OPINIÃO | Os beijos de Bacci são os melhores

3 dias atrás 32

«Campo Pelado» é o espaço de opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Uma homenagem ao futebol mais puro, mais natural, onde o prazer da camaradagem é a única voz de comando. «Campo Pelado».

* Chefe de Redação

Bacci. Na belíssima língua italiana, beijos.

No plural. Muitos, imensos, satisfatórios. Apaziguadores.  

Imagem feliz, ainda que platónica. Da boca de Cristiano, treinador e condutor de homens, sai a respiração assistida fundamental para a sobrevivência desportiva do Boavista.

Rúben Amorim, claro; Rui Borges, porque não? Mas não estará Bacci, o dos beijos, a ser o treinador com o mais competente trabalho neste arranque de campeonato?

Face fechada, circunspecta, alérgica a sorrisos desnecessários.

Palavras diretas, simples, objetivas. No balneário e na sala de imprensa.

Eficácia made in Italy, um exemplar utilitário, um Fiat mais do que confiável.

De Viareggio, lá no Norte da idílica Toscana, até ao Bessa.

Percurso raro, paragens no mesmo balneário de Francesco Totti em Roma e sob o sol de Olhão, de 2014 a 2017, num tirocínio sobre Portugal e os portugueses.

Antigo defesa central de maneiras duras, Cristiano Bacci transporta o lema de fazer muito com pouco. Sem queixumes, sem lamúrias, obcecado apenas no resultado.

Outro, muito naturalmente, já teria baixado os braços. O fosso financeiro ameaça submergir o Boavista, mas para além do caos nas contas há eventos do foro paranormal por analisar.

Perder dois guarda-redes no mesmo dia, ambos com lesões ligamentares no joelho? Impossível, mas não neste Boavista.

Ter o mais talentoso dos médios (Reisinho) atirado para o departamento médico, no mais sensível dos momentos? Aconteceu, claro.

Devolver os dois únicos reforços (Bruninho e Alhassan), por impossibilidade de inscrever ambos? Assim foi.

Sem nomes novos, sem estabilidade orçamental, Cristiano Bacci recorre às ferramentas óbvias: a formação axadrezada, a ligação aos adeptos, o peso do emblema, a responsabilidade histórica.

Cinco pontos em cinco jogos, sensação até de alguma injustiça. O 0-0 na receção ao Estoril teve tudo para deixar os três pontos no Bessa e as derrotas magras em Famalicão e na receção ao SC Braga podiam bem ter dado dois pontos.

Cristiano Bacci, o meu treinador favorito neste arranque de Liga.

Não sei se é fazedor de milagres, mas vendedor da banha da cobra já percebi não ser.

Um tipo a sério, um durão, um allenatore a fazer lembrar os dourados 80’s da Serie A italiana - a década de Van Damme, Stallone, Lundgren e Schwarzenegger, bad boys em Hollywood.

Todos verdadeiros artistas, nenhum capaz de beijar como Bacci beija os boavisteiros.

PS: na escassez, o treinador italiano aceita a obrigação de encontrar caminhos. Novos caminhos. E surgem nomes interessantes no Bessa, a pedir mais minutos de forma gradual, espaço e algum tempo para crescer em competição. Sem João Gonçalves, há um menino de 17 anos na baliza (Tomé Sousa); na defesa, emerge um rapaz (Pedro Gomes) que nem no Barreirense era titular; na direita, atenção à raça e à velocidade de Gonçalo Almeida; no meio, a qualidade de Joel Silva não engana e a fibra de Marco Ribeiro deixa boas promessas; no ataque, Tiago Machado tem ADN de qualidade e João Barros possui mobilidade e conforto na decisão. Há vida no Boavista, apesar dos disparates criminosos de gestões passadas. 

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