismo bacoco, e de uma cada vez menor capacidade de negociação, ligada a dívidas que os relatórios de contas punham às claras todas as épocas, podem ter conduzido os azuis e brancos a este estado de penitência que é o espelho dessa cegueira e da paixão por um homem pequenino que quiseram à força encaixar no plinto de uma estátua que o preservasse ainda em vida como a estátua de um fundador da pátria.

Braga e FC Porto decidem amanhã, na Cidade dos Arcebispos, a final dos pobres que garantirá a um o seu terceiro lugar seguido no campeonato nacional ou a outro a possibilidade de cair para um quarto lugar ao qual não está decididamente habituado. Recorde-se, ao correr da pena, que a pior classificação de sempre dos portistas na prova maior do futebol português remete para a época de 1969/70 na qual viu ficarem na sua frente oito equipas: Sporting, Benfica, V. Setúbal, Barreirense, V. Guimarães, Varzim, Belenenses e CUF. Lembranças que anos e anos de triunfos os adeptos esqueceram e com toda a legitimidade.

Aceitemos igualmente que o Braga-FC Porto pode não servir para mais nada se não garantir a presença do Braga na Liga Europa pois os dragões ainda têm essa porta em aberto através da Taça de Portugal, com toda a pujança se baterem o Sporting no Jamor, um pouco mais envergonhados se tiverem, em caso de derrota, de aproveitar o lugar em aberto na competição que o Sporting deixará por já ser campeão e escancarado as portas da Liga dos Campeões por mérito próprio. Mas, e o orgulho? Em que lugar fica o orgulho? Sobretudo para um conjunto que Sérgio Conceição tem construído e solidificado em redor da honra de defender o emblema que é seu de coração.

O menos culpado

Tenha cada um a opinião sobre o treinador do FC Porto, revele cada qual a sua embirração por ele, caiam, se calhar numa maioria significativa, sobre os seus comportamentos muitas vezes injustificáveis e que só são admitidos por árbitros cobardes exactamente pela posição que ocupa no clube que ocupa. Não ponho nada disso em causa. Critiquei-o sempre que tive de criticar sem que nada impeça a noção objetiva do que escrevo porque nada me move nem moveu alguma vez pessoalmente contra Sérgio Conceição, era o que faltava! Mas, na altura de fazer as contas finais desta época em que o Sporting foi, como já escrevi e reescrevi aqui, um campeão para lá da aritmética, tão claramente superior aos seus adversários directos, também é justo que se diga que a desastrada época do FC Porto (que pouco consolo terá tido na eliminação à justa pelo Arsenal na Liga dos Campeões e naqueles 5-0 de raiva sobre um Benfica a cair da tripeça como um velho paralítico), não pode ser atribuída ao seu responsável técnico. Conceição fez o que pôde e o que não pôde com as fracas armas que lhe puseram em mãos. Inventou quando teve de inventar, descobriu jogadores que têm futuro e outros que serviram apenas para tapar buracos momentâneos, deu sempre o máximo das suas capacidades a uma direção que há três anos o tem desfalcado de  peças fundamentais sem lhe passar cartão, exigindo, exigindo e exigindo, somente exigindo. Aguentou com essa exigência e não a atirou para trás das costas (embora não calasse um ou outro momento de natural revolta). Respeito a coragem. O futebol é feito de homens, jogado por homens, treinado por homens, todos com os defeitos e com as virtudes próprias da raça humana. Sou capaz de me opor a uma falta de educação, de vituperar uma ordinarice, de desprezar qualquer tentativa de violência injustificável numa competição que já tem violência, falta de edução e ordinarice a mais para que a possamos ver como uma das competições a que a Europa mereça prestar atenção. Mas também sou abertamente contra a ingratidão e contra a cobardia daqueles que atiram as pedras e escondem a mão. Aconteça o que acontecer a este FC_Porto na fina dos pobres da Cidade dos Arcebispos, os portistas devem guardar a memória de um treinador que lhes deu muito mais do que ele mesmo tinha para dar. E mais do que muitos deles mereciam. Muito mais de que muitos mereciam.

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